Após os
sucessivos aumentos nos preços do gás de cozinha, o consumidor tem cada vez
mais dificuldade para comprar o produto, que ajuda a pressionar o orçamento.
Com o oitavo aumento anunciado pela Petrobras este ano, no último dia 9 de
outubro, de 7,2%, a estimativa é que o preço do botijão de 13 quilos passe dos
R$ 120 na capital e dos R$ 130 em algumas revendas do interior do Estado.
Os
proprietários de depósitos de gás falam em quedas de até 50% nas vendas, pois
as famílias não conseguem mais manter um botijão de reserva cheio em casa.
Com o
botijão custando o equivalente a 11% do salário mínimo de R$ 1.100, o
consumidor também tem pesquisado muito mais antes de comprar e as famílias mais
carentes imploram por mais descontos nas revendas.
Pequenos
fogões à lenha feitos de alguns tijolos também ganham cada vez mais espaço nos
quintais dos goianos.
Esta foi a
estratégia usada pela diarista Doraci Jesus dos Santos para fazer o botijão de
gás durar mais tempo e preparar as refeições para os três filhos. Ela conta que
fez um pequeno fogão à lenha com alguns tijolos no quintal de casa para
cozinhar feijão e outros alimentos que demandam mais tempo no fogo. Para isso,
Doraci e o filho mais velho buscam a lenha usada numa pequena mata do bairro onde
moram. “Como a chuva começou, já estou com medo de não conseguir mais lenha
seca”, teme a diarista, com renda de menos de R$ 1,1 mil mensais.
De acordo
com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que calcula a inflação para
as famílias com renda de até 40 salários mínimos, o botijão de gás de 13 quilos
já acumula um reajuste de 29,78% este ano e de 38,55% nos últimos 12 meses na
capital. O presidente do Sindicato das Empresas Revendedoras de Gás da Região
Centro-Oeste (Sinergás), Zenildo Dias do Vale, estima que o preço do botijão
vai passar dos R$ 120 na capital e dos R$ 130 no interior após este último
aumento anunciado pela Petrobras. O preço no produtor, que era de R$ 35,49 em
janeiro, passou dos R$ 50.
“Muitas
revendas estão fechando as portas porque não conseguem mais repassar tantos
aumentos ao consumidor para repor seus estoques”, destaca Zenildo. Segundo ele,
as vendas já acumulam uma queda de quase 50% desde o começo do ano. “Eu mesmo
vendia cerca de 40 botijões por dia e hoje, vendo entre 15 e 20”, informa. O
presidente do Sinergás conta que pais chegam com os filhos nos depósitos
contando moedas, relatando suas dificuldades e implorando para que elas vendam
o produto bem mais barato. “Isso chega a nos emocionar e, algumas vezes, ajudamos”,
diz.
O empresário
Henrique Junqueira, da Circular Gás, lembra que as revendas receberam um grande
aumento no mês de setembro, resultado do aumento da pauta do ICMS e do dissídio
das distribuidoras. Agora, serão mais R$ 3,50. “Estou pagando mais caro desde
sábado e ainda não repassei. Ainda estou avaliando como a concorrência vai se
comportar”, afirma. Ele garante que foram sucessivos aumentos que já deixou de
repassar, o que significa uma margem de lucro cada vez menor.
Segundo
Henrique, o repasse fica ainda mais difícil quando o cliente é um restaurante
ou uma lanchonete, por exemplo, que precisa comprar mais de um botijão por dia.
“Minha margem já caiu 40% desde março do ano passado. Hoje, trabalho com o
mesmo lucro de 2015. Se fosse repassar tudo, já estaria cobrando mais de R$
140”, garante. Enquanto isso, ele conta que dobrou seu consumo de combustível,
pois mais de 99% das vendas são para entrega hoje. “Antes, a pessoa pedia 2 ou
3 botijões por vez e ficava muito mais tempo sem comprar. Hoje, ela só tem
dinheiro para um e, por isso, entregamos mais vezes que antes”, explica.
O
proprietário do Comercial de Água e Gás Ferreira, Fernando Alves de Freitas,
informa que recebeu um reajuste de R$ 4,50 da distribuidora, que ainda não
repassou. “Já estou alertando meus clientes sobre a alta para que eles se
antecipem e comprem antes”, destaca. O empresário também garante que não
conseguiu repassar todos os aumentos que recebeu desde o início do ano, pois as
vendas já caíram cerca de 50%. “Quando subiu R$ 5, só consegui subir R$ 2 ou R$
3, por exemplo. Se tivesse feito o repasse correto, já estaria vendendo o
botijão por R$ 130. Mas, hoje, todo mundo pede desconto”, afirma Fernando.
Botijão
vendido por R$ 50 como protesto ao governo
Um movimento
realizado na manhã de ontem, em Goiânia, alertou para o aumento abusivo no
preço do gás de cozinha e pediu a redução do valor cobrado pelo botijão,
principalmente para as famílias mais carentes, que estão tendo mais dificuldade
para comprar.
A ação “Tá
caro? A culpa é do Bolsonaro” foi direcionada à comunidade do Jardim Curitiba e
de uma ocupação no Setor Estrela Dalva, região Noroeste de Goiânia, e
distribuiu 230 botijões de gás ao custo de R$ 50 cada, um valor considerado
justo e acessível para a população.
Pelo menos
mil pessoas carentes foram beneficiadas indiretamente pelo ato, promovido pelo
vereador Mauro Rubem (PT), com o apoio da Federação Única dos Petroleiros
(FUP), SindSaúde, Sint-ifesgo, Sinergás, Sindiposto, Fecomércio e Adufg. De
acordo com o vereador, além do fornecimento do gás a um baixo custo, a ação
também informou a população sobre política de preços praticada pelo governo
federal.
O vereador
lembrou que, entre 2003 e 2016, a Petrobras definia o preço do botijão de gás,
gasolina e diesel em real, uma vez que toda a produção é feita no Brasil.
Entretanto, atualmente, estes valores são cotados em dólar, o que promove a
alta nos preços. Segundo ele, o problema pode ser ainda maior caso a Petrobras
venha a ser privatizada. “Bolsonaro já vendeu a BR Distribuidora, antiga
proprietária da marca de postos BR, e caminha agora para a venda de oito das 13
refinarias de petróleo que a Petrobrás possui”, destaca.
O governo
federal tem culpado as alíquotas do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) pelos atuais valores dos combustíveis e gás. “Entretanto,
durante nos últimos cinco anos, apesar das constantes elevações nos preços, não
houve aumento do imposto. O presidente deu continuidade ao projeto iniciado por
Michel Temer de garantir o lucro para os acionistas internacionais em
detrimento do povo brasileiro”, destaca.
Ele lembra
que, enquanto os acionistas internacionais enriquecem com a venda do petróleo
brasileiro, a população do País está cozinhando à lenha ou até com álcool, o
que é inaceitável.
A próxima
etapa do movimento será feita com a venda de gasolina, visando forçar o governo
federal a mudar a política de preços da Petrobras.
Fonte: O Popular
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