Edina
Pereira da Costa, 52 anos, é uma pacata cidadã de Flores de Goiás, no Nordeste
Goiano. Gasta as horas do seu dia cuidando do marido, Malaquias, dos seis
filhos e do neto Diego, de 4 anos.
Além das lides
domésticas, ela ajuda o esposo em um pequeno restaurante de comida caseira. À
noite, durante alguns dias da semana, costuma ir à Igreja Assembleia de Deus,
onde é frequentadora assídua.
O que a
torna diferente, no entanto, é o exercício do que ela considera um dom divino:
a atividade de parteira. Sem conseguir ser precisa, Edina garante que mais de
cem pessoas vieram ao mundo por suas mãos. Nunca cobrou por seus serviços.
Ela tomou
tanto gosto pela atividade que resolveu fazer um curso de técnica em enfermagem,
trabalhando no hospital municipal da cidade por muitos anos. "Atualmente
estou afastada, quis sair", conta.
Edina não
consegue se lembrar quando realizou o primeiro parto. "Sei que fui
influenciada pelas minhas duas avós, que também eram parteiras", disse.
"Mas elas nunca me deixavam assistir a um procedimento. O que me deixava
ainda mais curiosa. Desde menina eu sempre quis ser parteira".
"Já
cheguei a fazer dois partos em um mesmo dia. Foi, aliás, no dia do meu
aniversário de 45 anos", lembra. "Não me incomodo em ser chamada para
fazer um parto, pode ser durante a madrugada, pode estar chovendo, não importa,
sempre é uma grande alegria", garante.
Edina conta
ainda que fez o parto de dois dos seis filhos. "O médico apenas cortou o
cordão umbilical, mas o parto mesmo eu fiz. Se sei fazer nas outras pessoas por
que não saberia fazer em mim mesma?", questiona.
O último
parto, no entanto, ela se lembra bem. "Fiz o parto do meu neto Diego, que
hoje tem quatro anos. É gratificante trazer as pessoas ao mundo, especialmente
da minha família", explica.
Sobrinhos e
amigos também integram a lista dos "filhos" de Edina. "É um
sentimento muito forte, muito bom. E muita gente é grata com a minha
ajuda", alegra-se.
PARTO NA AMBULÂNCIA
Durante o
tempo que trabalhou no hospital local, Edina guarda muitas histórias
interessantes. Como enfermeira, era escalada a acompanhar os partos que eram
feitos na cidade de Formosa, distante 140 km. "Uma vez tive que fazer o
parto dentro da ambulância. Não deu tempo de chegar a Formosa. A bolsa rompeu e
não tive opção a não ser em fazer meu trabalho", conta, com muita
naturalidade.
"Durante
o tempo que o hospital municipal fazia partos", recorda, "havia um
médico japonês que não gostava de fazer partos. Aí eu era chamada para fazer o
trabalho dele, o que fazia com muito prazer", explica.
Mas a
maioria dos partos feitos por Edina aconteceu em casa. "Era chamada às
pressas, não tinha muito conforto não, era do jeito que dava".
Atualmente,
Edina não tem autorização para fazer seu trabalho. Por não ser obstetra e não
reunir os aparelhos de segurança e higiene necessários, ela não pode exercer
seu ofício. "Mas se pudesse estaria fazendo partos, que é a coisa que mais
gosto de fazer na vida. Tenho o sonho de voltar a trazer alguém ao mundo",
sonha.
"Duas
coisas que nunca me aconteceram: fazer aborto ou deixar alguém morrer em minhas
mãos. Meu dom sempre foi o de apresentar o mundo às pessoas, foi de trazer à
vida", finaliza Edina, com um sorriso tímido e digno, só possível àqueles
que nasceram para tornar o mundo um local melhor.
Fonte: Diário do Norte
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