"A Enel
está dando prejuízo não só para Goiás, mas para o Brasil e para o mundo”,
afirmou Eurípedes Naves Borges, que trabalha com compra e venda de
transformadores em leilões, durante audiência pública realizada no sábado, dia
15, na Fundação Tiradentes, em Goiânia. Segundo ele, os empresários de Goiás
estão ‘indo a falência’ e levando ele junto. Eurípedes, que já trabalhou na
Celg Distribuição, também foi proprietário de uma empresa de engenharia
elétrica e, agora, está há 30 anos trabalhando com leilões.
“Eles dizem
que estão aplicando dinheiro, mas estão destruindo os laboratórios de reforma
dos transformadores”. Atualmente, os equipamentos que necessitam de reparos
devem ser enviados para São Paulo, o que demora 30 dias. “Até chegar, a lavoura
irrigada já morreu, o frango já morreu”, concluiu Eurípedes.
Nara
Coutrim, representante da Feira Hippie de Goiânia e dos moradores da cidade de
Sanclerlândia, reivindicou respeito por parte da empresa à população e
testemunhou sobre as constantes quedas de energia em toda a cidade que ela
representa. "É muito fácil para os engravatados, que lucram com esse
contrato, defender a empresa, o contrato. Quero pedir para vocês o respeito com
a sociedade, não só com empresários, porque não é só de empresários que é
formada a população. É a mãe de família que precisa de energia e que, muitas
vezes, é pega desprevenida, àquelas pessoas que estão em hospitais, porque é
muito fácil, colocar palavras bonitas, bem colocadas, que às vezes muitos
entendem, mas a grande maioria não", pontuou.
O
proprietário de um loteamento, Sinomar Ribeiro, veio de Aurilândia para
participar da audiência pública. Ele teve um prejuízo de R$ 300 mil na compra
de materiais de construção e, mesmo após vistoria realizada pela Enel, teve que
paralisar as obras. “Comprei e paguei o material em 2019, como exigido. A Enel
fez a vistoria em 2019, como combinado. Só que entrou 2020, eles falaram que o
material não serve mais”, contou. Entre as perguntas realizadas pelos
participantes do encontro aos diretores da Enel, o empresário ainda, em voz
alta do meio da sala, disse que não confia na empresa. “A Enel quer segurança
jurídica do investimento dela, mas não dá segurança jurídica do meu
investimento. Só quero que a Enel me dê o suporte, que é obrigação dela”,
desabafou Sinomar.
O médico
Diogo Jacó, que tem duas clínicas radiológicas, uma localizada em Goiânia e
outra no interior de Goiás, declarou que utiliza energia solar para garantir o
funcionamento das máquinas, mas que por diversas vezes já ficou sem energia
elétrica nas unidades de saúde, o que o fez recorrer a um gerador. “Ter um
gerador para manter uma ressonância magnética é uma sala de gerador. A rede
fica ruim e começa a queimar meu equipamento. Deixo três dias sem ligar, deixo
meu gerador rodando e vai consumindo diesel. Isso é caro. É esse tipo de coisa
que revolta o goiano”, disse.
Debate
O propositor
da audiência pública, o deputado federal Vitor Hugo, que é líder do governo
federal na Câmara dos Deputados, relatou números expressivos relacionados a
insatisfação da população goiana. Só em 2019 foram mais de 133 mil reclamações
contra a Enel. “Muitas chegaram direto na Aneel [Agência Nacional de Energia
Elétrica], porque existe um sentimento de que, e falo isso abertamente, há uma
falha de comunicação dentro da empresa”, disse o deputado. No site Reclame
Aqui, o quantitativo de queixas chegou a 1.944, com 493 reclamações a mais que
2018.
Para o
governador Ronaldo Caiado, o fato de a empresa ter ganho o leilão de
privatização da Celg D não dá direito que a população sofra com a falta de
investimentos. “Não podemos admitir que, só porque ganharam uma licitação, se
achem imune em poder fazer todas as arbitrariedades com o povo goiano”, disse
citando as frequentes quedas de energia e períodos longos em que a população
fica desabastecida, principalmente no interior de Goiás. Após ver a exposição
dos dados feitas pelos representantes da Enel, o governador ainda reiterou que
“os prejuízos que isso acarreta na vida do cidadão não podem ser
contemporizados com alguns dados”.
Exposição
da Enel
Durante a
audiência pública, os representantes da Enel tiveram 30 minutos para expor tudo
que foi feito desde a compra da Celg D e principalmente desde fevereiro de 2019
para solucionar a crise energética em Goiás. De acordo com o presidente da
empresa no Estado, José Luiz Salas, já foram investidos cerca de R$ 2 bilhões e
a expectativa é de que sejam aplicados ainda mais R$ 3,2 bilhões. “É um
investimento que está sendo feito, e que será feito, no Estado como um todo. Na
Região Norte, por exemplo, temos várias obras para entregar como em Luziânia,
Uruaçu, Formosa, Anápolis e na Região Sul, em Morrinhos, Iporá, Rio Verde”,
anunciou.
