“Eu passei
por isso e vou denunciar”, afirmou Renato (nome fictício), de 17 anos, durante
palestra da Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás, sobre o abuso sexual de
crianças e adolescentes, na quarta-feira (18), na Escola Estadual Elias Jorge
Cheim, localizada na comarca de Cavalcante.
Num exemplo
de coragem para os adolescentes que sofreram abuso, Renato disse que não vai se
calar.
Os presentes
na sala de aula se emocionaram e Renato recebeu aplausos dos colegas, abraços e
muitas lágrimas. A palestra faz parte da programação do Projeto Escuta,
implantado na comarca de Cavalcante com o objetivo de conscientizar a população
com a distribuição de cartilhas educativas e fortalecimento da rede de proteção
para a denúncia de casos de abusos sexuais.
Durante essa
semana, a Corregedoria-Geral da Justiça de Goiás, por meio da Secretaria
Interprofissional Forense, dá continuidade ao projeto nas escolas urbanas e
rurais do município de Cavalcante, região noroeste do Estado de Goiás. A equipe
foi dividida para que pudesse ser alcançado o maior número de escolas
possíveis. Uma equipe ficou no município de Cavalcante e a outra se dirigiu
para as escolas rurais.
Foram visitadas
as Escolas Córrego da Serra, Kalunga I- extensão Santo Antônio e Dona Joana
Pereira das Virgens, localizadas no Vão de Almas, comunidade Kalunga, onde
foram atendidas crianças e adolescentes do ensino pré-escolar ao 9º ano.
Para chegar
a Escola Dona Joana Pereira das Virgens, que atende nove alunos, do 3º ao 5º
ano, foi preciso passar por uma fazenda, caminhar cerca de três quilômetros
dentro da mata até alcançar as margens do Rio Doce, onde foi feita a travessia
de canoa, e, novamente, andar cerca de um quilômetro até chegar na escola.
“Realmente as crianças kalungas sofrem para ir à escola. Chegam cansadas e com
muita indisposição. Somos pessoas sofridas e algumas dessas crianças fazem esse
trajeto todos os dias”, afirmou o kalunga Zé da Merenda.
Nascido e
criado no Vão de Almas, comunidade kalunga, Zé da Merenda, como é conhecido,
doou a área onde vivia com a família para que pudesse ser construída a Escola
Estadual Kalunga I – extensão Santo Antônio. “Nasci em 1971 e a escola nasceu
dentro da minha casa. Com o passar dos anos, foi crescendo e doei a área para
que o governo construísse a escola. Muita coisa já melhorou, mas precisamos de
mais”, ressaltou.
Segundo a
lavradora e professora substituta Irene Moreira Dias, a escola Kalunga I não
havia recebido nenhuma ação de orientação para as crianças e adolescentes. “Os
órgãos públicos sempre fazem ações para esclarecer sobre algum tema ou fazer
exames nas crianças, como aqueles para detectar a Tracoma, mas contra abuso
sexual de crianças e adolescentes é a primeira vez. A iniciativa é ótima, a
orientação direta com os alunos é fundamental e vamos sempre reforçar a
cartilha que recebemos com eles”, afirmou.
Na área
urbana, foram atendidas as escolas municipais Tia Ceci, David José Vidal, Morro
Encantado e Escola Estadual Elias Jorge Cheim. Cerca de mil alunos entre
educação infantil e fundamental I tiveram a orientação no enfrentamento e
combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes. “Apresentamos vídeos
educativos e mostramos para as crianças a diferença de carinho e abuso de forma
didática, com o objetivo de empoderá-las”, pontuou a pedagoga Cyntia Bernardes.
Segundo a
pedagoga, a abordagem do tema de forma mais atrativa faz com que as crianças e
os adolescentes estejam mais atentos. “Entregamos a cartilha e conversamos
sobre a história que ela conta e reforçamos os canais de denúncias, além dos
conceitos de abuso para que elas saibam o que fazer caso isso ocorra”, disse
Cyntia.
Fonte: TJGO
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