Uma semana
depois de sair da prisão, onde ficou 30 dias, o bispo afastado de Formosa, dom
José Ronaldo Ribeiro, acusado com outras oito pessoas de desviar dinheiro da
Igreja Católica, falou pela primeira vez com a imprensa, usando a ocasião para
afirmar sua inocência e se dizer vítima de perseguição. "Fomos
massacrados, acusados sem provas, com um método absurdo de condenar, prender e
apurar", afirmou o religioso, à Agência Estado.
Ao sair do
presídio de Formosa, na terça-feira (17/4), d. Ronaldo foi para a residência
episcopal, em vez de se hospedar na Casa do Clero, para padres doentes e
idosos, conforme lhe aconselharam. "Vim para cá, porque esta é minha
morada. Eu ainda sou o bispo de Formosa, embora afastado", disse.
A decisão de
onde ele deve ficar, porém, é o administrador apostólico, d. Paulo Mendes
Peixoto, arcebispo de Uberaba (MG), designado pelo papa Francisco para dirigir
a diocese na ausência do titular. Ele deixou a Assembleia-Geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil, em Aparecida (SP), para passar o fim de semana
em Formosa. Viajou a conselho do núncio apostólico, d. Giovanni D'Aniello.
D. Ronaldo
descreveu os 30 dias presos como tristes. Lamentou não poder celebrar as missas
e se disse magoado de sofrer "acusações injustas" e, acima de tudo,
"humilhações impensáveis", como as duas vezes em que foi obrigado a
ficar quase nu, só de cueca, para a revista aos presos.
No domingo
(22/4), ele reuniu parentes e colaboradores na capela improvisada da residência
episcopal, de 15m², para agradecer a Deus "estar de volta ao rebanho"
— cerca de 400 mil pessoas, em 23 municípios. Ao seu lado estava outro acusado,
o padre Thiago Wenceslau, juiz eclesiástico com doutorado na Pontifícia
Universidade Lateranense, em Roma, que chegou a Formosa em um domingo e foi
preso na manhã seguinte, acusado de agir com o bispo.
Padre Tiago
chorou o tempo todo na missa na capelinha particular. Fez cinco dias de jejum,
em sinal de protesto contra a prisão, e foi o último a ser libertado, 24 horas
após a soltura de d. Ronaldo, um monsenhor, três padres e dois empresários
presos na Operação Caifás, sob acusação de falsidade ideológica e desvio de
dinheiro das paróquias.
O bispo de
Formosa permanecerá fora do cargo até a definição de sua situação na Justiça.
Se for absolvido e o papa permitir, pretende retomar suas funções, embora
admita reavaliar a intenção. Depende da aceitação dos fiéis, até agora
aparentemente sem fissuras. Mesmo com as prisões, as missas de domingo continuaram
cheias. "É evidente que, se muitas pessoas me apoiam com sua
solidariedade, há também um pequeno grupo que pretende me afastar, por
discordar de meu estilo e de minha orientação pastoral."
Ele se
refere aos padres que, na sua avaliação, armaram as denúncias para se livrar
dele. "É um grupo articulado que armou esse esquema há anos, desde minha
passagem pela Diocese de Janaúba (MG), de onde fui transferido para Formosa em
2014." Segundo o bispo, a armação começou quando ele levou para Janaúba
ex-dependentes de drogas de quem cuidava no trabalho pastoral. Disse que, para
ajudá-los, sua conta ficou negativa.
Fazenda e lotérica
Na acusação
do Ministério Público de Goiás, d. Ronaldo é citado como chefe de um grupo que
teria desviado mais de R$ 2 milhões do dízimo ofertado às paróquias, segundo
denúncia assinada por 30 de seus diocesanos. O dinheiro teria comprado uma
fazenda de criação de gado e uma lotérica. "Sou inocente, tenho certeza de
que nada fiz de errado", afirma. Segundo ele, quem fez a compra foi padre
Moacyr Santana, com recursos próprios, o que não caracterizaria crime.
O
administrador apostólico, d. Paulo Peixoto, que está investigando as denúncias,
diz que, até o momento, parece não ter havido irregularidades. Os bispos do
Regional Centro-Oeste, que compreende as dioceses de Goiás e Distrito Federal,
viajarão a Formosa, nas próximas semanas, para levar conforto e solidariedade a
d. Ronaldo e aos demais acusados.
Como a
Justiça impôs medidas cautelares, d. Ronaldo está proibido de sair de Formosa e
foi obrigado a entregar o passaporte. "Disseram que eu pretendia fugir do
País porque preparava uma viagem a Roma para participar de uma reunião do
Movimento Neocatecumenal", diz. Acolhido ao sair da prisão pela mãe, dona
Nilda, de 90 anos, e por alguns de seus irmãos, ele tem tido a assistência de
parentes e amigos, que lhe fazem companhia e se oferecem para cozinhar.
Denúncia
O promotor
Douglas Chegury afirma que a investigação toma por base denúncia de um grupo de
30 fiéis. "Mandaram informações por escrito, em um documento assinado,
apontando supostas irregularidades que haviam identificado." Ele destacou
que as provas coletadas no processo, desde 2017, eram suficientes para pedir a
prisão preventiva. "Houve ocultação de provas e a intimidação de
testemunhas."
As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo
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