Destino de
místicos e amantes da natureza, a região da Chapada dos Veadeiros teve como um
dos pioneiros um soldado polonês, combatente do exército de Napoleão Bonaparte.
Proveniente
da região de Krosno, Antoni Dolenga Czerwinski integrou as forças do general
francês quando a Polônia estava sob o domínio do império russo. Fugindo da
guerra, migrou para o Brasil por volta de 1814, formou família e integrou a
Guarda Imperial de D. Pedro II. No fim da primeira metade do século 19, recebeu
uma carta de sesmaria para cultivar terras do sertão de Goiás, onde se fixou e
morreu.
Em uma
expedição como as organizadas pelos bandeirantes paulistas nos séculos 18 e 19,
Antoni Czerwinski viajou para os rincões goianos, onde se estabeleceu e fundou
a Fazenda Polônia. Por décadas, parte dos 12 filhos dele permaneceu nessa
propriedade, que abrangia as atuais São João D’Aliança e Água Fria de Goiás,
municípios do Entorno do Distrito Federal, ambos a pouco mais de 150 km de
Brasília.
A outra
parte retornou a Pimhuí (MG), a cidade natal da mulher com a qual se casou,
Umbelina Adelaide Silvânia Szervinsk.
Desconhecida
pela maioria dos brasileiros, a saga desse personagem continua presente na
memória coletiva da colônia polonesa originária dele. Mas nem mesmo os mais
assíduos frequentadores da Chapada ouviram falar de tal polonês ou sequer da
existência de uma comunidade de descendentes dele em região com tantas riquezas
naturais e culturais.
No entanto,
ela não passou despercebida para um pesquisador da Universidade de Brasília
(UnB), hoje professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e da rede pública
do DF.
O professor
Jucelino Sales, 31 anos, mora em Formosa, onde dá aulas na unidade da UEG.
Nascido em São João D’Aliança, ele faz parte da sétima geração do polonês.
“Desde
menino, eu escutava os episódios ao redor desse personagem como uma lenda, mas
os meus parentes sempre tiveram plena certeza de que eram originários de um
polonês”, conta ele, que enxergou no mestrado a oportunidade de pesquisar a
história de Antoni.
Provas documentais
Graças a
Jucelino Sales, o que era uma lenda ficou comprovado cientificamente. Em sua
investigação, quando fazia mestrado no Instituto de Letras da UnB, ele resgatou
documentos que comprovam a origem do polonês e a doação das terras goianas a
ele.
Os papéis
mais importantes são um registro paroquial de terras, datado de 1848, e uma
certidão de posses de terra, de 1955, com informações sobre Antoni Dolenga
Czerwinski e a família brasileira dele.
O documento
de 1848 foi feito dois anos antes da Lei de Terras no Brasil (veja O que diz a
lei) e registrado na Comarca de Cavalcante (GO), à qual várias vilas do
nordeste goiano estavam subordinadas. Em grafia da época, ele prova a
existência da Fazenda Polônia e traz os nomes do polonês e da mulher dele:
“Umbelina de Szeminoka casada com Antonio de Szeminoka dá para registro dessa
Villa e termo a fazenda POLONIA no município de Cavalcante, apariada desde (mil
oitocentos e) quarenta e seis com criação e alguma cultura além de benefícios e
se os 12 filhos cujos três já são maiores (...)”.
Para o
pesquisador, “o nome da Fazenda Polônia grafado em letras garrafais e presente
na memória coletiva de seus moradores não deixa dúvidas sobre a condição real
desse espaço marcado com o nome da pátria do europeu”.
Por meio do
mesmo documento, Sales estimou o ano em que Czerwinski aportou em solo
brasileiro. “Considerando que o documento diz que, na época do registro, o
polonês e sua esposa já tinham gerado 12 filhos, sendo três maiores de idade, e
a maioridade nessa época era 21 anos, assim, subtraindo pelo menos 23 anos em
relação a 1848, data do registro, a chegada do polonês no Brasil é anterior a
1830, provavelmente no fim do período napoleônico, uma vez que ele fazia parte
do exército de Napoleão.”
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