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Lendas e mitos folclóricos: Pé de garrafa, Mulher de Branco entre outros. O Estado tem histórias de causar inveja a qualquer Dia das Bruxas.



José Abrão

O povo goiano é conhecido por sua vida pacata de interior e pela sua contação de causos. Não é de admirar que muitas histórias do folclore nacional se misturem ao goiano além de alguns outros mitos locais, específicos de uma ou outra região.

 Monstros e almas penadas permeiam o imaginário goi­ano. “Segundo o que conheço, as lendas das cidades do interior de Goiás costumam ser variações de mitos conhecidos como os do Lobisomem, Saci, Mula sem Cabeça etc. Não há muita variação de uma cidade para outra. Porém, acredito que existam algumas particularidades”, comentou o professor de História da UEG, Ademir Luiz. Hoje é Dia do Saci no Brasil e Dia das Bruxas no Hemisfério Norte. Para ouvir boas histórias de terror, não é preciso nem sair da cidade.

Tereza Bicuda

Em Jaraguá vivia uma negra muito má e muito feia, com uma boca que parecia um bico que vivia maltratando a mãe e fazendo outras maldades. “Um dia ela colocou arreios na mãe e saiu pela Rua das Flores galopando. A velha morreu e jogou uma praga na filha. Após um tempo, Tereza morreu e foi enterrada no interior da Igreja do Rosário. Durante a noite, houve uma ventania terrível e Tereza amanheceu fora da cova. Enterraram-na, então, do lado de fora da igreja e aconteceu a mesma coisa: no dia seguinte, ela apareceu fora da sepultura”, contou Jordana Barbosa, que fez um documentário sobre a lenda. Assustados, os moradores da cidade jogaram o corpo da negra na Serra de Jaraguá. Onde ela foi deixada, nasceu um pé de caju de cabeça para baixo, e quem visita a serra é atacado por marimbondos. Diz a lenda que, em dias de ventania, ela assombra a Rua das Flores e aterroriza os moradores que se aventurarem para fora de suas casas.

Caroneiro

Outro mito mundialmente famoso é um caroneiro que desaparece na porta do cemitério. A forma do caroneiro tende a variar: algumas pessoas dizem que era uma mulher, outras, um homem e alguns afirmam até terem sido assombrados por crianças. E sequer se precisa estar de carro ou de moto: muitas vezes o caroneiro acompanha até mesmo quem está a pé. Em Goiânia, é possível ouvir muitos relatos sobre fantasmas caroneiros na região do Cemitério Santana, em Campinas, e na região do Cemitério Parque, no Morro do Além.

Pé-de-garrafa

Eis uma criatura que possui uma história diferente em cada canto do país, mas a goiana é particularmente mais assustadora. Se trata de uma figura extremamente peluda e humanóide, que ao invés de pernas humanas possui um apêndice atrofiado terminando em uma canela em formato de garrafa. A criatura possui apenas um olho e um chifre em sua cara e vive na mata, raramente se aventurando nas regiões urbanas de Pirenópolis, Divinópolis, Corumbá e Goiás. Ela é facilmente reconhecida por seu uivo gutural muito alto. Há boatos de que come quem se perde na mata e seu único ponto fraco é seu umbigo: única parte do cor­po desprotegida de sua pelagem espessa.

Maria Grampinho

Embora Maria da Conceição tenha existido e contribuído em grande parte para o folclore e a memória da cidade de Goiás, a an­darilha amiga de Cora Coralina ocupava um lugar diferente no imaginário das crianças da época. Se dizia que ela iria pegar e levar as crianças de mau comportamento, colocando-as em sua misteriosa trouxa. Mesmo agora, anos após sua morte, ainda se fala que Maria vai levar as crianças levadas e mais: alguns turistas dizem vê-la brincando com seus grampos e a trouxa dentro da casa de Cora Co­ralina. Maria, além de provável fantasma local, acabou também virando a versão vilaboense do Homem do Saco.

A Procissão das Almas

Outra lenda antiga e presente em todas as cidades do interior, a procissão das almas conta sobre uma velha fofoqueira que testemunha uma estranha procissão à meia-noite com várias pessoas com túnicas brancas dos pés à cabeça, e que recebe uma vela de uma criança, com a promessa de vir buscá-la na noite seguinte. No dia seguinte, a vela descobre que a vela é feita de ossos de um adulto e de uma criança, então ela passa o dia com medo, esperando a procissão passar novamente para recuperar os ossos. A lenda diz que fofoqueiros em Goiás e Pirenópolis frequentemente são testemunhas do fenômeno, como forma de puni-los por suas fofocas. Além disso, a procissão também seria um presságio. De quê, vai de cada testemunha.

