Uma
manifestação na manhã de sexta-feira (27) bloqueou por quase cinco horas o
tráfego na rodovia BR-020, no Km 89, município de Vila Boa. Eram
ex-funcionários de uma usina instalada na cidade, que reclamavam de salários e
rescisões de contrato não pagos pela empresa.
Cerca de 150
pessoas, sendo 50 ex-trabalhadores da Companhia Bioenergética Brasileira (CBB),
e 100 da comunidade que os apoiavam, segundo os organizadores, e apenas 20, de
acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), participaram do protesto.
A maioria
era mulheres, que trabalham na irrigação e na indústria, em turno dobrado de 12
horas. A usina, que gera até mil empregos e produz álcool, fica a 25
quilômetros da sede do município.
A PRF, posto
de Alvorada do Norte, foi chamada às 7h30 e desobstruiu a via, mediante acordo,
por volta das 10h40. De acordo com o inspetor Eduardo Alves, o ato gerou
engarrafamento de cerca de quatro quilômetros, no dois sentidos da via.
Segundo o presidente
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Vila Boa, Anísio Pereira dos Santos,
57 anos, tudo foi feito, por parte dos operários, para que não se chegasse a
esse ponto. "Há dias, vínhamos tentando arrumar uma saída. Fizemos várias
reuniões, cobramos seguidas promessas de pagamento, e os ex-funcionários não
acreditam mais nessas promessas: ´paga hoje, paga amanhã´. Daí, ontem
[quinta-feira, 26], resolveram protestar. O que eles querem é receber, porque
pagam aluguel, pagam luz, pagam água, pagam mercado", diz.
A
desobstrução da rodovia aconteceu depois de acordo selado entre um diretor da
empresa, a PRF, que ajudou a conduzir o processo, os trabalhadores e o
Sindicato, que elaborou uma pauta e a apresentará à empresa na segunda-feira
(30).
Na ocasião,
os ex-funcionários esperam que seja anunciado o pagamento imediato de um mês de
salário e o contrato de safra. "Mesmo porque, se isso não acontecer, não
temos condição de segurar o povo. Vai acontecer de novo. Não sei aonde, se na
usina, se na BR ou se aqui na cidade, mas, se não pagar, novo protesto vai
acontecer", informa Anísio.
"Confiamos
na palavra deles [da empresa], trabalhamos de sol a sol, à noite, debaixo de
chuva, e agora, que fomos dispensados, eles não pagam, e temos filhos para
cuidar, aluguel para pagar e queremos receber", disse Gleice Lima da
Costa, 28 anos, que era operadora de motor na usina. "Só queremos os
nossos direitos, não queremos atrapalhar ninguém, mas também não queremos ser
prejudicadas".
Luísa
Ferreira de Araújo, 33 anos, mãe de cinco filhos, disse que não teve outra
saída, se não a manifestação. "Saía de casa às 17h30, chegava no outro
dia, às 9h30 da manhã, deixava meus filhos trancados em casa, para agora não
receber? Estou com água e luz cortadas. Na minha dispensa só tem arroz para
meus filhos. Eles estão empurrando a gente com a barriga, já deram três datas
para pagar, e nada", afirmou.
Ex-trabalhador
da usina, Marlon Medeiros de Sousa, 26 anos, que apoiou o protesto de sexta e
participou de outra manifestação, no dia 21 de janeiro de 2013, reclama que a
empresa não paga rescisões dos ex-funcionários desde 2013. "Queria saber
por que o Ministério do Trabalho, a Justiça do Trabalho ou outro órgão
competente nunca agiu em relação à empresa CBB?", questiona Marlon, que
disse ter conhecimento de rescisões não pagas pela empresa desde o ano de 2013.
"Nós só
queremos que haja entendimento, que a usina pague os trabalhadores, que venha
alguém e entenda a situação deles. É a economia de cada um, que tem seus filhos
pra cuidar, aluguel pra pagar, e precisa receber, né?", apela Anísio.
Fonte: Diário
do Norte
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