As
conselheiras tutelares de Cavalcante denunciaram à Comissão de Direitos Humanos
e Minorias da Câmara que estão sob ameaça de morte na cidade goiana, localizada
a 300 quilômetros (km) de Brasília.
As ameaças intensificaram-se após a divulgação
de inquéritos policiais sobre casos de trabalho doméstico infantil, abuso e
exploração sexual de meninas da comunidade quilombola Kalunga e da própria
cidade.
Desde
janeiro, a Polícia Civil de Goiás concluiu dez inquéritos sobre esse tipo de
crime na cidade. Até agora, apenas um acusado de violações está preso. Um
político local já teve a prisão solicitada pela polícia duas vezes, mas a
Justiça não autorizou, ao alegar que faltam provas mais substanciais.
A
conselheira tutelar Evanir Soares de Souza atendeu algumas meninas violentadas,
contribuiu com as investigações e deu entrevistas sobre os casos de abuso e
exploração sexual. Depois disso, recebeu ligações com ameaças de morte.
“Pediram
para tomarmos cuidado com o que divulgássemos à mídia, porque se não teríamos
consequência disso”, informou Evanir, durante audiência pública da Comissão de
Direitos Humanos Câmara, promovida segunda-feira (20), em Cavalcante.
Segundo ela,
a sede do conselho precisa de mais estrutura e segurança. “Após toda divulgação
da mídia, a porta do conselho foi arrombada e sumiram vários relatórios. Alguns
a gente recuperou no Ministério Público. Outros ainda estão faltando”, revelou
a conselheira.
Ex-conselheira
tutelar, Janaína Poek disse que as ameaças não são novidade em Cavalcante. Há
três anos, quando ela já recebia denúncias de abuso sexual por parte de meninas
quilombolas e não quilombolas, Janaína teve o carro depredado. Mesmo fora do
conselho, ela continuou contribuindo com as investigações e incentivando as
meninas a denunciar.
“É uma
grande realização e um alívio ver autoridades públicas na cidade. A violência
sexual contra meninas em nosso município é grave e se alimenta do nosso próprio
silêncio”, lamentou Janaína.
“Não adianta
tentar distorcer o que ocorre aqui dizendo que é disputa política. Não se trata
disso. As meninas que denunciam são mal vistas por parte da comunidade, mas as
pessoas esquecem que quem perdeu a infância foram elas. Isso não tem volta”,
completou.
Além das
conselheiras, educadores sociais e comunicadores de Cavalcante também afirmam
ter recebido ameaças de morte depois da divulgação dos casos de trabalho
doméstico infantil, abuso e exploração sexual. Educador social, militante do
movimento negro e radialista, Joel Carvalho disse que já identificou pelo menos
60 casos na cidade.
“Você ouve
essas histórias na escola, no açougue, boteco e no futebol. O problema é que a
população não se levantava. Isso mudou. O que nos motiva é a indignação,
revolta e o nível de impunidade. Não aguentamos mais”, acrescentou Joel.
Durante a audiência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, ele defendeu a
presença da Polícia Federal na cidade.
“Quem
garante a vida das meninas, lideranças e pessoas que participaram da audiência?
Queremos respostas. Sou homem, mas posso assegurar que ser mulher em Cavalcante
é um dos maiores desafios da história recente do Brasil”, concluiu Joel
Carvalho.
Fonte: Agência Brasil/EBC
PARABÉNS Antônio Carlos !!!! Muito obrigada por me manter informada.
ResponderExcluirIldimar........