A briga por
terras em São João d’Aliança (GO), município considerado o Portal da Chapada
dos Veadeiros, barrou o acesso de turistas a uma das atrações mais imponentes
da região: a Cachoeira do Label.
A
queda-d’água é a maior do Centro-Oeste, com cerca de 187 metros. A cascata
possui 19 metros a mais do que o Salto do Itiquira, em Formosa, até então
considerada a mais alta de Goiás.
Aberta ao
público em 29 janeiro deste ano, a cachoeira chegou a reunir 2 mil visitantes
ao longo dos 40 dias da Quaresma.
O local
movimentou restaurantes, guias e transporte na pequena cidade de 12,6 mil
habitantes, a 152km de Brasília.
A confusão
começou em abril, três meses após Marcello Nissen e Leonardo Clausi permitirem
o acesso do público à cachoeira. Eles dizem ter comprado, em 2016, o terreno
onde está a cascata, e batizaram a fazenda de Reserva Bellatrix.
No entanto,
quando o movimento de turistas começou a aumentar, Márcio Roberto Guimarães, um
fazendeiro da região, entrou com ação judicial alegando ser o dono da área.
Segundo
Guimarães, tanto o Córrego Extrema – que dá origem à Cachoeira do Label –
quanto o salto estão dentro da Fazenda Sucuri, com 600,22 hectares de extensão,
e não na Reserva Bellatrix.
O juiz
substituto concedeu liminar favorável a Guimarães. Dessa forma, o acesso à
cachoeira foi fechado a correntes. Além disso, as placas de sinalização, os
painéis e qualquer referência à queda-d’água foram arrancados de São João
d’Aliança e dos 26km de estrada de terra entre o município e a cachoeira.
Contestação
na Justiça
Os
responsáveis pela Reserva Bellatrix, então, recorreram. Marcello Nissen e
Leonardo Clausi alegam ter comprado o terreno em 2016 do fazendeiro João Luis
Alves da Paixão. De acordo com eles, a documentação comprova a posse e detalha
os limites da propriedade.
Conforme
relatou Marcello Nissen, ele e o sócio estão aguardando análise do recurso.
“Estamos tentando questionar a liminar desde abril, mas o juiz da comarca não
está lá e não temos qualquer resposta.
O homem que
diz ser o dono da terra hoje mora em Miami e só fez isso [acionar a Justiça]
após o início do ecoturismo na região”, disse Nissen ao Metrópoles.
Ainda
segundo Nissen, quando ele e o sócio compraram o terreno, os dois começaram a
fazer benfeitorias na reserva. “Iniciamos um projeto de reflorestamento na
região e queremos agregar o turismo sustentável.
Elaboramos
um mapa de recuperação da área, fizemos a sinalização e melhoramos a segurança
da trilha, incluindo cordas e corrimãos para apoio em locais onde a passagem é
mais difícil”, conta.
Mas agora
foram colocados cadeados nas porteiras que dão acesso à cachoeira, além de gado
na área de visitação. “Os bois estão comendo toda a vegetação que plantamos”,
lamentou Nissen.
O Metrópoles
procurou Márcio Roberto Guimarães, mas não conseguiu localizá-lo. No entanto,
nos documentos de pedido de interdição proibitória com antecipação de tutela
aos quais a reportagem teve acesso, o fazendeiro alega ter “posse direta e
indireta do terreno”.
Procurada
pela reportagem, a Comarca de Alto Paraíso (GO) não havia se manifestado até a
última atualização deste texto. Por três dias, ninguém atendeu os telefones. As
ligações foram feitas em horário comercial, ao longo de diferentes momentos do
dia.
Redes sociais
Nas redes
sociais, o grupo responsável pela Reserva Bellatrix informou o fechamento
temporário da cachoeira.
“Prezados
parceiros, visitantes e amigos, devido a um imprevisto técnico na nossa
implementação de melhorias no atrativo, informamos que, infelizmente, a
Cachoeira do Label está temporariamente fechada à visitação. Pedimos desculpas
e estamos à disposição”, diz o comunicado no Instagram.
Obstáculo ao turismo
Quando
Marcelo Nissen e Leonardo Clausi abriram a Cachoeira do Label para visitação,
em 29 de janeiro, eles fizeram ampla divulgação do local. A queda-d’água
começou a figurar em panfletos de divulgação e elevou o patamar de visitação de
São João d’Aliança.
Embora a
cidade seja conhecida como o Portal da Chapada, ainda é pouco conhecida se
comparada à Vila de São Jorge e a Alto Paraíso, onde a infraestrutura turística
já está mais desenvolvida.
A Cachoeira
do Label era uma das apostas para alavancar o ecoturismo na região. “Travamos
anos de luta pela atividade turística na cidade. Agora que conseguimos avançar,
aparece um impasse”, lamentou o secretário de Cultura e Turismo de São João
d’Aliança, Geraldo Hermes Bertelli.
Quilombolas
Para chegar
à Cachoeira do Label, parte-se de São João d’Aliança. O acesso se dá por uma
estrada de terra que leva à represa do Paranã. O trajeto de carro é de 26km.
Depois, há uma trilha de 1.800 metros, com nível de dificuldade moderada.
Ao todo, são
seis pontos de visitação com poços para banho, mas o forte é o fim da trilha,
onde está a queda-d’água.
O nome Label
vem de uma comunidade quilombola que se localizava na região do topo da
cachoeira. Ainda existem vestígios da ocupação na área.
Após a
expansão agrícola, descendentes dos escravos receberam lotes e se mudaram para
o município de São João d’Aliança. Mas a área continuou a ser chamada de “onde
vivia o povo do Label”.
Fonte:
Metrópoles
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