O presidente
do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), desembargador Carlos França,
exonerou, a pedido, Dayana Moreira Guimarães do cargo de juiz de Direito de
entrância intermediária. Conforme o Decreto Judiciário nº 2.325/2021, assinado
nesta terça-feira (14), a exoneração tem data a partir de 23 de agosto de deste
ano.
Dayana
Moreira Guimarães ingressou na magistratura em 22 de setembro de 2005. Nestes
16 anos dedicados à carreira, atuou nas comarcas de Valparaíso de Goiás,
Minaçu, Formosa, Campos Belos e Jaraguá e, desde 2014, estava como titular do
2º Juizado Especial Cível da comarca de Anápolis.
“Deixo meu
abraço, profundo respeito, minha honra e meu carinho por todos. Meu profundo
agradecimento, em nome do desembargador Carlos França, a todos os servidores, à
minha equipe, aos meus amigos e colegas de magistratura e, ainda, à colaboração
dos advogados, promotores e defensores. Hoje a minha missão se encerrou, eu
sigo um outro caminho com o coração alegre e feliz”.
Propósito
de Deus
A juíza
pediu exoneração do cargo depois de exercer a carreira da magistratura por 16
anos.
Casada, mãe
de duas crianças e com pai que chegou a passar fome, Dayana Moreira Guimarães
Martins, de 39 anos, atuou em sete comarcas do Judiciário estadual e contou ao
Metrópoles como tomou “a decisão extremamente difícil” por um “propósito de
Deus”. “Hoje vivo um lifestyle em Cristo Jesus”, disse. Agora, vai dedicar-se
totalmente à família.
Ela
ingressou no Judiciário estadual como escrevente, aos 19 anos, e depois, aos
23, foi empossada como juíza, mergulhando em intensa rotina de trabalho, cada
vez mais tomada por acúmulo de processos. Esposa do agropecuarista Danilo de
Freitas Martins Mariano e mãe de Lígia, de 7, e Lorenzo, de 5, ela repensou
ainda mais as prioridades de sua vida em meio à pandemia.
Dayana deixou a carreira no final de agosto, com último rendimento líquido mensal no valor de R$ 57,5 mil, de acordo com o Portal da Transparência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO). Ela disse que hoje tem o privilégio de viver em situação confortável, financeiramente, para se dedicar à família.
“Realmente,
entendi qual o propósito que Deus tem para minha vida. Nesta descoberta, tive
de colocar minha vida na balança. Por que quantas e quantas vidas coloquei na
balança? Desta vez, foi a minha”, disse, comparando a sua situação com decisões
judiciais proferidas por ela ao longo da carreira e que repercutiram
diretamente na vida de outras pessoas.
Desde junho
deste ano, Dayana começou a pensar no pedido de exoneração. No mês seguinte,
saiu de férias, estendidas por 10 dias por causa de abonos de plantões no Poder
Judiciário. Nesse período, ela ficou em São Paulo, onde acompanhou a mãe,
professora de carreira, para fazer um tratamento por causa de uma leve lesão
cerebral. “Ela está bem”, contou.
Perto de voltar
às atividades de trabalho no 2º Juizado Especial Cível da comarca de Anápolis,
Dayana passou a pensar ainda mais sobre o retorno, ou não, ao Poder Judiciário.
Antes, ela atuou como juíza substituta em Goiânia e Campos Belos, além de
passar como titular pelas comarcas de Valparaíso, Minaçu, Formosa e Jaraguá.
“Tinha de
retornar no dia 23 de agosto”, afirmou. Nessa mesma data, enquanto ela arrumava
a filha para ir para a escola, a menina a questionou sobre Deus e o momento que
ela tem vivido com a família. “Respondi que Deus nos deu o livre-arbítrio”,
lembrou.
Dayana
acredita que, na mesma data, Deus “usou” também a funcionária de sua casa para
que ela tomasse a decisão. “Nesse dia, ela não apareceu. Então, entendi que eu
tinha de fazer escolha de cuidar da minha casa, organizar as crianças, comida,
tudo que ela faz, ou dos meus processos”, relatou, ressaltando que a
trabalhadora é exemplar e quase nunca chegou atrasada ao serviço.
“Eram 8
horas da manhã e me vi naquele dilema de cuidar dos afazeres dela [funcionária]
ou da decisão que tinha para tomar. Pedi muito a Deus que me desse sabedoria e
tomasse a decisão certa para mim e minha família. Passei o dia, sentei, escrevi
uma carta de exoneração de três linhas”, disse.
Ela afirmou
ter ficado pensativa por “entender que toda a família estava envolvida na
decisão”. “Meu pai passou fome, veio da pobreza extrema e conseguiu projetar os
filhos dele. Ele me pediu para que não fizesse isso. O tempo vai acalmar o
coração dele, e uma hora ele vai entender”, relatou.
Depressão
A família de
Dayana imaginou que ela estivesse em crise depressiva. Sugeriu afastamento
médico. “Não tenho nenhum sinal de depressão, mas tive, talvez um ano atrás,
antes de entender o propósito de Deus”, afirmou. Ela também comentou sua
decisão com seu irmão, um cirurgião plástico, e sua irmã, servidora do TJGO.
“A situação
me deixava cada vez mais acelerada, porque achava que tinha de produzir mais em
menos tempo. Muitas mulheres estão sob pressão, tomando remédios. Não posso
delegar mais o que já vinha delegando, que é a construção da minha família, dos
meus filhos, o que hoje reputo que, na balança, pesou mais esse propósito de
Deus na minha vida”, destacou.
Dayana
disse, ainda, que a “magistratura é uma devoção”. “Como no Judiciário não dá
para ficar mais ou menos e não aprendi a fazer entrega mais ou menos, meus pais
sempre me ensinaram a entregar o melhor e, então, vi que começou a pesar essa
entrega. Tive que tomar essa dura decisão, após muito refletir, muita oração”,
acentuou.
A Justiça,
na avaliação de Dayana, passa por um “momento assoberbado”. “São muitos
processos, muitas demandas, e o Judiciário respira o que a sociedade está
vivendo. “A gente vive esse momento muito tumultuado, de tantas desavenças, de
tantas ofensas, e isso respinga diretamente no nosso labor, no judiciário”,
analisou.
Ela conta
que a magistratura a ajudou a entender que “o homem não consegue alcançar a paz
mesmo se conseguir uma decisão judicial favorável”. “A paz que as pessoas
procuram não está na justiça dos homens. Está na justiça de Deus. A justiça dos
homens resolve os conflitos do direito, mas a paz e a tranquilidade vêm do
alto”, destacou.
Fonte e texto: Metrópoles
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