Crianças e
adolescentes calungas sofrem violência sexual há mais de 20 anos em Cavalcante,
a 510 quilômetros de Goiânia. A denúncia foi feita ontem pela líder comunitária
Dalila Reis Martins, de 28 anos, durante audiência pública realizada na cidade
pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados,
para colher mais informações dos casos revelados em reportagem exclusiva do
POPULAR, no dia 4 de abril.
A delegacia do município concluiu, só este
ano, 10 inquéritos policiais de abusos e exploração sexual de crianças.
A audiência
pública foi no auditório da sede do centro de convivência da cidade, onde
funciona o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). O delegado
Diogo Luiz Barreira, que responde pela cidade, afirmou que um dos 10 inquéritos
concluídos este ano levou à prisão de um dos acusados. “Em outro inquérito, já
concluído, temos todos os indícios necessários para a prisão de um político local,
mas até agora não obtivemos autorização judicial”, afirmou.
Barreira
referiu-se ao inquérito que indicia o vereador Jorge Cheim (PSD),
vice-presidente da Câmara Municipal de Cavalcante, pelo suposto estupro de uma
menina calunga de 12 anos que morava na casa do parlamentar, primo do marido da
promotora de Justiça Úrsula Catarina Fernandes Siqueira Pinto. A promotora se
declarou suspeita para atuar no caso e o vereador nega o crime. Os autos já
foram encaminhados ao promotor de Justiça Paulo Brondi, que deverá apresentar,
ou não, a denúncia.
Pedidos de Justiça
Cerca de 300
pessoas compareceram à audiência pública, muitas delas com faixas com pedidos
de Justiça e proteção às crianças. Dalila, que foi vítima de trabalho infantil
doméstico e de abuso sexual, fez um alerta. “Existe uma rede de aliciadores que
traz meninas quilombolas para Cavalcante, Goiânia e Brasília. Temos recebido na
comunidade meninas que fogem das cidades e relatam uma série de violências que
sofreram”, acentuou a líder comunitária.
A presidente
do Conselho Tutelar de Cavalcante, Evani Soares de Souza, disse ao POPULAR que
recebeu ameaça por telefone. “Uma pessoa com voz de homem ligou de um número
restrito e falou para a gente tomar cuidado com o que a gente estava
divulgando”, contou, explicando que, apesar de registrar cinco casos de abuso
sexual infantil por mês, só conseguiu comprovar 14 deles, desde 2012. “A gente
não tem estrutura para apurar todos os casos. Para piorar, arrombaram o
conselho e levaram os relatórios de denúncias”, emendou ela.
Moradores
puderam fazer denúncias a assessores da CDHM em uma sala reservada, enquanto
autoridades políticas e policiais e representantes da Procuradoria do Trabalho,
do Ministério Público estadual e da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás
(OAB-GO) discutiam no auditório do centro de convivência.
Fonte: O
Popular
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