Autoridades do município confirmaram a presença do ator Henri Castelli nas redondezas |
Mateus da dupla com Jorge, esteve com a esposa na Chapada e publicaram fotos em cenários conhecidos |
Em um mês de
maio corriqueiro, a Chapada dos Veadeiros estaria se preparando para a alta
temporada. É no início da seca que o movimento de turistas aumenta. Os
viajantes chegam de todas as partes do mundo – principalmente de Brasília,
distante 200 quilômetros – para reverenciar as famosas paisagens e cachoeiras,
ainda mais belas e convidativas após o período chuvoso.
Este ano, no
entanto, a região considerada um dos principais refúgios dos moradores da
capital federal, está deserta. Ou, pelo menos, deveria estar.
Para
preservar a saúde da população das cidades que compreendem a Chapada do
coronavírus, atrativos naturais, hotéis, pousadas, áreas de camping e
restaurantes estão proibidos de funcionar.
Até o
momento, nenhum caso de Covid-19 foi confirmado nos municípios de Alto Paraíso
e Cavalcante, mas o esforço visa manter a curva de contaminação no zero, uma
vez que a estrutura hospitalar não tem condições de enfrentar um cenário de
transmissão comunitária. Em Campos Belos, que também faz parte da microrregião
da Chapada dos Veadeiros, foram registrados 14 casos em apenas nove dias.
A intenção
de bloquear o acesso é justificável, mas, com uma economia ancorada basicamente
no turismo e na prestação de serviços, as mesmas medidas que protegem colocam
as famílias diante de um cenário de vulnerabilidade e medo.
Todos
relatam tempos difíceis, de empresários a guias autônomos e agricultores
familiares, que fornecem alimento para restaurantes e pousadas.
Portas
fechadas
No Bar do
Pelé, um dos principais pontos de encontro em São Jorge, o pátio antes
disputado por dezenas de mesas e cadeiras segue vazio há dois meses.
Considerado parada obrigatória por quem frequenta a vila, o bar fundado em 1984
por Valdir Silva, o falecido Pelé, é a única fonte de renda da família,
chefiada, agora, por Natalina Batista, de 51 anos.
“Não sabemos
o que fazer”, desabafa a viúva. “Em São Jorge, pelos menos mil famílias não têm
como sobreviver com tudo fechado. Nos perguntamos: como um lugar tão lindo pode
virar uma cidade fantasma?”.
Sem previsão
para retomada do turismo, as estratégias de marketing não têm funcionado. “Fiz
uma ação em que as pessoas compravam a hospedagem com 50% de bônus, mas poucos
interessados me procuraram. Com isso, tivemos que suspender o contrato com três
funcionários. E muitos colegas precisaram fazer o mesmo”, conta Bruno Mello,
proprietário da hypada pousada de camping Taiuá Ambiental.
O empresário
explica que as características climáticas do cerrado tornaram o problema ainda
mais crítico. “Saimos de um período chuvoso e bem intenso com uma quantidade
baixa de turistas. De repente, tivemos que fechar. É diferente de quem está
empreendendo na praia”, avalia.
No município
de Cavalcante, guias turísticos também sofrem com o cenário de incertezas.
“Está muito difícil, já estou entrando em desespero”, lamenta Cristina Sangalo,
conhecida por guiar artistas famosos pelas cachoeiras da região. “Tenho uma
casa de temporada, todos os dias alguém de Brasília me procura para alugar, mas
não podemos”, conta.
Medidas
ignoradas
O momento
exige sacrifícios da população e bom senso dos turistas. No entanto, muitos dos
que deveriam dar exemplo – e, por vezes, usam as redes sociais para exaltar a
cultura e o modo de vida da região – têm ignorado as medidas de proteção e
colocado as comunidades locais em risco.
É o caso do
ator Henri Castelli, flagrado na semana passada em uma barreira sanitária em
São João d’Aliança, no portal da Chapada dos Veadeiros. Segundo informações da
prefeitura de Alto Paraíso, o ator alegou que estava indo realizar um trabalho
e seguiu para o vilarejo de São Jorge.
Procurada, a
assessoria de imprensa do ator informou que Castelli “estava em Goiânia fazendo
um trabalho social’. Depois, “ele foi a Cavalcante, para a fazenda de um amigo
que está vazia, fechada, fotografar para essa ação”.
Em Goiânia,
Henri foi fotografo junto a vários amigos em um churrasco, ignorando a
distância mínima recomendada e sem usar máscara de proteção.
Moradores
também relataram ter visto o cantor Mateus, da dupla com Jorge, na região. O
sertanejo até postou um clique em uma famosa casa de vidro, disponível para
aluguel na internet.
Já a esposa
de Mateus, a médica Marcella Barra, publicou o registro de uma visita a uma
cachoeira, localizada próxima à propriedade. Vale lembrar que tanto os
atrativos naturais quanto as pousadas e casas de temporada estão proibidos de
funcionar.
A reportagem
procurou a assessoria de imprensa da dupla para questionar quando as fotos
foram tiradas e qual o motivo da visita do casal, mas não obteve retorno até o
fechamento da matéria.
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