A demora na
entrega dos resultados dos testes para o novo coronavírus está, segundo
secretários municipais de saúde ouvidos pela reportagem, prejudicando o trabalho
de controle do avanço da doença nas cidades do interior. Apesar de a Secretaria
Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) afirmar que o prazo é de 3 dias, muitas
prefeituras afirmam que o resultado fica pronto entre 4 e 5 dias e em alguns
casos até uma semana. Na rede pública, os testes são analisados pelo
Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen Goiás).
O número de
casos suspeitos sob análise pelo Lacen Goiás vem se acumulando ao longo dos
últimos 10 dias. Sem considerar os dados desta segunda-feira, que até o
fechamento desta edição não haviam sido todos oficializados, o número de casos
comprovados subiu 7 vezes e o de descartados, 5, entre o dia 12 - quando foram
confirmados os primeiros três pacientes com coronavírus no Estado – e o dia 22.
No mesmo período, o número de casos suspeitos aumentou 51 vezes, indo de 15
para 765.
Uma das
consequências na demora é a possível subnotificação dos casos em Goiás. Mas os
secretários municipais reclamam que a demora afeta o monitoramento do avanço do
coronavírus nas cidades, uma vez que normalmente os contatos das pessoas
infectadas só passam a ser investigados quando a suspeita é confirmada. Até lá,
a recomendação tem sido apenas o isolamento do caso suspeito.
A titular da
Secretaria Municipal de Saúde de Itumbiara, Maricel Abdala, aguardava a
resposta para 26 testes encaminhados ao Lacen e diz que há casos em que a
espera chega a uma semana. A cidade não tem nenhum caso confirmado e há 9
descartados. “Entendemos que a demanda é muito grande para eles, mas aqui o
povo fica desesperado, ligando 24 horas, para saber o resultado”, comentou.
“Ninguém estava esperando por esta situação.”
Maricel
explica que quando o caso é confirmado a atenção das autoridades sobre o
paciente é redobrada e o isolamento reforçado “até com policiamento, se for
necessário”. “Se tiver confirmado, vai redobrar a atenção na pessoa, vai ser
100 vezes maior. Quando é suspeito, a recomendação é de isolamento, mas essa
pessoa pode ter contato com familiares e os familiares com outros e outros.”
No último
sábado, a demora na resposta de um caso suspeito em Porangatu ganhou as redes
sociais, com manifestação pública da prefeitura e horas depois o resultado foi
divulgado. Deu negativo. A administração local informou que estava cobrando
celeridade do governo estadual e foi repassado que o “Lacen está com altíssima
demanda, o que tem atrasado a entrega dos resultados para todo estado”, segundo
nota encaminhada pelo executivo municipal no dia 21.
Em Anápolis,
a prefeitura também se manifestou publicamente quanto ao tempo de espera pelos
resultados. Em uma nota no perfil dela no Instagram, informou que a entrega dos
resultados de exames pelo Lacen Goiás foi feita com “intervalo de muitos dias”,
o que atrapalha a divulgação de dados. “Da mesma forma que vocês, nós também
esperamos ansiosamente por estas informações”, disse a prefeitura na nota.
A presidente
do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems-GO),
Verônica Savatin, diz que enquanto o número de casos suspeitos estiver pequeno
fica fácil para os municípios do interior monitora-los, mas reconhece que a
situação complica quando o índice aumentar. “A preocupação é se vamos realmente
saber quem teve contato com a pessoa depois (da possível confirmação de um caso
suspeito).”
Verônica diz
que não tem muita opção porque as prefeituras precisam recorrer a um
laboratório público para os testes e o único é o Lacen Goiás. Ela também
comenta que a secretaria estadual tem focado mais na estruturação dos leitos
para atendimento dos casos graves no momento.
Secretaria
admite falha
A Secretaria
Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) reconhece a demora na entrega dos
resultados de testes, principalmente entre os dias 20 e 22 de março, quando
houve um “aumento abrupto na demanda de amostras encaminhadas ao Lacen Goiás”.
