Sem nenhuma
menção no inquérito policial, de 853 páginas, o ex-governador e presidente
estadual do PSDB, José Eliton, foi alvo nesta terça-feira (15) de mandado de
busca e apreensão na Operação Terra Fraca, da Delegacia Estadual de Combate à
Corrupção (Deccor), que investiga desvio de recurso em contrato da antiga
Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), atual Goinfra. O ex-governador
se disse “perplexo” e que não sabe do que está sendo acusado.
A inclusão
de Eliton ocorreu por associação com a Operação Decantação 2, deflagrada em
março de 2019, da Polícia Federal, que investigou supostos pagamentos
irregulares da Saneago à empresa Sanefer com benefícios ao PSDB. Não houve
ainda conclusão do processo da Decantação 2.
A Sanefer é
de propriedade de Carlos Eduardo Pereira da Costa, assim como a Terra Forte
Construtora, empresa investigada na Terra Fraca. “São coincidentes o modus
operandi e os instrumentos utilizados para o desvio de dinheiro público,
empregados pelo grupo criminoso na investigação supracitada da Polícia Federal
- Operação Decantação, com a investigação em apuração nos autos Inquérito
Policial nº 05/2020/DECCOR”, diz a representação com o pedido dos mandados de
busca.
O inquérito
da Deccor investiga o contrato número 199/2013, assinado pela Agetop com a
empresa Terra Forte Construtora, para obras de terraplanagem e pavimentação da
GO-230, entre Mimoso de Goiás e Água Fria de Goiás. A obra foi paralisada por
diversas vezes e teve aditivos até 2018, com valor total de R$ 65,7 milhões.
O delegado
Luiz Gonzaga, responsável pela operação, afirma que há suspeita de desvio de R$
46 milhões, em valores atualizados. No entanto, a Justiça determinou,
juntamente com os mandados de busca e apreensão, bloqueio de bens em total de
R$ 29,2 milhões.
Em
entrevista coletiva na manhã desta terça-feira, o delegado afirmou que as
investigações apontam “núcleos político e financeiro” para sustentar as
irregularidades no contrato. Ele citou suspeitas de peculato, organização
criminosa, superfaturamento, descaracterização do objeto, subcontratação ilegal
(da empresa EHL) e lavagem de dinheiro.
“O núcleo
político garantia os pagamentos das medições realizadas e o núcleo financeiro
girava esse dinheiro do grupo de forma a transparecer um caráter lícito,
configurando a figura de lavagem de dinheiro”, afirmou o delegado.
O delegado
não falou sobre os investigados e não explicou a medida contra Eliton, alegando
impedimento legal. “Não podemos tecer comentários sobre pessoas investigadas. A
lei de abuso de autoridade veda esse tipo de conduta. O que podemos afirmar,
com base nos indícios já apresentados até o momento, é que havia os núcleos que
davam todo o sustentáculo para a execução e atuação dessa organização
criminosa”, disse.
Na decisão
judicial, não é citada nenhuma atuação de Eliton especificamente no contrato da
Agetop.
A polícia
conseguiu 22 mandados de busca e apreensão, que tinham como alvos 7 empresas e
7 pessoas físicas. Além de Eliton e Carlos Eduardo, foram alvos Luiz Alberto
Oliveira, conhecido como Bambu, ex-chefe de Gabinete de Marconi Perillo e
empresário; Gisella Silva de Oliveira Albuquerque, filha de Bambu e
ex-servidora comissionada do Estado; Arnaldo de Barros Moreira da Silva,
servidor da Agetop, que foi fiscal da obra e está afastado da função por
decisão da direção da Goinfra; Nilvane Tomás de Sousa Costa, mulher de Carlos Eduardo,
dona da Terra Forte Construtora; Wilmar Oliveira de Bastos e Geraldo Antônio de
Resende Sampaio, proprietários da EHL.
O delegado
afirmou que os objetos apreendidos serão analisados e não há previsão de
conclusão do inquérito. “Com a análise dos objetos vamos robustecer indícios de
autoria e materialidade já apurados até o momento”, afirmou.
Eliton teve
o celular e o HD do computador apreendidos. Do escritório de Carlos Eduardo,
foram levados HDs e documentos sobre o contrato.
Citações
Na
representação em que pede as medidas cautelares, o delegado afirma que a
Decantação 2 apontou que Eliton “atuava na gestão e manutenção de contratos
públicos do Estado de Goiás com empresas vinculadas a Carlos Eduardo”.
Também com
base na Decantação ele cita que, em contrapartida, o ex-governador recebia
retornos financeiros decorrentes de lavagem de capitais operada pelos
integrantes do núcleo financeiro, Luiz Alberto Oliveira e sua filha, através
das empresas de fachada Lual Administração e Empreendimentos e Luau
Investimento e Empreendimentos Ltda., ambas sediadas na casa de Bambu.
Ele cita
ainda que Eliton “foi flagrado em transação financeira suspeita, assim como na
utilização de aeronave dos empresários investigados”. Na época da Decantação, o
ex-governador apresentou documentos para afirmar que comprou cabeças de gado de
Carlos Eduardo, no valor de R$ 101 mil. Ele também admitiu ter utilizado a
aeronave do empresário, tanto em voos contratados pelo PSDB como particulares.
‘De que
estou sendo acusado?’, questiona ex-governador
O
ex-governador José Eliton, presidente do PSDB goiano, disse ao POPULAR que
recebeu a Operação Terra Fraca, da Delegacia Estadual de Combate à Corrupção
(Deccor) com “perplexidade e estranheza”, especialmente pelo fato de não ter
sido citado no inquérito. “Qual é a razão de uma medida como esta (busca e
apreensão) na minha casa e no meu escritório? De que estou sendo acusado, se é
que estou? Qual imputação é feita a mim? O inquérito não responde”, diz.
Ao comentar
a apreensão de celular e computador em sua casa, no condomínio Aldeia do Vale,
o ex-governador evitou fazer acusação de interferência política, mas sugeriu
que tenha sido alvo por conta da posição mais ativa no comando do PSDB e com
críticas ao governo de Ronaldo Caiado (DEM).
“Estamos
vivendo um momento que se aproxima muito de uma realidade autoritária, em que
aqueles que divergem devem ser eliminados, massacrados. Mas mantenho com muita
tranquilidade minhas posições, que são conceituais, acreditando que vivemos em
uma democracia, em que as pessoas têm o direito de divergir, de expor sua
opinião”, disse. Ele afirmou que não fará avaliação subjetiva da investigação
porque “tem respeito às forças policiais e às instituições” e seu perfil é de
“prudente e legalista”. “Prefiro crer em equívocos que ocorrem no dia a dia do
Brasil de hoje.”
Eliton disse
que nunca atuou em favor de contratos, aditivos ou pagamentos de empresas de
Carlos Eduardo Pereira da Costa e que nunca acompanhou ou se envolveu com
contrato de obras da Agetop. Também nega que componha qualquer tipo de núcleo
financeiro ou político citado pelo delegadoLuiz Gonzaga, juntamente com Bambu.
Eliton afirmou que não há ações penais nem de improbidade contra ele e que seus
advogados vão analisar medidas sobre a operação.
Carlos
Eduardo disse que é alvo de perseguição por parte do comando da Goinfra e que o
presidente Pedro Sales “passou por cima de trâmites legais” para tirar sua
empresa da obra.
Fonte: O Popular
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