O arcebispo
de Uberaba, d. Paulo Mendes Peixoto, nomeado administrador apostólico da
diocese de Formosa (GO) após a prisão do bispo local, d. José Ronaldo Ribeiro,
relatou nesta segunda-feira, 16, em sessão privada, a situação para os
participantes da Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) em Aparecida, mostrando as dificuldades que está enfrentando para
acompanhar o processo. Peixoto, que conduz apurações da Igreja sobre as
suspeitas, contestou os indícios e saiu em defesa do padre, que permanece
preso. O bispo foi preso sob acusação de ter desviado cerca de R$ 2 milhões do
dízimo pago pelos fiéis.
“D. Ronaldo
foi preso no dia 19 de março a pedido do Ministério Público de Goiás, com mais
dez pessoas, em consequência de denúncias que parecem não terem fundamento”,
disse d. Paulo ao Estado, ao lado de d. José Aparecido Gonçalves de Almeida,
bispo auxiliar de Brasília e canonista (especialista em Direito Canônico,
formado em Roma), seu assessor jurídico no caso. Dois funcionários e um
advogado da Cúria de Formosa foram libertados na semana passada e respondem às
denúncias em liberdade.
O Superior
Tribunal de Justiça (STJ) negou no dia 12, quinta-feira, pedido de habeas
corpus impetrado pela defesa de d. Ronaldo, na terceira tentativa feita para
tirá-lo da prisão. Anteriormente, o Tribunal de Justiça de Goiás e o Supremo
Tribunal Federal (STF) negaram os recursos para libertação do bispo. Os
tribunais negaram também pedidos de habeas corpus para outros réus do processo.
D. Paulo Peixoto
contou que teve uma crise de choro ao visitar d. Ronaldo no presídio, dia 5, em
Formosa. “D. Ronaldo estava vestido de bermuda e camisa brancas, como os outros
presos, no setor da enfermaria, onde conversei com ele por uma hora”, disse o
administrador apostólico. “Ele está debilitado moralmente, por causa das
acusações, que afirma serem falsas”, acrescentou. Sua visita foi autorizada
pelo diretor do presídio. A
administração penitenciária não permite a entrada de vinho nem de cálices de
metal ou de copos de metais para celebração da missa.
O arcebispo
de Goiânia, d. Washington Cruz, e o cardeal João Braz de Aviz, que veio de Roma
para visitar o bispo de Formosa, precisaram recorrer ao governo de Goiás para
entrar na prisão. Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada
e as Sociedades de Vida Apostólica, no Vaticano, foi o cardeal quem ordenou d.
Ronaldo bispo em 2007, quando era arcebispo de Brasília.
D. Paulo
Peixoto havia sido nomeado visitador apostólico, no início de março, para
investigar as denúncias contra d.
Ronaldo e seus colaboradores, mas duas semanas depois um decreto do papa
Francisco lhe confiou o cargo de administrador da diocese, até a decisão do
caso.
O arcebispo
de Uberaba, seu assessor jurídico d. José Aparecido e o advogado da CNBB, Lucas
Maia, iniciaram suas investigações com o trabalho burocrático nos cartórios
para assumir as funções dos acusados presos. Os três advogados da Cúria de
Formosa foram dispensados. A família de d. Ronaldo preferiu contratar um
advogado para defendê-lo, à margem da equipe da diocese.
Contas
O extrato
das contas da Cúria, referente aos meses de fevereiro e março, registrava
entradas no total de R$ 151 mil, despesas de R$ 147 mil, cerca de R$ 4 mil de
renda com um estacionamento e dívida de R$ 115 mil com o Seminário Maior de
Brasília. Havia em caixa pouco mais de R$ 35 mil reais. Os 45 padres da diocese
recebem côngruas (salários) equivalentes a três salários mínimos. O
levantamento apontou 45 carros registrados em nome da cúria para uso de 33
paróquias. “A denúncia de que eram 159 engloba veículos emplacados desde os
anos 1960”, disse d. Paulo. Pelo extrato
das contas, observa ele, é impossível falar de um desvio de mais de R$ 2
milhões.
"Ainda
estamos investigando, mas parece-nos, até agora, que uma fazenda para criação
de gado e uma casa lotérica que, conforme as denúncias, teriam sido compradas
com dinheiro desviado da contribuição do dízimo, na realidade foram adquiridas
pelo padre da paróquia de Posse com recursos recebidos de herança”, disse o
administrador apostólico. Com relação ao excesso de gastos na resistência
episcopal, as investigações de d. Paulo Peixoto e de d. José Aparecido levam a
crer que as despesas aumentaram pelo fato de d. Ronaldo ter acolhido ex-dependentes
de drogas e dois jovens que criou e o chamam de padrinho.
Quanto à
denúncia de que um monsenhor guardava dinheiro (cerca R$ 70 mil) no fundo falso
de um armário, d. Paulo apurou que eram recursos destinados para construção da
matriz, escondidos por medo serem roubados. “A casa paroquial é uma extensão da
paróquia e nela se pode guardar também o dízimo coletado no fim de semana,
quando os bancos estão fechados”, disse d. José Aparecido.
D. Paulo
Peixoto admite a possibilidade de recorrer ao Acordo Brasil - Santa Sé, para obter a absolvição de d.
Ronaldo e de seus colaboradores. Pelo acordo, a legislação brasileira reconhece
os estatutos de organização religiosa, segundo os quais, no caso da Igreja
Católica, os bispos dispõem dos bens e determinam o uso que se faz deles, para
a ação pastoral.
A denúncia
de que houve desvio de dinheiro do dízimo foi assinada por um grupo de 30
católicos de Formosa. Apesar do impacto do que foi apresentado como um
escândalo, informa o administrador apostólico, o povo se mantém fiel, com as
igrejas cheias nas missas dominicais que ele celebrou na cidade.
Fonte: Estadão
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