No Nordeste
de Goiás, três comunidades remanescentes de escravos que se refugiavam em
quilombos vivem isoladas em uma região de difícil acesso em meio ao relevo
entrecortado da Chapada dos Veadeiros, no município de Cavalcante, a 375
quilômetros de Goiânia. São os kalungas, ainda desconhecidos da maioria da
população do Estado.
Boa parte
das 826 famílias não tem acesso à eletricidade e tira seu sustento da zona
rural. Esse afastamento não impediu a Polícia Militar de se fazer presente, por
meio de um projeto de implantação do policiamento comunitário que vem sendo
desenvolvido desde abril de 2015.
De acordo
com o assessor de comunicação da PM, tenente-coronel Ricardo Mendes, de lá para
cá, foram realizadas várias visitas à comunidade com o objetivo de conhecer
melhor a realidade dos nativos da região e realizar um levantamento das
demandas do povo, que se mostrou, em um primeiro momento, bastante arisco, por
causa de seu costume e histórico.
Mas, aos
poucos, os policiais foram ganhando a confiança e criando vínculos. Foram
visitadas várias famílias e constatou-se que há vulnerabilidade em relação aos
crimes de violência sexual infantil e exploração do trabalho doméstico, além do
uso de drogas lícitas, como álcool e tabaco, e também ilícitas.
“Diante
dessas informações, nós decidimos reunir uma equipe multifuncional da Polícia
Militar composta por psicólogos, pedagogos e policiais militares que são
especializados em policiamento comunitário e ambiental e outras áreas da
corporação. Só no dia 13 de dezembro de 2015, atendemos mais de 150 famílias.
Lá nós aplicamos durante uma semana e o Programa Educacional de Resistência às
Drogas (Proerd ) conversando com as crianças e os pais e ministramos palestras,
criando um canal de comunicação entre a comunidade kalunga”, afirma.
A iniciativa
foi apoiada pelo comandante-geral, coronel Silvio Benedito Alves, que instituiu
a filosofia do policiamento comunitário em Goiás, com caráter preventivo. A
ideia é estabelecer uma relação próxima entre corporação e moradores, a tal
ponto que eles tenham confiança e denunciem os crimes. Ricardo afirma que as
denúncias recebidas pelas equipes já foram, inclusive, encaminhadas ao
Ministério Público Estadual para as providências cabíveis.
Patrulhamento rural
Desde agosto
de 2015, as comunidades podem contar também com o patrulhamento rural realizado
regularmente na região. Isso foi possível depois que uma caminhonete com tração
nas quatro rodas, pmkalunga dada à dificuldade de acesso à região, foi
disponibilizada pela Secretaria de Segurança Pública, por determinação do
governador e do comandante-geral.
Ricardo
Mendes diz que o trabalho continuará, com pelo menos seis visitas programadas
para este ano. “Também precisamos trabalhar a prevenção das drogas lícitas como
álcool porque são uma comunidade afastada e não deixam de potencializar as
ocorrências policiais. Por ser uma comunidade de difícil acesso e por uma
questão cultural, eles se mantiveram afastados da estrutura do Estado e a PM
foi o primeiro órgão do Governo de Goiás a se aproximar, por determinação do
governador Marconi Perillo”, avalia.
Mendes acredita
que o trabalho está rendendo bons frutos e que impedirá novos relatos de casos
de violência sexual de adolescentes das comunidades que vieram à tona em 2015.
“A grande importância para nós como policiais é salvar vidas, por exemplo,
quando apreendemos armas de fogo. Neste mês (janeiro) retiramos 400 armas de
fogo de circulação do Estado e isso representa muitas vidas que estão sendo
preservadas. É a mesma coisa nessa operação dos kalungas. Estamos trabalhando
de maneira preventiva para que não ocorram mais casos de exploração sexual com
crianças e adolescente daquela comunidade por falta de uma orientação, e que se
envolva com drogas. Essa é a nossa satisfação, esse é o nosso objetivo que é
prevenir qualquer tipo de delito de natureza criminosa não só com a comunidade
kalunga, mas é claro com todos os goianos.
Fonte: O Hoje
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