Detalhes da investigação: Escuta telefônica identifica ligações do ex-prefeito de São Domingos/GO, Gervásio com o ex-governador do DF Joaquim Roriz.
Essa é a
segunda parte de três que o blog está publicando, nessa parte o jornal O
Popular revela detalhes da investigação, que acabou na cassação do mandato da
prefeita de São Domingos/GO.
INVESTIGAÇÕES
O Ministério
Público desenvolveu uma investigação a respeito de crimes contra a administração
pública em 2012 com uma interceptação telefônica em andamento, autorizada pela
Justiça Eleitoral. A operação coincidiu com o início de campanha e também foram
autorizadas escutas do ex-prefeito Gervásio e do vereador João de Lú (PDT).
Foram flagrados diálogos até do ex-governador do Distrito Federal, Joaquim
Roriz. O processo foi iniciado pelo promotor Douglas Chegury.
“A parti daí
descobrimos como todo o esquema funcionava. Identificamos transporte ilegal de
eleitores, compra de votos, doação de combustível, diálogos comprometedores,
enfim, todo o tipo de irregularidade que se possa imaginar. As provas são muito
robustas e a juíza entendeu que era motivo de cassação da prefeito e do seu
vice, além da inelegibilidade de ambos pro oito anos”, afirmou Chegury.
O vereador
João de Lú, um dos interceptadores em ligações telefônicas, classifica o atual
momento político de São Domingos, como “delicado”.
“Só quem
sofre com isso são os moradores, porque entra um prefeito, que é cassado, e o
presidente da câmara assume, com um mês, dois meses o prefeito volta por meio
de liminar. Então, só quem perde com isso é a população. Estamos sem entender e
sem saber o que fazer mais. Nosso grupo político já esta pensando, caso haja
novas eleições, de desistir de lançar candidato, porque só assim acredito que o
Ministério Público vai ficar satisfeito”.
Segundo ele
a compra de votos citada no processo “é uma farsa”. Em momento algum nossa
prefeita e o vice são interceptados em ligações. Tem nome de varias pessoas,
tem o meu, do esposo dela, de vários moradores, vários outros vereadores, mas
não tem alguém falando: “Vem aqui que vou te dar dinheiro para você votar em
Etélia. Ninguém pode ser julgado por presunção. São Domingos é uma cidade
carente, a população depende do político para um transporte, pede um gás. Todo
vereador e político faz esse papel, mas não para a compra de voto” Justifica.
Interceptações telefônicas envolvem
políticos
Além de
Joaquim Roriz, outros diálogos foram flagrados na investigação. Foram
interceptadas conversas com o deputado federal e candidato a reeleição Pedro
Chaves (PMDB), que é natural de São Domingos, com o prefeito cassado de
Planaltina de Goiás, José Olinto Neto (PSC), com o prefeito de Posse/GO, José
Gouveia de Araújo (PSB), com prefeito de Iaciara, Adão Luiz Ribeiro, e com o
candidato a deputado estadual Fabrício Paiva (PRTB).
Na conversa
entre Gervásio e Roriz, eles falam sobre um suposto apoio financeiro para a
campanha. “A menina foi buscar um talão de cheque e o pessoal do banco
recomendo que somente fosse emitido cheque na próxima semana”, disse o
ex-governador do DF.
Depois ele
pergunta para Gervásio se o mesmo já havia sido depositado. “Não, pois é
somente para o dia 13 de agosto”, responde. O ex-prefeito, também diz que o
cheque foi “pré-datado sem problema e que trocou no posto de gasolina cujo proprietário
é seu parente”. No final, Gervásio agradece a ajuda e ainda convida Roriz para
a posse. “Salvou o pessoal”, conclui.
Questionado
sobre o diálogo por telefone, Gervásio negou que tenha recebido o cheque de Roriz.
Ele confirmou a existência do diálogo e da amizade com o ex-governador do DF.
“Sou funcionário do Senado há 28 anos e ele sempre me ajuda, somos vizinhos de
fazenda. Quando minha esposa saiu candidata falei de uma ajuda. Ele me falou
que ia me passar um cheque pré-datado de R$ 10 mil para agosto. Só que ele teve
problema de saúde e não houve nada. E se tivesse me dado, iria fazer a doação
de forma legal”, defende-se.
No entanto,
em nova escuta, Gervásio confirma o recebimento do cheque para outra pessoa.
“É do
próprio Joaquim Roriz”, diz. Segundo o promotor Douglas Chegury, o valor que
seria repassado para a campanha pelo ex-governador do DF era de R$ 30 mil. “Eu
tenho a impressão que em algum momento do diálogo o Roriz se arrependeu de
passar esse valor em cheque. Só que o Gervásio foi esperto e falou que já tinha
trocado. Também não acredito em interesse do Roriz pela política de São
Domingos”, afirma. Em outro diálogo, Gervásio pergunta para uma pessoa não identificada
se não conseguiria R$ 30 mil com Fabrício Paiva, para pagamento de dívida de
campanha, de cerca de R$ 100 mil. A resposta foi que ele tentaria localizar o
candidato. No dia seguinte, veio o retorno. “Ele disse que o Júnior (Friboi)
está fora de Goiânia e que Fabrício está tentando outro jeito, fora do escritório,
para conseguir esses R$ 30 mil”. Fabrício também veio para São Domingos e discursou
na posse de Etélia. “Não se sabe se teve essa doação”, afirma Douglas.
Segundo o
promotor, em outra interceptação, Gervásio conversa sobre um depósito no valor de
R$ 3.200 para o pagamento de uma van, que foi utilizada para o transporte
ilegal de eleitores. O dinheiro, era do prefeito de Iaciara, Adão Luiz Ribeiro,
foi transferido para a conta do primo de Gervásio, Deusmar Gonçalves. No
entanto, ocorreu um erro durante a digitação do valor e foram depositados R$ 32
mil. “Depois disso, o primo dele não queria devolver a diferença e eles
conseguiram recuperar apenas R$ 16 mil”, afirma Douglas.
Perguntado
sobre um possível processo judicial contra os interceptados, o promotor disse
que não é possível fazer nada quanto à questão eleitoral. “Por que o prazo era
curto. Claro que eles estão sujeitos, no meu entendimento, a responder por
improbidade administrativa. Até por dano moral coletivo, porque, bem ou mal,
eles foram responsáveis diretos por termos outra eleição”, afirmou.
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