quarta-feira, 25 de março de 2020

Prefeituras reclamam da demora nos resultados dos testes de coronavírus em Goiás



A demora na entrega dos resultados dos testes para o novo coronavírus está, segundo secretários municipais de saúde ouvidos pela reportagem, prejudicando o trabalho de controle do avanço da doença nas cidades do interior. Apesar de a Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) afirmar que o prazo é de 3 dias, muitas prefeituras afirmam que o resultado fica pronto entre 4 e 5 dias e em alguns casos até uma semana. Na rede pública, os testes são analisados pelo Laboratório de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen Goiás).

O número de casos suspeitos sob análise pelo Lacen Goiás vem se acumulando ao longo dos últimos 10 dias. Sem considerar os dados desta segunda-feira, que até o fechamento desta edição não haviam sido todos oficializados, o número de casos comprovados subiu 7 vezes e o de descartados, 5, entre o dia 12 - quando foram confirmados os primeiros três pacientes com coronavírus no Estado – e o dia 22. No mesmo período, o número de casos suspeitos aumentou 51 vezes, indo de 15 para 765.

Uma das consequências na demora é a possível subnotificação dos casos em Goiás. Mas os secretários municipais reclamam que a demora afeta o monitoramento do avanço do coronavírus nas cidades, uma vez que normalmente os contatos das pessoas infectadas só passam a ser investigados quando a suspeita é confirmada. Até lá, a recomendação tem sido apenas o isolamento do caso suspeito.

A titular da Secretaria Municipal de Saúde de Itumbiara, Maricel Abdala, aguardava a resposta para 26 testes encaminhados ao Lacen e diz que há casos em que a espera chega a uma semana. A cidade não tem nenhum caso confirmado e há 9 descartados. “Entendemos que a demanda é muito grande para eles, mas aqui o povo fica desesperado, ligando 24 horas, para saber o resultado”, comentou. “Ninguém estava esperando por esta situação.”

Maricel explica que quando o caso é confirmado a atenção das autoridades sobre o paciente é redobrada e o isolamento reforçado “até com policiamento, se for necessário”. “Se tiver confirmado, vai redobrar a atenção na pessoa, vai ser 100 vezes maior. Quando é suspeito, a recomendação é de isolamento, mas essa pessoa pode ter contato com familiares e os familiares com outros e outros.”

No último sábado, a demora na resposta de um caso suspeito em Porangatu ganhou as redes sociais, com manifestação pública da prefeitura e horas depois o resultado foi divulgado. Deu negativo. A administração local informou que estava cobrando celeridade do governo estadual e foi repassado que o “Lacen está com altíssima demanda, o que tem atrasado a entrega dos resultados para todo estado”, segundo nota encaminhada pelo executivo municipal no dia 21.

Em Anápolis, a prefeitura também se manifestou publicamente quanto ao tempo de espera pelos resultados. Em uma nota no perfil dela no Instagram, informou que a entrega dos resultados de exames pelo Lacen Goiás foi feita com “intervalo de muitos dias”, o que atrapalha a divulgação de dados. “Da mesma forma que vocês, nós também esperamos ansiosamente por estas informações”, disse a prefeitura na nota.

A presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems-GO), Verônica Savatin, diz que enquanto o número de casos suspeitos estiver pequeno fica fácil para os municípios do interior monitora-los, mas reconhece que a situação complica quando o índice aumentar. “A preocupação é se vamos realmente saber quem teve contato com a pessoa depois (da possível confirmação de um caso suspeito).”

Verônica diz que não tem muita opção porque as prefeituras precisam recorrer a um laboratório público para os testes e o único é o Lacen Goiás. Ela também comenta que a secretaria estadual tem focado mais na estruturação dos leitos para atendimento dos casos graves no momento.

Secretaria admite falha

A Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) reconhece a demora na entrega dos resultados de testes, principalmente entre os dias 20 e 22 de março, quando houve um “aumento abrupto na demanda de amostras encaminhadas ao Lacen Goiás”. Essa mudança teria ocorrido depois que o cenário nacional passou a ser considerado de transmissão comunitária. “Até o dia 19 de março as análises estavam sendo liberadas em até 72h, conforme definido no Plano de Contingência do Estado.”

A pasta diz que está investindo em A SES-GO está “investindo em insumos, ampliando o número de equipamentos disponíveis para a testagem, suspendendo férias de servidores essenciais e ampliando a escala de funcionamento do Lacen de duas para três equipes que se revezam entre os períodos matutino, vespertino e noturno, além de organizar plantões de testagem aos finais de semana”.

Por meio de nota, a SES-GO afirma que diante do quadro tem sido priorizado os casos considerados graves, seguindo da ordem cronológica de entrada das demais amostras, e que a orientação às prefeituras é que “as medidas de prevenção e controle devem ser adotadas desde a notificação dos casos suspeitos”.

Entretanto, na mesma nota destaca que “deve-se realizar o monitoramento dos contatos dos casos confirmados, visando interromper cadeias de transmissão”, o que não é possível, segundo as prefeituras ouvidas pela reportagem, por causa da demora nos resultados.

A reportagem não conseguiu uma resposta da Prefeitura de Goiânia sobre os testes.

Atraso também afeta a rede privada

O atraso nos resultados dos testes do novo coronavírus também afeta a rede privada e os planos de saúde. Um dos entrevistados informou que só consegue atender em 24 horas casos de urgência e emergência.

A Unimed Goiânia informou que os laboratórios têm demorado em média 8 dias para entregar uma resposta. Desde o dia 13, já foram feitos 429 exames pelo plano de saúde, uma média de 42 por dia, sendo que 30% ainda estão em análise.

A empresa informou que busca alternativa com a liberação dos testes rápidos, já permitidos no Brasil, mas ainda não disponíveis no mercado. “Isso não compromete o trabalho dos médicos da Unimed, já que o tratamento começa imediatamente no combate aos sintomas”, informou por meio de nota.

A Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) informou que desde o dia 16 os hospitais filiados restringiram os exames apenas para pacientes internados, em função da escassez dos kits, e que o resultado tem ficado pronto em até 5 dias, “o que tem gerado queixa dos hospitais”. O laboratório para onde o teste é encaminhado, segundo a Ahpaceg, atribui a demora à “alta demanda pelo teste em no Brasil e a baixa disponibilidade de insumos usados para o processamento desse exame”.

Procurado pela reportagem, o Instituto de Assistência dos Servidores de Goiás (Ipasgo) não respondeu o tempo médio de demora para entrega dos resultados, dizendo apenas que “cabe aos laboratórios determinar esses prazos”.

O Laboratório Padrão, que atende hospitais e planos de saúde em Goiás, disse que o grupo do qual faz parte, tem solicitado um prazo de até 6 dias, mas que em casos urgentes e emergenciais tem consegui entregar o resultado entre 24 e 48 horas, “quando sinalizados pelo hospital solicitante”.

Para agilizar as respostas, o Sindicato dos Laboratórios de Análises e Banco de Sangue do Estado de Goiás (Sindilabs) afirma que tem tentado firmar uma parceria com universidades goianas para ampliar a oferta de exames de diagnóstico do novo coronavírus. “Mas, enquanto muitos pacientes aguardam a realização do teste, as negociações para a parceria não avançam”, disse em nota.
A intenção, segundo a presidente do Sindilabs, Christiane Maria do Valle Santos, é que os laboratórios filiados façam a coleta das amostras para que as análises ocorram nos laboratórios das universidades.

Apenas os casos confirmados pelos laboratórios na rede particular são comunicados à Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO).

Fonte: O Popular

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