Única cidade
sem mortes confirmadas por Covid-19 em Goiás, Sítio D’Abadia passou por um
susto na semana passada. Nos grupos de Whatsapp começou a circular a informação
de que uma moradora havia morrido da doença. Realmente, ela havia contraído o
coronavírus, conforme mostrava o teste. Porém, após uma breve checagem,
descobriu-se que ela estava morando há seis meses em João Pinheiro (MG), a 500
quilômetros dali.
Com 3 mil
habitantes e a 277 quilômetros do Distrito Federal, a cidade no nordeste goiano
nunca teve também ninguém que precisou de um leito de UTI. A maioria teve
apenas sintomas leves, alguns moderados. Desde março do ano passado, quando a
epidemia chegou a Goiás, foram apenas 32 casos confirmados da doença em Sítio,
mas esse número estaria subestimado, uma vez que a realização de testes não é
tão disseminada entre os moradores.
“Muitas
pessoas aparecem com os sintomas, mas como não são graves acabam deixando pra
lá o teste, que é caro”, comentou uma moradora. Esta versão foi confirmada pela
fiscal de vigilância sanitária Mariane Barbosa Denes, de 32 anos. Na casa de
Mariane, todos os cinco moradores já tiveram Covid-19, inclusive ela. Mas
ninguém precisou de internação. “Acho que tivemos um pouco de sorte até agora”,
acredita.
Abaixo de
Sítio D’Ababia, há 41 cidades com menos habitantes. Juntas elas registraram
mais de 100 mortes somente entre março e abril deste ano. Em Sítio, nem as
notificações de casos suspeitos chegaram à marca de 100. Lá, segundo a
funcionária que responde pelas funções da Vigilância Epidemiológica, pico é
quando aparecem de uma vez três casos suspeitos. “Já chegou a cinco”, comentou
a enfermeira Izete Alves Soares, coordenadora do Programa Saúde da Família
(PSF). “Mas todos sempre são casos de sintomas leves.”
Atualmente,
há na cidade, considerando apenas os casos testados, duas pessoas sintomáticas
com Covid-19. Ambas estão bem. Foram feitos 96 testes, sendo que 61 descartados
e 3 ainda em análise. Nenhum óbito em investigação. Os dados são do boletim
epidemiológico municipal do dia 22 de abril, o mais recente.
A situação
ficou mais preocupante após as eleições municipais, em 15 de novembro. Uma
semana depois começaram a surgir moradores com sintomas leves da Covid-19. A
movimentação foi perceptível até no laboratório onde trabalha a técnica de
enfermagem Leidimar Teixeira dos Santos, de 38 anos. “Naquela época teve uma
procura maior, foi quando começaram a surgir mais casos. Depois voltou ao
normal.” Ou seja, nos últimos 15 dias, se houve três testes feitos no
estabelecimento, segundo Leidimar, foi muito.
O prefeito
Weber Lacerda (Solidariedade) acrescenta que na época pós-eleições outros
municípios próximos tiveram um pico de casos, como em Formoso (MG), a 20 km, no
final de novembro, e como existe uma circulação de pessoas entre estas cidades,
isso pode ter contribuído para o surto pontual em Sítio. Nesta época o pai do
prefeito contraiu a doença. “Ele tem 90 anos, mas não precisou de internação e
se recuperou.”
Dos motivos
citados pelos entrevistados, entre servidores municipais e moradores, além do
próprio prefeito, dois se destacam: a vida pacata na cidade e sorte. Sítio não
tem atrativos turísticos, só recebe pessoas de fora quando é parente de alguém,
o bar passou a fazer delivery de lanches e o pouco que fazia as pessoas saírem
para lazer está fechado por meio de decreto municipal. “Tem aqueles
adolescentes que ficam no centro da cidade”, diz a professora Suelizandia Nogueira
Vidal. “Mas os comércios aderiram às medidas e a população no geral segue os
protocolos.”
Lacerda
destaca que Sítio fica no “final da linha” e que a rodovia que corta a cidade
passou a ter maior movimento depois que ele fez a manutenção do caminho para Formoso.
Desde então a cidade se tornou rota entre o noroeste mineiro e o nordeste
goiano. Mesmo assim, ele garante que ninguém para em Sítio. “Aqui não tem nem
hotel. Os motoristas não costumam parar aqui quando passam.”
O decreto
municipal mais recente, de 15 de abril, deixa funcionando apenas as atividades
consideradas essenciais e um carro de som passa diariamente pelas ruas
orientando a população. A cidade não conta com hospital nem um centro de
atendimento para Covid-19. A unidade de saúde municipal tem um único médico que
atende todos os casos, seja de coronavírus ou não. E se ele não estiver, uma
enfermeira dá encaminhamento.
A prefeitura
costumava mandar para a casa de apoio que mantém em Goiânia cerca de 15
moradores toda semana para que pudessem fazer atendimentos médicos. Nos meses
mais críticos da Covid-19, como em março e abril deste ano, o serviço foi
interrompido para que não houvesse risco de contaminação. Quem procura Formosa
para os serviços inexistentes em Sítio, “se aquietou”, nas palavras do próprio
prefeito, que admite ser um dos que recorria à cidade no Entorno do Distrito
Federal, a 197 quilômetros de lá.
As missas na
igreja católica também passam por restrições. O padre é de Damianópolis, que
fica a 30 km. Como as festas organizadas pelo poder público nos municípios
estão suspensas desde 2020, o principal motivo de aglomerações entre os
moradores de Sítio não existe mais. Não tem indústria, o forte é o agronegócio,
e o comércio local é bem esvaziado, com imóveis distantes e ruas largas.
“Se você
vier aqui não vai encontrar quase ninguém na rua. O povo tem medo porque sabe
que se precisar de atendimento médico tá tudo longe”, comentou uma comerciante
ouvida por telefone.
Boletim
não está atualizado
O boletim
estadual epidemiológico aparece nesta quarta-feira (28) com cinco cidades em
Goiás sem registro de mortes por Covid-19, mas é por falta de atualização das
prefeituras no sistema do Ministério da Saúde.
As cidades
que aparecem ainda sem mortes no Painel Covid-19 da Secretaria de Estado da
Saúde de Goiás (SES-GO) são: Amaralina, Guarani de Goiás, Mambaí, Nova Roma e
Sítio D’Abadia.
Entretanto,
consultando os sites das prefeituras e as redes sociais oficiais das mesmas, é
possível verificar que Amaralina, Guarani de Goiás e Mambaí já registraram pelo
menos dois óbitos cada. Já Nova Roma teve uma morte.
O problema
com as notificações sobre os óbitos é recorrente desde o início da pandemia,
sem nunca ter sido solucionado. As prefeituras costumam demorar até 15 dias
para inserir no sistema do governo federal os dados, apesar de já divulgar em
seus boletins municipais os números corretos. Itumbiara, por exemplo, aparece
no boletim estadual com 227 mortes, mas no municipal com 261.
Fonte e texto: O Popular
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