PF cita suposto pagamento de R$ 750 mil em propina para desembargadores e juiz de Goiás ao pedir prisão de padre Robson
O pedido de
prisão feito pela Polícia Federal contra o padre Robson de Oliveira envolve a
suspeita de pagamento de propina de R$ 750 mil por parte dele para dois
desembargadores e um juiz substituto do Tribunal de Justiça de Goiás. De acordo
com o documento, a negociação seria destinada para o ganho de uma ação judicial
da compra de uma fazenda.
O pedido de
prisão foi protocolado no Superior Tribunal da Justiça (STJ), mas, conforme
informações do advogado do padre, Cléber Lopes, o documento ainda não havia
sido julgado até a tarde deste sábado (20).
O STJ disse,
em nota, que "não divulga informações sobre ações originárias em segredo
de Justiça, as quais estão sob o comando dos respectivos relatores, sob pena de
prejuízo ao andamento das investigações".
A defesa do
padre disse que os fatos usados para fazer o pedido são antigos e que não
existe justificativa para a prisão. Além disso, foi feita uma representação
contra a solicitação da Polícia Federal.
O pedido de
prisão temporária é contra o padre Robson de Oliveira, o advogado Cláudio
Araújo Pinho, os dirigentes da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe),
Anderson Reiner Fernandes e Rouane Carolina Azevedo e o contador da associação
José Pereira.
A reportagem
tentou contato com os ex-menbros da Afipe e o advogado Cláudio Pinho para
solicitar um posicionamento, mas as ligações não foram atendidas.
Suposta
propina
A PF começou
a investigar os suspeitos porque, durante a apuração feita pelo Ministério
Público de Goiás, apareceu um áudio do padre em que ele falava sobre os
pagamentos de propina a desembargadores.
“Estou em
uma situação que está complicando minha vida. Fez um documento de acordo
extrajudicial em termo de sub-rogação de valores lá daqueles R$ 600 mil que
passei através do Medeiros para aquele desembargador. E colocando assim,
parecendo que existe um mútuo, um contrato de empréstimo feito para o Medeiros,
como se eu fosse sub-rogar para o Medeiros”.
No pedido de
prisão, a PF também cita outro trecho da conversa entre o padre, o advogado
Cláudio Pinho e o ex-dirigente da Afipe, Anderson Fernandes.
O advogado
diz:
“Deixa eu
falar um negócio para senhor, só para relembrar. Uma parte desse valor.
Entendeu. Já não me pertence, já está comprometido e isso eu preciso acertar”.
Anderson
fala para o padre:
“Eu quero
ser bem mais claro. Ele está dizendo que para ganhar lá, no Tribunal, ele
comprou pessoas”.
O padre
questiona:
“Qual é
essa parte?”
Anderson
relembra:
“O senhor
se comprometeu com R$ 750 mil lá”.
Na sequência
o advogado diz:
“Só para
o senhor ter noção, dos três desembargadores, R$ 500 [mil] para um e o resto é
dividido para dois. Para os outros dois, entendeu? Então, a gente não pode
deixar fechar essa porta de jeito nenhum”.
Os
investigadores afirmam no documento que a conversa diz respeito ao pagamento do
trabalho do advogado no valor de R$ 1,5 milhão. No entanto, metade desse valor
teria sido usado para comprar pessoas e ganhar a ação no Tribunal de Justiça.
A corporação
cita ainda que, durante a operação Vendilhões, feita em agosto de 2020, foi
apreendido um bilhete no carro do padre com a inscrição: “Desembargadores R$
600 mil”.
O bilhete,
segundo o documento, leva a crer que se trata do acerto aos desembargadores
mencionado na reunião gravada entre o padre, o advogado e o ex-dirigente da
Afipe.
Suposto
envolvimento de desembargadores
No documento
que faz o pedido de prisão ao STJ, a Polícia Federal afirma que o pagamento de
propina ocorreu, mas não sabe como aconteceu o acerto, nem quem recebeu o
dinheiro a mando ou a nome de desembargadores. Por isso, a necessidade de
aprofundar nas investigações para que o fato seja esclarecido.