Essa mudança teria ocorrido depois que o cenário nacional passou a ser
considerado de transmissão comunitária. “Até o dia 19 de março as análises
estavam sendo liberadas em até 72h, conforme definido no Plano de Contingência
do Estado.”
A pasta diz
que está investindo em A SES-GO está “investindo em insumos, ampliando o número
de equipamentos disponíveis para a testagem, suspendendo férias de servidores
essenciais e ampliando a escala de funcionamento do Lacen de duas para três
equipes que se revezam entre os períodos matutino, vespertino e noturno, além
de organizar plantões de testagem aos finais de semana”.
Por meio de
nota, a SES-GO afirma que diante do quadro tem sido priorizado os casos
considerados graves, seguindo da ordem cronológica de entrada das demais
amostras, e que a orientação às prefeituras é que “as medidas de prevenção e
controle devem ser adotadas desde a notificação dos casos suspeitos”.
Entretanto,
na mesma nota destaca que “deve-se realizar o monitoramento dos contatos dos
casos confirmados, visando interromper cadeias de transmissão”, o que não é
possível, segundo as prefeituras ouvidas pela reportagem, por causa da demora
nos resultados.
A reportagem
não conseguiu uma resposta da Prefeitura de Goiânia sobre os testes.
Atraso
também afeta a rede privada
O atraso nos
resultados dos testes do novo coronavírus também afeta a rede privada e os
planos de saúde. Um dos entrevistados informou que só consegue atender em 24
horas casos de urgência e emergência.
A Unimed
Goiânia informou que os laboratórios têm demorado em média 8 dias para entregar
uma resposta. Desde o dia 13, já foram feitos 429 exames pelo plano de saúde,
uma média de 42 por dia, sendo que 30% ainda estão em análise.
A empresa
informou que busca alternativa com a liberação dos testes rápidos, já
permitidos no Brasil, mas ainda não disponíveis no mercado. “Isso não
compromete o trabalho dos médicos da Unimed, já que o tratamento começa
imediatamente no combate aos sintomas”, informou por meio de nota.
A Associação
dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg)
informou que desde o dia 16 os hospitais filiados restringiram os exames apenas
para pacientes internados, em função da escassez dos kits, e que o resultado
tem ficado pronto em até 5 dias, “o que tem gerado queixa dos hospitais”. O
laboratório para onde o teste é encaminhado, segundo a Ahpaceg, atribui a
demora à “alta demanda pelo teste em no Brasil e a baixa disponibilidade de
insumos usados para o processamento desse exame”.
Procurado
pela reportagem, o Instituto de Assistência dos Servidores de Goiás (Ipasgo)
não respondeu o tempo médio de demora para entrega dos resultados, dizendo
apenas que “cabe aos laboratórios determinar esses prazos”.
O
Laboratório Padrão, que atende hospitais e planos de saúde em Goiás, disse que
o grupo do qual faz parte, tem solicitado um prazo de até 6 dias, mas que em
casos urgentes e emergenciais tem consegui entregar o resultado entre 24 e 48
horas, “quando sinalizados pelo hospital solicitante”.
Para
agilizar as respostas, o Sindicato dos Laboratórios de Análises e Banco de
Sangue do Estado de Goiás (Sindilabs) afirma que tem tentado firmar uma
parceria com universidades goianas para ampliar a oferta de exames de
diagnóstico do novo coronavírus. “Mas, enquanto muitos pacientes aguardam a
realização do teste, as negociações para a parceria não avançam”, disse em
nota.
A intenção,
segundo a presidente do Sindilabs, Christiane Maria do Valle Santos, é que os
laboratórios filiados façam a coleta das amostras para que as análises ocorram
nos laboratórios das universidades.
Apenas os
casos confirmados pelos laboratórios na rede particular são comunicados à
Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO).
Fonte: O
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