Cavalcante
(GO) — Quando se aposentou, o chileno Manuel Alejandro Murga Medina, 66 anos,
pretendia trocar a agitada Santiago por uma cidade interiorana. Escolheu uma
localidade do norte do país, por ser mais quente. Mas reviu o plano após nascer
o primeiro neto, em Cavalcante (GO), em 2005.
A filha de
Manolo, como é mais conhecido, havia se casado com um goiano do município de
9,7 mil habitantes, no norte de Goiás, a
360km de Brasília. O avô fez a primeira viagem ao Planalto Central em
função do bebê. Gostou do que viu. Especialmente da natureza e do sossego.
Voltou no ano seguinte para ficar de vez.
Depois de
comprar uma chácara a 1km da área urbana, Manolo decidiu fazer o que mais
gostava: cerveja. Bioquímico, havia trabalhado 30 anos em uma grande cervejaria
chilena. Mas, aposentado, queria fazer uma bebida ao gosto e à maneira dele.
em pressa e
sem grandes ambições, começou a realizar experimentos, em 2006. Logo
desenvolveu algumas fórmulas e começou a produzir e a engarrafar a sua cerveja,
a Aracê, que em tupi-guarani significa “novo amanhecer”. No começo, tudo era
feito na cozinha da casa simples de adobe que construiu na propriedade cercada
pelo cerrado virgem, com as águas do Córrego Tapuio ao fundo.
Desde então,
o que era um passatempo passou a ser o negócio de Manolo e a mulher, também
chilena, Maria Soledad Ramirez Cardemil, a Sole, 58 anos. A demanda pela Aracê,
primeira cerveja artesanal feita na Chapada dos Veadeiros, aumentou tanto que,
em 2015, o casal construiu um galpão ao lado da pequena casa, onde instalaram a
fábrica da Aracê, que, apesar de novos equipamentos, continuou a ser feita de
forma artesanal.
O casal
transformou a antiga residência em bar e restaurante, onde recebe clientes para
degustação, acompanhada por petiscos e pratos brasileiros e chilenos. Para
eles, ergueram outra casa, no mesmo terreno. “Temos 22 pontos de distribuição
da Aracê em Cavalcante, Alto Paraíso e São Jorge”, conta Manolo.
Fruto do cerrado
A fabricação
inclui cervejas clara, escura e sem álcool, chopp claro e chopp escuro, feitos
sob o sabor do lúpulo e 100% malte, vindo de Guarapuava (PR) e importado da
Alemanha (escuro). A água vem do Córrego Tapuio. O processo leva até oito dias
para o produto ficar pronto. “A nossa cerveja tem alta fermentação, sem corante
ou aditivo químico. E a água é ótima para esse tipo de bebida”, ressalta o
mestre cervejeiro. Em seus experimentos para desenvolver a sua cerveja, Manolo
usou frutos do cerrado. Um deles, o baru, rendeu a mais recente novidade, feita
da castanha da fruta.
Além da
tranquilidade e da proximidade da filha e do neto, o casal decidiu ficar em Cavalcante por causa das particularidades,
como as frutas, e da gente da região, como os descendentes de escravos que
moram em comunidades criadas em meio às serras que dominam o município.
Sole e
Manolo gostaram tanto de viver em meio ao cerrado que não o deixaram nem quando
a filha se separou do marido e decidiu voltar para Santiago, com o filho. “Eles
sempre nos visitam, assim como os nossos irmãos e sobrinhos. Os meus irmãos e
cunhados, inclusive, já fazem plano de se mudarem para cá, quando se
aposentarem”, ressalta Manolo.
Produto em alta
O segmento
artesanal representa 0,7% do setor cervejeiro do Brasil, segundo dados do
Instituto da Cerveja. A expectativa é de que esse índice aumente para 9% até
2022. A produção da categoria é estimada em 124 milhões de litros por ano. Em
2016, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 148 novas
cervejarias foram criadas no país, somando 522 empresas. O crescimento foi de
39,6% no número de companhias.
Anote
Onde fica:
estrada para Colinas do Sul, Km 1 (1km de terra).
Funcionamento:
de segunda a quinta-feira, das 14h às 22h; sexta-feira e sábado, das 14h à 0h;
domingo, das 14h às 20h.
Aceita
cartões de crédito e débito.
Tel.: (62)
99804-2501
Mais
informações: facebook.com/cervejaria.arace
Fonte:
CorreioWeb
Comentários
Postar um comentário