Moradores do
Distrito Federal relatam ter tido leishmaniose após viajarem para a região da
Chapada dos Veadeiros e outras áreas de Goiás. Dados de atendimento do Hospital
Universitário de Brasília (HUB) (foto em destaque), considerado um centro
especializado contra a doença, que é uma zoonose, sugerem aumento qualitativo
de casos em pessoas que circularam por essa região. O centro de atendimento à
saúde, no entanto, afirma não ter informação suficiente para caracterizar um
surto.
De janeiro
de 2020 a 8 de dezembro de 2021, o hospital universitário realizou mais de mil
atendimentos em decorrência da doença. O tratamento da leishmaniose é realizado
com antiparasitário aplicado na veia todos os dias por quase um mês. Segundo o
HUB, o aumento de casos humanos está relacionado ao crescimento do contato com
os vetores, seja pelo desmatamento para consolidação das áreas rurais de
produção agrícola, seja pelo crescimento de cidades.
Um fator
importante também seria a exposição de pessoas às áreas de matas pelo turismo
ecológico, como é característica da Chapada dos Veadeiros.
A consultora
administrativa Renata*, 33 anos, e o marido viajaram para a Chapada dos
Veadeiros em setembro deste ano. O casal, que mora no Cruzeiro, optou por um
camping a fim de evitar aglomerações em pousadas. Depois de duas semanas da
viagem, já em Brasília, o homem percebeu uma ferida que se espalhava pelo
corpo. Eles foram a vários hospitais até que veio a hipótese de leishmaniose.
“Nós ficamos
peregrinando por mais de um mês para descobrir o que era, porque todo médico
que a gente ia não conseguia identificar o que o meu marido tinha”, relembra
Renata. Uma biópsia confirmou a doença e, então, o casal procurou tratamento no
HUB.
“A gente
viajaria dia 14 agora, de férias. Não vamos mais, porque temos de fazer esse
tratamento. Ele tem de tomar medicação por mais de 20 dias direto”, lamenta a
consultora administrativa. Segundo a moradora do Cruzeiro, o remédio usado no
tratamento é forte e provocou dores de cabeça e enjoos ao marido.
Casos
vindos de Goiás
De acordo
com dados da Secretaria de Saúde, que contabilizou os casos ocorridos até
setembro de 2021, Goiás é considerado o principal estado de origem de
leishmaniose nos hospitais do DF. Neste ano, a unidade federativa seria o
provável local de infecção para 20 ocorrências, enquanto o Distrito Federal,
quatro. Apesar disso, os números não indicam surto. Até setembro foram
registrados apenas 53 ocorrências no Planalto Central.
Segundo
Renata, a quantidade de pacientes que são atendidos todas as quartas-feiras no
HUB a deixou chocada. “A partir de 13h, é lotado de gente com leishmaniose.
Você fica ouvindo alguns casos de pessoas com a doença. É impressionante”, diz
a consultora.
O
crescimento de casos de leishmaniose ocorre geralmente pelo aumento do aquecimento
global, crescimento populacional desordenado e desmatamento. Sendo assim, a
prevenção da doença, segundo a secretaria, pode ser feita por meio de medidas
individuais de proteção contra o mosquito transmissor e ações de preservação do
meio ambiente e controle do crescimento urbano desordenado.
A pasta
recomenda ainda usar roupas compridas, aplicar repelentes em áreas de pele
exposta, dormir em casas protegidas com telas e mosquiteiros. É indicado também
que os residentes do DF não fiquem desprotegidos nas atividades em matas e
beira de rios, especialmente à noite.
Outro
caso
A
funcionária pública Luana* também procurou o HUB a fim de buscar atendimento
para a leishmaniose. No caso dela, a filha é a paciente alvo das aplicações do
antiparasitário. Recentemente, a menina também viajou para a Chapada dos
Veadeiros.
“A minha
filha ficou meio deprimida e meio cansada, mas agora ela já tá levando bem. Ela
tem que tomar duas ampolas da medicação todos os dias.”
O HUB tem
ambulatório de dermatologia com agenda específica para o atendimento de
indivíduos com leishmaniose, recebendo pacientes do DF e do Entorno. “As
pessoas com suspeita da doença devem apresentar encaminhamento médico e
procurar o Ambulatório de Dermatologia do HUB às quartas-feiras à tarde, quando
são disponibilizadas cinco novas vagas”, informa a instituição.
O outro
lado
A prefeitura
de Alto Paraíso (GO) foi procurada com o objetivo de saber se existe algum
alerta na região para o aumento no número de casos de leishmaniose e o que tem
sido feito para evitar a propagação da doença, mas até a última atualização
desta reportagem, ninguém havia respondido aos questionamentos do Metrópoles. O
espaço segue aberto para futuras manifestações.
Entenda
os perigos da leishmaniose
Werciley
Júnior, infectologista do Hospital Santa Lúcia, explica que a leishmaniose pode
se desenvolver de duas formas diferentes: a cutânea e a visceral. A primeira
atinge basicamente a pele, gerando feridas pelo corpo, enquanto a segunda é
mais grave e atinge os órgãos.
Segundo o
especialista, todas as regiões perto do Distrito Federal apresentam índices
consideráveis de leishmaniose. Ele ressalta se tratar de uma doença de
notificação compulsória, ou seja, é possível fazer a rastreabilidade dos locais
e regiões em que há a doença.
“A
transmissão basicamente é causada pela picada de inseto. Normalmente do
mosquito-palha. O mosquito transmite a Leishmania, que é um parasita que usa
normalmente como reservatório e hospedeiro o cão”, explica o especialista.
Nos humanos,
os principais sintomas da leishmaniose cutânea são coriza, dor ao engolir,
rouquidão, tosse e lesões na pele, nariz, boca e garganta. Já o outro tipo pode
causar febre de longa duração, aumento do fígado, perda de peso, fraqueza,
redução da força muscular e anemia. Os riscos são a desnutrição e lesões
esplênicas.
Fonte: Política Distrital
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