‘Para o bem
dos goianos e do sistema judiciário e não continue coberto pelo manto da
impunidade dos poderosos”, relatou a PF.
Ainda no
documento, a PF lembra que padre Robson havia perdido um processo em primeira
instância e recorreu ao Tribunal de Justiça. O recurso, segundo a investigação,
foi julgado pela 2ª turma da 1ª Câmara Cível.
Com isso, a
Polícia Federal aponta que as autoridades judiciais supostamente envolvidas no
fato seriam a desembargadora relatora Amélia Martins de Araújo, o juiz substituto
em segundo grau, Roberto Horácio Rezende e o desembargador, agora aposentado,
Orloff Neves Rocha.
O que diz
a defesa dos desembargadores e juiz:
O advogado
Luis Rassi, que defende os três citados no inquérito, disse que o Tribunal de
Justiça de Goiás, ao saber das suspeitas, tomou a iniciativa de pedir a
apuração dos fatos no âmbito administrativo e judicial.
A nota diz
ainda que a conclusão do TJ foi de que os desembargadores foram vítimas de “um
vendedor de fumaça”, que utilizou os nomes deles indevidamente (veja na íntegra
ao final do texto).
Operação
Vendilhões
A Operação
Vendilhões surgiu após uma investigação que apurou uma série de extorsões
feitas por hackers contra o padre para que um suposto relacionamento amoroso
dele não fosse divulgado. Ao todo o padre pagou R$ 2,9 milhões com dinheiro da
Associação dos Filhos do Divino Pai Eterno (Afipe) em troca do arquivamento das
mídias.
Segundo a
decisão do STJ, os dados dessa investigação foram compartilhados, tendo sido
“ilegalmente utilizados pelo Ministério Público para iniciar a persecução”.
Investigação
começou após hacker ameaçar expor supostos casos amorosos
O Ministério
Publico cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao padre
Robson em agosto de 2020. De acordo com as investigações, as associações
criadas pelo religioso movimentaram cercar de R$ 2 bilhões em dez anos.
Os valores
deveriam ter sido usados na construção da nova Basílica de Trindade. Porém,
foram usados para outros fins, como a compra de imóveis e empresas, segundo os
promotores. O templo segue em fase inicial da obra.
Em dezembro
de 2020, padre Robson e outras 17 pessoas foram denunciadas por organização
criminosa, apropriação indébita, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Porém, o processo foi bloqueado pela Justiça.
Nota na
íntegra da defesa dos desembargadores e juiz
Sobre o
pedido de prisão do Padre Robson e outras pessoas a ele vinculadas, os
desembargadores mencionados no inquérito, esclarecem que ao tomarem
conhecimentos da suspeita contra eles formulada, de imediato requereram, no
âmbito administrativo e judicial a apuração dos fatos.
O
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, ao efetivar exaustiva investigação
concluiu pela prática do crime de exploração de prestígio pelo advogado
mencionado na gravação e no inquérito. Foram analisadas movimentações
bancárias, colhidos depoimentos e enfim, auferida a confissão daquele
profissional do Direito que firmou ter recebido para si e por si consumido o
dinheiro recebido da AFIPE.
Independente
do decreto de prisão do padre, de seu advogado, da efetivação de busca e
apreensão, ao final, a conclusão do Superior Tribunal de Justiça será a mesma
que teve o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. E a única conclusão possível
é que os desembargadores foram vítimas de um vendedor de fumaça, que utilizou o
nome de homens e de uma mulher de bem, para auferir vantagem ilícita.
Os
desembargadores esperam, o quanto antes, o efetivo esclarecimento de todos os
fatos irresponsavelmente criados neste maldoso episódio que não deixa de
macular a honra pessoal e profissional de pessoas sérias e que se dedicam à
vida pública há mais de quarenta (40) anos.
Fonte: G1
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