Eles medem
de 0,3 a três milímetros, têm uma aparência nada simpática, e o estrago que
causam é ainda mais feio. Os fitonematoides, que, no agro, são chamados
simplesmente de nematoides, são vermes que atacam as raízes das plantas e
causam grande prejuízo à produtividade, em lavouras como algodão, soja e milho.
Três espécies nativas do cerrado atacam especialmente o algodão.
Por ordem de
ocorrência, a Pratylenchus brachyurus, também conhecida como o nematoide das
lesões, com 85% de ocorrência no Oeste da Bahia, a Meloidogyne incognita,
chamada de nematoide das galhas, com 37%, e a espécie Reniformis (Rotylenchulus
reniformis), que tem este nome porque, quando na fase adulta, tem a forma de um
rim, ocupa o terceiro lugar no pódio de incidência nas áreas produtivas, com
14%.
Apesar de
muito frequente, o Pratylenchus não é o nematoide que causa os maiores danos.
Já o nematoide das galhas é uma baita dor de cabeça, pelo seu potencial de
prejuízos. Como se já não bastasse isso, agora, os técnicos do Programa
Fitossanitário, em parceria com a Embrapa Algodão e a Fundação Bahia, estão de
olho numa outra espécie de nematoide das galhas, que, até então, era
desconhecido no Brasil, e foi descoberto por volta 2012, na Carolina do Norte
(EUA). No ano passado, o parasita foi encontrado também em lavouras de Minas
Gerais.
Segundo o
fitopatologista Fabiano Perina, pesquisador da Embrapa lotado em Luís Eduardo
Magalhães, e integrante do convênio Embrapa- Abapa- Fundação Bahia, o que se
pretende descobrir é se o verme também está presente nas terras do cerrado
baiano. “Não que eles tenham migrado para aqui através de algum vetor. A grande
descoberta que é que eles já existiam, não se sabe há quanto tempo, mas eram
desconhecidos”, conta Perina.
O achado
mineiro aconteceu porque, em muitas fazendas, nas quais se usava a variedade
resistente ao nematoide das galhas, a IMA 5801 B2RF, o problema continuava a
aparecer. Agora, os pesquisadores estão verificando as áreas que usam esta
variedade, para ver como elas estão se desenvolvendo. Se não estiverem dando
conta do recado, pode ser um sinal de que outras populações dessa –
supostamente nova – espécie de nematoide estão presentes por lá. A tecnologia
se tornou, portanto, uma “sentinela”.
As galhas
causadas pelos nematoides são deformidades que lembram tumores nas raízes das
plantas, e comprometem o desenvolvimento delas. “Deduziu-se, então, que não era
a IMA5801 que já não tinha eficácia, mas um outro tipo de parasita, daquele
mesmo gênero, que escapava ileso à tecnologia”, conta Perina.
De acordo
com Antônio Carlos Araújo, coordenador do Programa Fitossanitário da Abapa, dos
18 integrantes da equipe do Programa Fito, formada por agrônomos e técnicos
agrícolas, 16 estão dedicados à pesquisa nematológica neste momento. São eles
que fazem a coleta de amostras de solo, que seguem para serem analisadas na
Fundação Bahia. “Com isso, se pode fazer o diagnóstico durante a safra, um
trabalho que só é possível graças à colaboração dos agricultores, que,
proativamente, abrem suas fazendas para a pesquisa científica. Hoje, existe uma
preocupação especial em descobrir evidências deste novo nematoide de galhas
aqui no cerrado baiano”, afirma Antônio Carlos.
Uma vez que
a infestação ocorre, zerar sua ocorrência é praticamente impossível. “O que
podemos fazer é investir numa convivência controlada com a doença, como faz um
paciente com problemas de pressão sanguínea ou diabetes. Ele tem de monitorar
sempre e adotar medidas para manter os índices sob controle”, compara Perina.
Essas
medidas, segundo o fitopatologista, são uma combinação de métodos químicos,
biológicos, genéticos e culturais. Os químicos e biológicos são feitos através
de nematicidas, sejam princípios ativos moleculares, aplicados no tratamento
industrial de sementes ou diretamente no solo, ou, no caso biológicos, fungos e
bactérias. Os métodos genéticos se referem ao uso de plantas resistentes, e os
culturais são os relativos às práticas agronômicas. “Quanto mais simplificada é
a matriz produtiva, pior. É preciso haver diversidade no sistema. Por isso, a
rotação de culturas é essencial sobretudo quando alterna plantas de cobertura,
como determinados tipos de crotalárias ou brachiárias, que são más hospedeiras
ou antagonistas aos nematoides”, explica Fabiano Perina.
A vertente
cultural do manejo integrado de pragas inclui as decisões do produtor acerca
das áreas a serem cultivadas e, principalmente, a limpeza das máquinas. “Há,
pelo menos, três espécies de nematoides que são nativas e frequentes no
cerrado, e, aqui na região, pelo menos uma ataca a soja. Vieram para cá de
carona em máquinas agrícolas oriundas de outros estados. As máquinas são
veículos de contaminação e disseminação também entre as fazendas, ou mesmo
entre os diferentes talhões de uma mesma propriedade rural. Por isso, é muito
importante fazer a sua limpeza antes do uso. Uma medida simples e eficaz”,
conclui Perina.
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