As 11 horas
da última sexta-feira (6), um funcionário atende o telefone geral da Prefeitura
de Alvorada do Norte e avisa: “Não tem ninguém no gabinete da prefeita; está
todo mundo viajando desde ontem”. As viagens têm sido uma constante na
administração do município, de 8.645 habitantes, no Nordeste goiano: a
prefeita, Iolanda Holiceni Moreira dos Santos (PSDB), e três parentes dela que
ocupam cargos em secretarias, receberam R$ 145.770,00 em diárias em 2017.
Apenas a
prefeita da cidade gastou R$ 92,5 mil com as viagens, o que representa mais de
seis vezes o salário de chefe do Executivo, de R$ 14 mil. O gasto também é mais
que o dobro da despesa registrada com diárias pelo antecessor de Iolanda em
2016. O ex-prefeito David Moreira de Carvalho (PSDB) gastou R$ 34,5 mil (veja
quadro) naquele ano.
Considerando
que a diária no município é de R$ 650, para alcançar o gasto, a prefeita passou
mais da metade dos dias úteis de 2017 viajando. Foram 64 pagamentos.
Os dados
estão no Portal da Transparência de Alvorada do Norte e no Portal do Cidadão,
do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO), que inclui informações oficiais
de todos as cidades do Estado. O salto do valor com diárias está em apuração no
TCM e também no Ministério Público de Goiás (MP-GO).
Para este
ano, já houve empenho (primeiro estágio para obrigação de pagamento de uma
despesa no poder público) de R$ 50 mil para diárias da prefeita. O pagamento
liberado até agora foi de R$ 6,5 mil.
Iolanda é
mulher do ex-prefeito Alessandro Moreira, filho do deputado estadual Iso
Moreira (DEM) e que comanda atualmente a Secretaria de Finanças do município.
No ano passado, Alessandro recebeu R$ 29,75 mil em diárias.
A irmã da
prefeita, Adezângela Holiceni, é secretária de Assistência Social e Trabalho e
recebeu R$ 13,25 mil com as viagens em 2017. Célio Alves Dourado, primo do
marido da prefeita, é chefe da Tesouraria da Secretaria de Finanças e teve R$
10,27 mil em gastos com diárias em 2017. Para este ano, estão empenhados R$ 30
mil para Alessandro, R$ 13,25 mil para Adezângela e R$ 10,27 mil para Célio.
O Outro lado
Procurada
pela reportagem, a prefeita disse que precisou viajar mais porque o Orçamento
do município caiu muito no ano passado e é necessário buscar recursos no Estado
e na União. “Com a crise, o recurso diminuiu muito e estamos correndo atrás de
benfeitorias para o município. É tempo de vacas magras”, afirmou Iolanda.
A prefeita
comparou o trabalho que é realizado pela sua gestão e pela anterior. “O ex-prefeito
recebeu muito dinheiro e nem fez muita coisa assim. Como a gente está correndo
atrás para ver se consegue as coisas, pode ter sido isso que às vezes aconteceu
alguma diária a mais do que as dele”, disse Iolanda.
Questionada
sobre a diferença de R$ 58 mil nas diárias de prefeito entre 2016 e 2017, ela
disse que “se colocar tudo mesmo na ponta do lápis, o trabalho das duas gestões
nem se compara”. Segundo ela, todos os destinos e gastos estão documentados.
A prefeita
afirmou ainda que não utiliza carro oficial nem motorista e paga combustível
com recursos próprios. “Eu mesma dirijo meu carro ou o meu marido. Isso tudo é
economia para a prefeitura”, disse Iolanda.
Além disso,
justifica, já conseguiu R$ 40 milhões em obras para o município com as audiências
nas quais esteve.
Depois do
contato feito pela reportagem, Alessandro enviou um e-mail, assinado pela
prefeita, dizendo que “os valores são compatíveis com a maioria dos municípios
goianos, se for feita uma comparação com valores atuais”. O texto coloca ainda
que apenas a economia com carro e motorista “daria para cobrir os gastos de
diárias por quatro anos de mandato”.
A prefeita e
o secretário de Finanças afirmam ainda que as obras conquistadas são em esgoto,
asfalto, rede de água e infraestrutura, e mais recursos para custeio e
investimento em saúde, educação e assistência social.
Receita em queda
Segundo
informou o TCM à reportagem, as receitas do município caíram 10% de 2016 para
2017, considerando a inflação do período, de acordo com o Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA). Em 2016, a arrecadação da prefeitura foi de R$ 16,1
milhões (incluindo a inflação) e de 2017, de R$ 14,6 milhões. Em 2014, a
receita da cidade era bem superior - de R$ 25 milhões, também com aplicação da
inflação.
Questionada
sobre a previsão de gastos de diárias para este ano, Iolanda afirmou que a
situação financeira está “bem pior do que ano passado” e que, por isso,
continuará buscando recursos para o município.
Fonte: O
Popular
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