Um relato
emocionante sobre as violências sofridas em um relacionamento abusivo, a
reconstrução da vida e realização de trabalho de conscientização sobre a
prevenção à violência doméstica foi prestado por Bárbara Penna de Moraes Souza
e Robson de Paula, na palestra Um Sorriso a Cada Luta, ministrada durante o
seminário Lei Maria da Penha – 13 Anos, Relatos de Vida: A Volta por Cima Após
Situações de Violência, realizado no auditório do Ministério Público de Goiás.
Bárbara Penna foi vítima de violência doméstica em novembro de 2013.
O ex-marido
de Bárbara Penna a agrediu fisicamente, ateou fogo em seu corpo e a atirou pela
janela do apartamento em que moravam, que fica no terceiro andar de um prédio
localizado em Porto Alegre (RS). Os dois filhos do casal e um vizinho que
tentou socorrê-los do incêndio morreram. Ela ficou internada, fez mais de 200
cirurgias plásticas – teve 40% do corpo queimado – e ortopédicas e hoje caminha
com a ajuda de uma bengala.
Depois da
tragédia familiar, Bárbara Penna conheceu Robson de Paula. Os dois se casaram e
tiveram uma filha – que está com 3 anos. O casal decidiu criar o Instituto
Bárbara Penna – Uma Luz para a Proteção da Mulher Vítima de Violência
Doméstica, que dá apoio a vítimas deste tipo de crime e realiza trabalho de
prevenção e conscientização sobre os direitos femininos.
Uma das
situações mais constrangedoras para Bárbara Penna foi na primeira audiência
realizada na Justiça, quando encarou o agressor pela primeira vez após a
tragédia familiar. Ela relatou que teve o quadro de depressão agravado e tentou
suicídio. Neste dia, no entanto, ao ser levada ao hospital para receber
atendimento médico, descobriu estar grávida. O ex-marido vai a júri popular no
início do mês de setembro.
“Muitas
mulheres estão perdendo tempo em um relacionamento abusivo porque não sabem
sobre os seus direitos, muitas vezes por vergonha de contar a experiência
abusiva que estão tendo”, afirmou Bárbara Penna. Segundo ela, as agressões
físicas atingem não somente a vítima direta, mas toda a sociedade,
principalmente pela forma dissimulada como se apresenta. Os primeiros sintomas
são o ciúme, o controle das atividades, a destruição de objetos e de objetivos
de vida.
“A violência
se manifesta de forma cíclica. Se apresenta como explosão, depois a
demonstração de arrependimento e, em seguida, a lua de mel. O final deste ciclo
sempre é a tragédia, a morte”, disse Bárbara Penna. Segundo ela, família,
amigos e vizinhos não podem ficar em silêncio, devem interferir, denunciar e
tomar atitudes para preservar a vida da vítima.
Robson de
Paula mostrou o trabalho que vem sendo realizado pelo Instituto Bárbara Penna.
Ele explicou que conscientização, coragem para enfrentar a situação de
violência e atitude para denunciar podem salvar vidas. Para ele, a Lei Maria da
Penha é importante para barrar o ciclo de violência doméstica e que é preciso
fortalecer a rede de proteção à mulher, com a criação de casas de abrigo,
treinamento para que policiais militares e civis, defensores públicos e demais
órgãos que tratam do tema possam realizar o atendimento de forma adequada.
“São
atendimentos primordiais para a mulher vítima de violência, o acolhimento e
direcionamento pelos órgãos especializados, para que ela possa ter condições de
sair de um relacionamento abusivo. As medidas protetivas precisam ser
concedidas com maior rapidez e, principalmente, é necessário o despertar da
sociedade para a gravidade da situação que a mulher está vivendo dentro de um
relacionamento abusivo”, afirmou.
As
atividades vespertinas do evento foram concluídas com a realização de uma roda
de conversa sobre a temática Transformações para Romper o Ciclo de Violência
Vivido: Meios de se Sustentar e Alternativas Econômicas, seguida de debates.
O seminário
é uma realização da Área de Políticas Públicas e Direitos Humanos do MP-GO, do
Núcleo de Gênero e da Escola Superior do MP (Esump), tendo sido voltado para
integrantes do MP-GO (membros e servidores), da rede de atendimento às
mulheres, da Defensoria Pública, do Poder Judiciário, estudantes e a sociedade
civil. Mais de 250 estiveram presentes às palestras e debates.
Foram
parceiros na realização do evento a Prefeitura de Goiânia (Políticas para as
Mulheres); Rede Goiana da Mulher Empreendedora; Defensoria Pública (Núcleo
Especializado de Defesa e Promoção dos Direitos da Mulher- Nudem); Grupo de
Mulheres Negras no Cerrado (Dandara); Conselho de Segurança da Mulher (Conseg);
Polícia Civil; da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência
Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça de Goiás e Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Social (Seds-GO).
Fonte: MPGO
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