O nordeste
goiano abriga algumas das mais belas paisagens do Brasil. Conhecida
internacionalmente, a Chapada dos Veadeiros tem sido destino certo de
apreciadores do ecoturismo de todo o mundo desde a década de 1970, ainda nos
dourados anos da cultura hippie. De lá para cá, o perfil dos visitantes tem se
transformado, abrangendo os mais diversos públicos, e novas localidades vêm
sendo descobertas.
Entre os
cinco municípios que compõem a grande chapada, São João d’Aliança revelou, nos
últimos anos, cachoeiras deslumbrantes, como Label, Complexo Veadeiros e
Bocaina do Farias, até então pouco conhecidas, e entrou no radar dos viajantes.
O sociólogo
Haroldo Pereira descobriu, na semana passada, alguns dos encantos são
joanenses. Frequentador da Chapada dos Veadeiros há mais de duas décadas,
decidiu, pela primeira vez, ficar hospedado no município. Com a filha Clara e a
esposa, Carolina, foi comemorar o aniversário de 44 anos. Pela internet, alugou
uma casa em um sítio e se surpreendeu positivamente. “Ficamos quatro dias e
conhecemos locais maravilhosos. Foi uma experiência gratificante e espero
voltar, pois não foi possível visitar a Cachoeira do Label, pois havia um
incêndio naquela direção. Por prudência, preferimos mudar os planos. Fomos para
a Cachoeira do Dominguinhos e encerramos o passeio muito bem”, conta.
Conhecido
como Portal da Chapada dos Veadeiros, pois é o primeiro município da região
para quem segue de Brasília pela GO-118, São João d’Aliança está localizado a
cerca de 160km da capital do país. O posicionamento estratégico favorece o
desenvolvimento do ecoturismo local, tendo em vista o fluxo de visitantes que,
obrigatoriamente, cruzam a cidade, antes de chegar a destinos mais famosos,
como o Parque Nacional, na vila de São Jorge. Mas, de mero ponto de passagem, a
localidade tem evoluído para polo turístico, graças ao trabalho de
empreendedores e ao apoio oferecido pela nova administração da prefeitura.
Primeira
mulher eleita para chefiar o Executivo municipal, Débora Domingues (PL), 40
anos, ocupa o cargo desde 2017. Desde então, atendendo um histórico apelo de
grupos da comunidade local, passou a oferecer mais atenção à vocação regional
para o ecoturismo. “Estamos vivenciando uma grande ascensão no turismo. Temos
investido e acreditado no nosso potencial turístico, que, a médio prazo, promoverá
geração de emprego e renda, desenvolvimento econômico, social e sustentável. É
muito importante que o turista nos reconheça como o Portal da Chapada e
valorize as riquezas naturais que temos”, diz a mandatária.
O momento e
o futuro de bonança são perceptíveis. Nos últimos anos, multiplicaram-se os
negócios na cidade relacionados ao ecoturismo: praças foram construídas;
inaugurou-se novos hotéis e pousadas; proprietários de fazendas abriram as
porteiras para que visitantes acessem as cachoeiras, mediante pagamento de
ingresso; lanchonetes e restaurantes incrementaram os serviços. Apesar disso,
sobram desafios para que o município se consolide como destino turístico. “O
grande problema é a falta de infraestrutura: estradas e pontes. O município tem
investido, mas temos uma área territorial extremamente extensa (3.327km²), o
que dificulta a manutenção constante das rotas de pontos turísticos. Então,
tenho buscado inúmeras emendas junto ao Ministério do Turismo para impulsionar
ainda mais o Portal da Chapada”, diz Débora Domingues.
De guia
turística a gestora de dois dos mais belos atrativos naturais da região, as
cachoeiras do Cantinho e das Paredes, Zeria Severo, 55 anos, sonha com a
possibilidade de o ecoturismo garantir a preservação do cerrado na região.
“Cuidar desse paraíso é muita responsabilidade numa época de tanta degradação
ambiental. Estamos aqui há 30 anos e vi esse caminho de 40km morrendo aos
poucos, transformado nessa imensidão de deserto verde (monoculturas de soja e
milho). Espero que esse pedacinho, no futuro, continue uma reserva voltada para
o turismo ecológico, preservando parte da fauna e da flora do nosso cerrado”,
comenta.
Fogo no
Cerrado
Durante
quatro dias, da última segunda até quinta-feira, uma área de 315 hectares de
cerrado preservado, na Serra do Paranã, foi devastada pelas chamas. A ação do
Corpo de Bombeiros de Planaltina de Goiás, de voluntários da Rede Contra Fogo e
de moradores locais, no entanto, conseguiu debelar o incêndio florestal e
garantiu, por ora, a preservação de um espaço, pelo menos, cinco vezes maior.
Oportunidade
de investimento
Lugar de
gente simples, trabalhadora e festeira, São João d’Aliança ainda traz evidentes
traços das típicas cidades do interior de Goiás — há quem goste e quem rejeite.
Incontestáveis, no entanto, são as belezas naturais. A Cachoeira do Label, com
187 metros de altura, é a mais alta do estado e tem sido um dos atrativos mais
procurados pelos visitantes. Está localizada a cerca de 30km do centro urbano,
descendo a sinuosa Serra do Paranã, e emociona os turistas com águas
cristalinas e uma visão exuberante.
Para
Marcello Clacino, 36 anos, proprietário da RPPN Reserva Bellatrix, onde está
localizada a Cachoeira do Label, no entanto, a missão vai além de lucrar com a
movimentação de turistas. “O objetivo maior é trazer consciência e
sustentabilidade por meio do turismo em uma cultura que, antes, enxergava um pé
de baru como madeira usada em cercas, mas, hoje, prefere fotografar a árvore
viva, que rende até 20 vezes mais com a comercialização das castanhas. Por trás
do atrativo Cachoeira do Label, temos todo um trabalho de envolvimento regional
da comunidade da Chapada dos Veadeiros, com a atividade turística valorizando a
cultura local e os recursos naturais de forma sustentável, trocando mineração
por visitação; extração de madeira por venda de castanhas, extração de óleos e
fotos de paisagem”, comenta.
Atualmente,
cerca de 10 atrativos naturais estão, oficialmente, disponíveis para a
visitação de turistas, mas há, ainda, inúmeras cachoeiras aguardando
autorização para acesso dos viajantes. São os casos, por exemplo, da Cachoeira
das Andorinhas e do Vale do São Pedro. “Nossa capacidade de atendimento tem
crescido bastante. São cerca de mil leitos disponíveis e potencial para servir
até 1,5 mil refeições diariamente. Existem propriedades rurais à venda, onde
estão localizadas belas cachoeiras. Alguns donos originais não perceberam a
oportunidade oferecida pelo ecoturismo, mas existe a esperança de novos
investidores chegarem ao município”, comenta o secretário de Turismo e Meio
Ambiente do município, Geraldo Bertelli.
Fonte: Correio Braziliense
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