Primeiro, o
Morro da Baleia. Depois, o Jardim de Maytrea. Ontem, o Vale da Lua. O fogo
atingiu os três principais cartões-postais da Chapada dos Veadeiros, no
nordeste de Goiás.
Todos
tiveram a sua área verde completamente queimada. No caso mais recente, ele
chegou à pousada mais próxima. Destruiu trilhas frequentadas por turistas e um
dos bangalôs da propriedade. Autoridades dizem que o incêndio está perto de ser
controlado.
Os
integrantes da força-tarefa, porém, afirmam que a extinção das queimadas só é
possível com uma chuva forte, esperada para amanhã.
O incêndio
iniciado em 17 de outubro e ainda em andamento é o maior da história do Parque
Nacional da Chapada dos Veadeiros. Até a noite de ontem, o fogo queimou 62 mil
hectares, o equivalente a 26% da área total da unidade de conservação, que
ocupa 240 mil hectares. Mas, somados os outros quatro incêndios iniciados e
apagados desde 10 de outubro, foram queimados cerca de 75 mil hectares. Em todo
o ano, o fogo consumiu 82 mil hectares, mais do que toda a área antiga da
reserva, que era 65 mil hectares. O tamanho foi ampliado por meio de portaria
assinada pelo presidente da República, Michel Temer, em julho.
As
informações são do diretor do parque, Fernando Tatagiba. “Temos um aparato
considerado ideal, mas o controle total e a extinção do incêndio só virão com
uma chuva forte, o que está previsto para sexta-feira. Vamos torcer”,
ressaltou. O balanço, no entanto, não leva em conta a área queimada fora do
Parque Nacional da Chapada. Fazendas e reservas particulares também sofrem com
uma série de incêndios. Ontem, o Vale da Lua era o mais atingido. O fogo chegou
à vizinha pousada Aldeia da Lua.
Bombeiros e
brigadistas haviam controlado o fogo ao redor da propriedade, na noite de
terça-feira. “Por volta das 22h, o pessoal apagou tudo e foi embora. Fui dormir
tranquilo. Mas às 2h, acordei com os estalos do fogo, que atravessou o Rio São
Miguel. Eu e um funcionário corremos, pegamos baldes e uma mangueira. Não deu
tempo de salvar um dos bangalôs. Queimou tudo. Mas evitamos que ele se
espalhasse pelo restante da pousada”, contou, chorando, o dono do
estabelecimento, Marcelo Roriz dos Santos, 60 anos.
Em meio à
correria, ele pediu socorro à força-tarefa montada para combater os incêndios
na região. Ainda na madrugada, recebeu brigadistas do Ibama, do Instituto Chico
Mendes, além de bombeiros de Goiás e do Distrito Federal. Mais de 40 homens
passaram a manhã e a tarde lutando contra as labaredas que consumiam a mata
fechada, em região íngreme e acidentada, nas duas margens do Rio São Miguel,
que corta dezenas de propriedades privadas, incluindo a que abriga o Vale da
Lua.
Prejuízo incalculável
O vale
rochoso é alcançado por uma trilha fácil, a partir de uma casa, onde é cobrado
ingresso. A caminha de 600m, sem necessidade de guia, leva às formações
rochosas de 600 milhões de anos. Elas alternam tons de cinza na superfície e,
como foram esculpidas pelo Rio São Miguel, ficaram com aparência semelhante à
das crateras lunares. Completam o cenário diversas piscinas naturais entre
grutas e fendas. No entanto, não há onde dormir na propriedade. Por isso,
Marcelo Roriz decidiu investir em uma fazenda de 25 hectares vizinha, onde construiu
a pousada, há 28 anos.
Desde então,
a Aldeia da Lua recebeu muitas melhorias, como piscinas, até chegar a 15
bangalôs. Só a queima de um deles, deu um prejuízo de R$ 80 mil, segundo o
dono. Mas, como os demais empresários do turismo da região da Chapada, Marcelo
Roriz amarga perdas desde o início da série de incêndios, em 10 de outubro.
“Não recebo hóspede há 10 dias, não tenho como fazer reservas nem sei quando
voltarei a fazer uma. Costumo receber 40 pessoas em fins de semana. Isso aqui é
a minha vida. Decidi trocar Goiânia pela Chapada por causa da beleza daqui.
Agora, assisto a uma tragédia. Nunca vi tanto fogo em tanto lugar ao mesmo
tempo. É tudo muito triste”, desabafou o goianiense.
Fonte:
CorreioWeb
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