Taxas de casamento subiram até 400% na Diocese de Formosa/GO após chegada de bispo, denunciam padre e fiéis
O bispo Dom
José Ronaldo – réu no processo que investiga desvio de mais de R$ 2 milhões em
dízimos e doações da Diocese de Formosa – determinou aumento de até 400% nas
taxas de casamento quando assumiu a administração, em 2014, apontam fiéis. As
mesmas informações chegaram ao Ministério Público de Goiás (MP-GO) por meio do
depoimento de um dos padres que denunciou o esquema, mas, segundo o promotor
Douglas Chegury, ainda não compõem uma apuração específica.
Atualmente,
os noivos precisam pagar R$ 50 caso contratem fotógrafo, R$ 150 caso contratem
filmagem e R$ 150 caso contratem decoração nas 33 igrejas administradas pela
Diocese de Formosa. Além disso, devem gastar mais R$ 280 para cobrir despesas
com documentação.
Antes da
chegada do bispo, porém, os valores eram menores: R$ 30 para os serviços
contratados e executados em uma das igrejas e R$ 100 para as despesas com
documentação, afirmam fiéis. A defesa de Dom José Ronaldo, que segue preso,
acusado de liderar o esquema, disse que não vai comentar o caso.
Os aumentos
fizeram com que muitos casais decidissem adiar a união, afirma a fotógrafa
Geyse Dayane Oliveira, de 34 anos. A profissional costuma registrar casamentos
toda semana e disse que, antes da chegada do bispo, pagava do próprio bolso a
taxa.
"Depois
ficou impossível, porque passar de R$ 30 para R$ 150 é muita coisa. Os noivos
se programam por um longo tempo, mas pesa muito que você tenha que gastar R$
700 a mais do que estava prevendo", afirma.
Geyse, que é
católica e frequenta a diocese, diz ter presenciado outras situações
constrangedoras por causa da cobrança. Segundo ela, casais passaram a ser
impedidos de selar a união caso não fizessem ornamentação e não deixassem dois
arranjos para as igrejas.
"Já
tive cliente que chegou aqui chorando e já teve um episódio em que até me
falaram que eu não poderia entrar na igreja, por causa do não pagamento da
taxa."
A fotógrafa
conta que sempre leva os equipamentos carregados e que discorda do valor da
cobrança. "E ainda é constrangedor, porque ficam te ligando, te
'lembrando' que ainda não foi pago."
Atuante nos
eventos de uma das paróquias de Formosa, Francielen da Silva Ferreira conta que
se assustou ao verificar que o custo do casamento na igreja, ocorrido em 2 de abril
de 2016, sairia o dobro do que ela havia orçado um ano antes.
“Aumentaram
tudo lá, cada taxa, depois que ele chegou. Isso deu uma briga feia. O padre até
tentou conversar comigo pessoalmente, para me explicar, mas não aceitei e disse
que achei muito injusto o que estava acontecendo.”
Francielen
conta que participa das celebrações da paróquia – cujo nome ela não quis
revelar para preservar o pároco – desde criança e que considerava a benção
necessária. Ela só quitou o valor exigido no dia, “de pirraça”.
“Fui tentar
questionar porque estavam me cobrando a mais pelo fotógrafo. No caso da
filmagem, falaram que podia ser porque o profissional podia carregar a câmera;
da ornamentação, porque poderia sujar a igreja. Não me deram justificativa
coerente para o fotógrafo. Falaram que eu iria expor a imagem da igreja.”
Fonte: G1
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