Escutas da PF mostram conversas sobre entrega de mais de R$ 1 milhão em propina para campanhas de Marconi Perillo
Escutas da
Polícia Federal presentes no inquérito que culminou a Operação Cash Delivery,
obtidas pela TV Anhanguera, mostram conversas entre funcionários do doleiro
Álvaro José Novis, um dos delatores da Lava Jato, e um motorista de Jayme
Rincón, um dos cinco presos na ação que mirou endereços ligados a Marconi
Perillo (PSDB). Segundo a corporação, o diálogo revela a entrega de R$ 1,2
milhão em propina da Odebrecht para campanhas de Perillo em 2010 e 2014.
A
transcrição da conversa é, segundo a PF, um diálogo entre Márcio Garcia de
Moura – policial militar e motorista de Rincón, também preso na Operação Cash
Delivery – e um homem identificado como Márcio, que, conforme a corporação,
também é PM e funcionário do doleiro Álvaro José Novis.
Moura: Aí
veio 3 mensageiros seus. É isso mesmo?
Márcio: É,
um levou 7 e outro levou 5, Né?
Moura: Então
tá certo, né?
Márcio:
Isso. Aí faz um ponto dois. [segundo a PF, ele se refere a R$ 1,2 milhão de
reais]
A defesa de
Marconi Perillo informou à TV Anhanguera que o ex-governador foi liberado pela
Polícia Federal para prestar depoimento só após as eleições. A defesa já havia
dito, na última sexta-feira (31), que não há provas dos fatos citados pelo
delator e que eles se referem a questões antigas, sem qualquer indício contra
Perillo.
Os advogados
de Jayme Rincón e do filho dele disseram à emissora que estão trabalhando no
caso e não vão comentar o assunto por enquanto. Jayme, que até então era
presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), após a prisão
teve o cargo substituído pelo atual Procurador-Geral do Estado, Luiz Cesar
Kimura.
A reportagem
do G1 e a TV Anhanguera tentaram contato com o advogado do PM Márcio Moura, mas
as ligações e mensagens não foram retornadas até a última atualização desta
reportagem.
Em um dos
trechos do inquérito, a polícia diz que, segundo versão apresentada por
colaboradores, Marconi Perillo, que é candidato ao Senado Federal atualmente,
teria dito ao executivo da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis, que ele
esperasse uma contribuição “do tamanho da Odebrecht”, em Goiás.
No inquérito
consta que Marconi, ao solicitar os valores para suas campanhas, se mostrava
favorável às demandas da Odebrecht em Goiás, como, por exemplo, na construção
do VLT, que não saiu do papel, além de obras de esgoto no Entorno do Distrito
Federal.
Conforme
apurou a TV Anhanguera, apesar da suspeita de envolvimento de Marconi Perillo
no esquema, a Justiça Federal não pediu a prisão dele por conta da Lei
Eleitoral, que proíbe a prisão de candidatos 15 dias antes do pleito, exceto em
casos de flagrante.
Entrega do dinheiro
Segundo as
investigações, os PMs eram responsáveis por pegar o dinheiro de propina em São
Paulo. O pagamento de R$ 1,2 milhão teria sido entregue na Rua Hadock Lobo, na
capital paulista, onde, conforme a PF, fica o apartamento onde mora o filho de
Jayme Rincón, Rodrigo Rincón, um dos presos da Operação Cash Delivery.
Em uma das
conversas, o motorista do doleiro liga para um outro motorista de Jayme Rincón,
identificado como Sérgio, para confirmar o endereço do apartamento onde faria a
entrega de “encomendas”, que, segundo a PF, tratava-se de propina.
Márcio: Oi,
Sérgio. Meu nome é Márcio. Tudo bom?
Sérgio: Tudo
joia!
Márcio: Tudo
bem. Eu tenho umas encomendas aí para te entregar. Só confirmando contigo. Aí é
1259, 72 né?
Sérgio:
1259, 72 [segundo a PF, trata-se do número do prédio e apartamento Rodrigo
Rincón]
Márcio:
Aguarda aí que já estão caminhando para aí, está bom?
Sérgio: Tudo
bem!
Além das
gravações telefônicas da empresa de Novis, a Polícia Federal teve acesso a conversas
via Skype, ligações de celulares e passagens aéreas dos PMs, que, segundo a
corporação, saíram de Goiânia supostamente para buscar o dinheiro em São Paulo.
A Justiça
Federal concedeu, na quarta-feira (3), um habeas corpus para que Rodrigo Rincón
seja colocado em liberdade, mas o mesmo não havia sido cumprido até a
publicação desta reportagem. Conforme a decisão, mesmo que se confirme a
autoria dos crimes, não há indícios de que Rodrigo, em liberdade, possa
atrapalhar as investigações. Segundo o desembargador, além disto, faltaram
requisitos para manter a prisão temporária dele.
Fonte: G1
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