A maioria
dos municípios goianos que contam com médicos de Cuba são de pequeno porte. Com
a saída dos profissionais do programa do Governo Federal Mais Médicos,
anunciada pelo país caribenho na última quarta-feira (14), essas cidades devem
ficar com o atendimento na Saúde pública defasado. Atualmente, Goiás possui 198
médicos cubanos espalhados em 93 municípios. Desses, 66,6% têm menos de 20 mil
habitantes e em 50,5% a população não chega a 10 mil.
A situação é
mais drástica em municípios do Norte e Nordeste do Estado, explica a presidente
do Conselho de Secretários Municipais de Saúde de Goiás (Cosems-GO), Gercilene
Ferreira.
“Os médicos
não querem ir, porque não tem infraestrutura. Além do salário ter que ser
maior. Antes do Mais Médicos, a gente pagava um absurdo para (os profissionais
brasileiros) ficar e mesmo assim eles não queriam ir. Se aqui na Região
Metropolitana de Goiânia paga R$ 10 mil, lá paga R$ 40 mil e o médico não quer
ir”, relata a gestora, que também é secretária de Saúde em Trindade.
Gercilene
conta que há casos de municípios que dependem exclusivamente do programa
Federal, onde os únicos médicos disponíveis são os cubanos. “São esses
municípios pequenos, pobres e que não tem estrutura”. A remuneração do Mais
Médicos é R$ 11,5 mil mensais.
Desde o
anúncio da retirada dos médicos, o grupo da Agência Goiana de Municípios (AGM),
no aplicativo WhatsApp, está lotado de mensagens de prefeitos preocupados com o
futuro da Saúde em seus municípios. Presidente interino da entidade, Kelson
Vilarinho (PSD), que também é prefeito de Cachoeira Alta, explica que, muitas
vezes, as cidades pequenas não possuem recurso suficiente para pagar médicos.
Ele reitera que o médico em cidades mais afastadas é mais caro.
Além disso,
segundo Vilarinho, os prefeitos se preocupam com a perda da popularidade
causada pela saída dos médicos cubanos. “O cidadão chega na porta do postinho e
está sem médico? Hoje, a Saúde é o calcanhar de Aquiles de qualquer prefeito.”
Divergência
Diferente
dos prefeitos e gestores municipais, o presidente do Conselho Regional de
Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Leonardo Mariano Reis, diz ver com bons
olhos a saída dos cubanos e diz concordar com as críticas do presidente eleito
Jair Bolsonaro (PSL) ao programa. “É um impacto positivo, porque vai trocar
médicos cubanos por goianos”, defende o representante da entidade.
Para ele, o
intervalo sem médicos vai ser curto e avalia que até o final do ano brasileiros
já estarão no lugar dos cubanos. “É muito pouco (médicos cubanos). Não vai ter
muita dificuldade não”, garante.
Mariano Reis
se refere aos profissionais cubanos como “pseudo-médicos” porque eles não têm obrigação
de passar pela prova de revalidação do diploma por até três anos no Brasil. Por
isso, não possuem inscrição nos conselhos regionais de medicina e não são
fiscalizados pela entidade.
O presidente
do conselho diz que os cubanos são motivo de chacota por supostamente já terem
passado receitas médicas erradas. Questionado sobre esses casos, Leonardo disse
que as denúncias são repassadas para o Ministério Público Federal (MPF), que
elas não ficam registradas no Cremego e que não se lembra de casos concretos.
“A gente não instaura procedimento contra essa turma.”
O
representante dos médicos goianos também nega que os brasileiros tenham ficado
de fora do programa Mais Médicos por opção própria. Segundo ele, nos últimos
anos, a quantidade de médicos tem aumentado, com a criação de novos cursos, e
há muitos profissionais para poucas vagas no mercado. Ele também lembra que há
muitos casos de médicos que vão trabalhar em cidades do interior, em contratos
direto com as prefeituras, e ficam sem receber.
Malas prontas
O fim da
participação dos médicos cubanos no programa Mais Médicos vai atingir
diretamente a área rural de Mutunópolis, Norte de Goiás, cerca de 400 km da
capital. A cidade possui apenas três profissionais para atender seus 3,9 mil
habitantes, sendo que uma é a cubana Silvia Caridad Verdecia Verde. Ela é
responsável por uma unidade de Estratégia Saúde da Família que atende onze
assentamentos rurais do município.
“No momento
a gente não tem como distribuir os outros dois médicos para a zona rural e a
gente não tem condições de pagar outro médico”, conta a secretária de Saúde de
Mutunópolis, Valdirene Sales Barbosa. A cidade possui um médico brasileiro que
trabalha por contrato e outro concursado. De acordo com a gestora, Silvia, que
trabalha na cidade há quase dois anos, conquistou a população local e era até
mais atenciosa que os profissionais locais.
Já São Luiz
do Norte, cerca de 250 km da capital, vai ficar com apenas um médico em residência,
com a saída do cubano Eriberto Aguilera Reyes, que está na cidade desde o
início do Mais Médicos, em 2013. “É um prejuízo enorme”, avalia o secretário de
Saúde da cidade, Afonso Ferreira. O município tem 5 mil habitantes.
Fonte: O
Popular
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