Romãozinho

A versão goiana do Saci, o Romãozinho, é um espírito malvado que aparece sob a forma de uma criança feia e deformada que vem para fazer travessuras e gerar o caos. Segundo a lenda, tudo começou quando o menino foi levar comida para o pai na roça e, no caminho, resolveu comer os pedaços de frango e deixar os ossos para o pai. O garoto disse ao pai que sua mãe havia mandado apenas aquilo. Furioso, o homem foi para casa, onde deu uma grande surra na mulher, enquanto o capetinha ria. Amaldiçoado pela mãe, ele percorre o sertão fazendo arte e maldades. Assim como o Saci, ele se desloca dentro de um redemoinho e também pode ser capturado dentro de uma garrafa. Foi o que o avô de Gustavo Júnior fez, o que provocou até briga na família. “Minha família sempre foi muito religiosa, e deu briga porque diziam que quem tinha o diabo em casa era porque tinha parte com ele”. Disputa vai, disputa vem, a garrafa da família acabou sumida, não se sabe se ainda na casa de alguém ou se foi quebrada.

Cavaleiro de Jaraguá

Na mesma Rua das Flores, diz-se que é possível ouvir o som de um cavalo a galope e seus relinchos ao redor de uma determinada casa antiga da rua. Se você tiver sorte – ou azar – pode até mesmo ver o cavalo e seu cavaleiro nos arredores da casa e, às vezes, até dentro dela. A lenda não dá conta da identidade do misterioso cavaleiro e nem porque ele assombra determinada casa. Isso fica a critério dos detetives de plantão.

Terror no Araguaia

Que boto que nada: As margens do Rio Araguaia são assombradas pela versão goiana do Monstro da Lagoa, o Negro D’Água. A criatura pisciforme seria completamente negra e lisa, com pés e mãos de pato e cara de peixe. A temível criatura pode ser vista entre as pedras e ataca pequenas embarcações, tentando virá-las. Se isso não fosse o bastante, o rio também é atormentado pelo Rodeiro, uma arraia gigante que ataca e come animais, barcos, pessoas e o que mais ousar cruzar as águas em seu caminho.

Fantasma do Martim Cererê

Como toda boa cidade grande, Goiânia também é recheada de lendas urbanas. Se fala muito de túneis antiaéreos que correriam por baixo do Centro da cidade, sobre o Teatro Goi­ânia para abrigar um bunker contra ataques nucleares e muitas outras coisas. Uma delas é que o Martim Cererê seria assombrado. O cen­tro cultural abrigava caixas d’água, que após desativadas foram usadas para torturar presos durante a Ditadura Militar e nem to­das saíram vivas de lá. Funcionários e frequentadores dizem ver constantemente as almas dos torturados vagando pelos teatros em que se tornaram as antigas caixas d’água.

Mulher de Branco

Um dos mitos mais famosos do mundo, este tem uma versão diferente em Goiânia. Comumente, a Mulher de Branco aparece em trevos de estradas, assombrando caminhoneiros, sendo o fantasma de mulheres mortas na estrada, se vingando e causando acidentes. Em Goiânia, porém, reza a lenda que uma Mulher de Branco podia ser vista na baixada do antigo Leite Gogó. Porém, conforme a cidade cresceu na região, ninguém dá notícia do fantasma já há algum tempo. Alguém a viu?

A Mulher de Sete Metros

Lenda muito comum até na divisa com Mi­nas Gerais, a Mulher de Sete Metros ou a Mulher Branca, de longe parece uma mulher co­mum, mas quando se chega perto, se percebe que ela é grande e começa a crescer, se tornando enorme. E mais: que ela não é uma mulher, mas sim “uma coisa de outro mundo”, como conta Antônio César, do Instituto de Pesquisa em Estudos Históricos do Brasil Central. Segundo ele, a Mulher Branca era uma aparição recorrente em Itaberaí, e os relatos sobre ela remontam ao século 19, segundo pesquisa que ele fez na região. “Dizem que o padre da cidade a viu puxando a corda do sino da igreja”, disse ele. Algo que a aparição talvez faça até hoje.

Lobisomem

Toda cidadezinha do interior que se preze tem um lobisomem. E as histórias não variam muito: sempre é algum homem recluso, meio sistemático, envolto em uma série de histórias assustadoras, como animais mortos que aparecem em volta de sua casa ou o bêbado da cidade, que jura que machucou a orelha da criatura das trevas, e lá aparece o homem na manhã seguinte com um curativo. Até em Itaberaí. “Claro que tinha!”, conta Antônio César, rindo. “Era um vizinho da Igreja Matriz muito fechado. Quando a gente era criança, todo mundo tinha tanto medo dele que e a gente dava a volta no quarteirão para não passar na rua dele”, lembra o estudioso.


O Hoje

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