Na tentativa
de justificar a queda da qualidade do serviço prestado, o diretor de
Infraestrutura e Redes da Enel, Guilherme Lencastre, retomou o discurso de que
assumiram a companhia com muitos problemas. “O que posso dizer hoje é que os
problemas são menores”, disse. Em seguida, o diretor reforçou que a meta é
dialogar mais com a população e demonstrar na prática como está o andamento dos
investimentos realizados. “Estamos construindo esse caminho, com muito empenho,
vontade, motivação. Queremos trabalhar juntos com o Estado e com a sociedade”,
e completou: “Nosso compromisso é com o consumidor de energia de Goiás”.
Indicadores
de qualidade
Os
principais indicadores de qualidade na prestação de energia elétrica são o FEC
e o DEC. O primeiro trata da frequência de vezes que algum lugar ficou sem
energia. O segundo, o tempo total que o local ficou sem energia. Conforme o
secretário estadual de Desenvolvimento e Inovação, Adriano da Rocha Lima, o
acompanhamento desses indicadores é feito por um número único, o que não é uma
vantagem, uma vez que a prestação de serviço pode melhorar em uma região densa,
como Goiânia, e piorar no interior de Goiás, e ainda assim estar dentro da
média aceitável. Além disso, ainda segundo o secretário, quando a Enel assinou
o contrato de concessão, a Aneel ofertou limites de FEC e DEC maiores.
Adriano da
Rocha Lima ainda informou que, das 156 regiões chamadas de conjuntos elétricos
do Estado de Goiás, 66 tiveram queda no índice de DEC. Desse quantitativo, 15
pioraram 500% a prestação de serviço. Os conjuntos que tiveram melhorias somam
90 conjuntos elétricos, mas esse avanço chegou apenas a 55%.
O Plano
Emergencial estabelecido em fevereiro de 2019 previa uma série de investimentos
para a ampliação das redes elétricas e solução da crise energética em Goiás. A
Enel tem até agosto de 2020 para cumprir o acordo. Caso contrário, o não
cumprimento do compromisso com o Governo de Goiás implicará em um relatório de
falhas e transgressões, que é emitido pela Aneel, seguido da possibilidade de
um processo de caducidade de licença. “De fevereiro de 2019 até hoje, apesar de
reconhecer que a Enel tem investido, ampliado subestações, a qualidade do
serviço está muito aquém do que a gente necessita no Estado”, afirmou o
secretário.
Presente na
audiência pública, o diretor da Aneel, Rodrigo Limp, endossou as palavras de
Adriano e defendeu que a qualidade do serviço prestado pela Enel está abaixo
das médias. “Os indicadores de qualidade estão muito aquém do que a Aneel
entende como adequado. Temos feito um trabalho mais próximo, que é o que nós
chamamos de Plano Emergencial, para recuperar a qualidade do serviço em um
curto prazo. Mas ainda entendemos que temos um longo caminho a percorrer”,
destacou.
Os deputados
federais Flávia Morais, líder da bancada goiana na Câmara; Glaustin da Fokus; e
o deputado estadual Paulo Trabalho manifestaram suas demandas, em vista de que
também são representantes da população e estão em constante contato com as
bases no interior do Estado. “Somos os para-choques das reclamações. Sempre
chegam até nós os problemas sobre energia. Ninguém aqui é contra a iniciativa
privada, mas toda empresa tem que ter responsabilidade social”, afirmou.
Representando
o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o secretário-adjunto de
Energia Elétrica, Domingos Romeu Andreatta, reafirmou o compromisso em auxiliar
o Estado de Goiás na solução da crise energética. “Cobro novamente publicamente
da Enel que faça e tenha todo o empenho para resolver essa situação da maneira mais
rápida possível, para que a gente possa esquecer da Enel em um futuro próximo”,
disse. Segundo o secretário-adjunto, o ideal é que os goianos saibam quem é a
empresa que presta o serviço de distribuição de energia elétrica, mas não
tenham que se preocupar com isso.
“Devemos
exigir da Enel ao ponto de esquecermos dela em algum momento. Quando não
lembrarmos da Enel é porque tudo estará muito bem”. Além disso, Domingos Romeu
salientou que energia elétrica é fundamental para o desenvolvimento das cidades
e que este não pode ser um fator de impedimento econômico: “Goiás tem que ter a
energia elétrica com a qualidade que merece. Energia elétrica não pode ser uma
coisa que limita a entrada de novos empreendedores”, finalizou.
Também
participaram da audiência pública o presidente da OAB-GO, Lúcio Flávio de
Siqueira Paiva; o deputado federal Francisco Júnior; o secretário Marcos Silva
(Comunicação); o senador Vanderlan Cardoso; o gerente de energia da AGR, Jorge
Pereira; o presidente da Comissão Especial de Direito de Energia, Moacir
Ribeiro da Silva Neto; o tenente-coronel Cleber Aparecido Santos, presidente da
Fundação Tiradentes; os gerentes da Enel José Januário e Renata Keli; o chefe
de gabinete de representação de Goiás no Distrito Federal, Breno Vieira; representante
da AGM, Eri Ristov; além de prefeitos, vereadores, presidentes de Associações e
Sindicatos, e membros do Fórum Empresarial.
Fonte:
Governo de Goiás
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