Um avistou
uma moto parada na beira da estrada e, logo depois, as chamas se alastrando.
Outro notou um carro suspeito em uma estrada de terra e, em seguida, o incêndio
cresceu por todos os lados. Alguém chegou a ver o fogo “surgir do nada”, no
meio da mata. Pagaram R$ 2 mil para o peão queimar geral. Foi só um acidente.
Ou é coisa da natureza.
As histórias
que correm por Alto Paraíso, Vila de São Jorge, Cavalcante e Teresina de Goiás
dão uma ideia da dificuldade que as investigações têm pela frente para
encontrar os responsáveis pelo maior desastre ambiental do Parque Nacional da
Chapada dos Veadeiros, em Goiás.
Para
especialistas em meio ambiente e combate ao incêndio, porém, não há dúvidas
sobre a origem das queimadas: foram atos humanos e, portanto, criminosos. “O
fogo atravessou estradas e aceiros de proteção (barreiras para conter o fogo) e
chegou do outro lado, em áreas distintas. Nossas perícias já mostram isso.
Todas as evidências físicas apontam que (o incêndio) é criminoso”, diz Gabriel
Constantino Zacharias, chefe do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos
Incêndios Florestais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis (Ibama).
O que está
evidente para Zacharias soa como teoria da conspiração para Pedro Sérgio
Beskow, produtor rural em Cavalcante e presidente da Associação Cidadania,
Transparência e Participação, que reúne pequenos e médios ruralistas da região.
“Estão politizando o incêndio, querendo criminalizar os produtores, quando o
responsável por isso é o tempo seco”, diz. “Não há por que cometerem esse
absurdo, principalmente quando pleiteiam a redução do parque na Justiça. Nosso
pessoal não é burro.”
Na troca de
acusações, sobra suspeita até contra brigadistas, justamente aqueles que são
enviados à mata para apagar o fogo e preservar a natureza. “Os brigadistas têm
contratos só de seis meses. Já ouvimos relato de gente que fica parada, sem
trabalho, e então toca fogo pra voltar a trabalhar”, diz o produtor rural
Jurani Francisco Maia. Anteontem, o Ministério Público Federal de Goiás
instaurou inquérito civil para apurar o incêndio.
O
acirramento dos conflitos ambientais tem sido marcado por violência. Nos
últimos dias, órgãos ambientais foram atacados no Amazonas quando faziam
operação contra o garimpo ilegal. “Vivemos uma guerra contra o ambiente. No
caso da Chapada, se ficar comprovado que se trata de ato criminoso, será
claramente uma retaliação ao aumento dos limites do parque”, afirma Marcio
Astrini, do Greenpeace.
Horley
Teixeira Luzardo, dono de reserva ambiental privada ao lado do parque, a
Fazenda Renascer, prefere hipótese mais natural. “Pode ter sido um acidente,
combustão natural. As árvores do Cerrado desenvolveram, ao longo dos séculos, a
capacidade de resistir ao fogo. Se o bioma tem essas características, é sinal
de que ocorre fogo natural.” Especialistas no assunto descartam a
possibilidade, por não terem havido raios.
Efeitos
Após o
incêndio, o resultado é devastador. No Jardim de Maytreia, uma das mais belas
paisagens locais, só restou de pé uma fileira de buritis. No parque, trechos de
trilhas foram engolidos pelo fogo.
A
expectativa é de que, com a chuva, a vegetação renasça. Ou, ao menos, parte
dela. Sobre os animais, resta o lamento.
As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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