Oficialmente,
a Paróquia São Domingos foi criada em 23/07/1825. O que nos leva crer que a
festa já era comemorada anteriormente.
Em 2015 teremos então 190 anos ou mais de religiosidade popular.
Os
encontros, as rezas, as prosas, os casamentos, os batizados, as novenas, as
prendas ofertadas para os leilões, a quermesse. Nas minhas pesquisas, foi
possível saber que em 1942 o Padre espanhol Francisco Ituriaga, compôs para a
nossa festa uma música “São Domingos grande e glorioso” inspirada em uma canção
folclórica de seu país. Sua música é cantada até hoje. A permanência por longo
tempo em São Domingos fez o Padre Geraldo Chiarini Ferraccioli (in memorian)
ser o mais conhecido propagador da Festa por várias gerações.
A partir de
1988, devemos reconhecer que a cidade passou por uma mudança profunda na sua
estrutura física –várias ruas próximas da Igreja Matriz desapareceram - e não
soubemos captar a necessidade de fazer adaptações no evento que ficou
enfraquecido, chegando ao absurdo de transformar em duas festas. Esse fato
ocorreu em função da omissão da comunidade religiosa que foram dispersando os
vendedores ambulantes das proximidades da Igreja Matriz. As pessoas sem
conhecimento da cultura aproveitaram o vácuo e conduziram o processo meramente
comercial. No lugar das lembrancinhas da festa (camisetas, botons, chaveiros,
imagens religiosas, fitas) e comidas típicas, notabilizaram o entretenimento
deslocado. Longe do ambiente, essa “outra” festa prosperou, mas sem foco no
enredo da tradição festiva.
A quermesse ficou
esvaziada durante toda década de 1990. Em meados dos anos 2.000, houve alguns avanços e de lá pra cá
buscamos planejar mais, inserimos novos elementos e concluímos que esse era o
caminho. Por exemplo: a ideia de convidar a Banda Marcial da PM de Arraias para
abrilhantar a nossa festa, partiu de uma pesquisa que fiz descobrindo que em
meados dos anos 1930/40 a cidade dispunha desse quadro musical durante as
festas religiosas. Já nos anos de 1960/70, a cidade recebia a Banda Marcial de
Barreiras e nos anos de 1980, a Banda da
PM de Goiás era destacada para musicar o enredo da nossa festa.
Quermesse -
são festas realizadas em diversas épocas de acordo com cada paróquia. Compostas
por manifestações da culinária típica de cada região. Tem barracas de sorteios,
jogos com prêmios e leilões de prendas ofertadas pelos fieis.
O grande
desafio para os festeiros é adaptar o enredo da festa aos tempos atuais sem
modificar suas características originais. A festa ganha fôlego a cada novo
elemento inserido. Poderíamos por exemplo adotar a folia, mesmo que fosse por
um dia de giro, bem como a cavalgada. Inserir na programação alguns shows
artísticos com cantores e bandas de renome da música católica. A cada ano
convidar grupos de religiosos e/ou religiosas da Congregação fundada por São
Domingos de Gusmão para orientações/cursos Vocacionais.
Atualmente o
Padre Daniel tem realizado uma leitura correta das necessidades de adequar a
dimensão litúrgica do evento e a condução da quermesse. Acredito que essa configuração está próxima
daquilo que imaginamos numa festa de Celebração e devoção.
Algumas
cidades da região já perderam por completo a configuração original da sua festa
do padroeiro e outras ainda mantém. Gostei muito da Festa de Nossa Senhora dos
Remédios em Arraias -TO. As ruas próximas à Igreja Matriz ficam tomadas de
ambulantes, configurando uma só festa, unida, e que indica o caráter respeitoso
para com o sagrado. O Comércio não atrapalha as cerimônias litúrgicas nem a
quermesse, e esses reconhecem o direito à liberdade de todos. As vias públicas
são tomadas pelo povo proporcionando à cidade uma atmosfera festiva intensa,
organizada, celebrativa. Não há morador desprovido dos seus direitos de ir e
vir. É uma festa popular, na rua, na frente de casa, todos se sentem também
aniversariantes. Estou aqui na minha rua recebendo os meus convidados para a
festa da minha comunidade, que mal há nisso?
A Terra dos
meus Sonhos (Silvio Brito)
Você precisa
conhecer a minha terra...
Lá não tem
muros, nem um tipo de barreiras,
Preconceitos
nem fronteiras de país ou religião.
Todo mundo
se respeita, isso que é constituição...
Levantada do
Mastro- Numa Festa de Padroeiro, o mastro levantado na porta da igreja
representa o inicio das novenas. Ao final da festa retira o mastro guardando-o
para o ano seguinte. Algumas pessoas não gostaram dessa mudança, mas devemos
reconhecer que a tradição de levantar o mastro no dia 03 de Agosto vem do tempo
em que os Padres moravam distantes e improvisavam a levantada do mastro no
mesmo dia que chegavam para celebrar a missa. A mudança, apesar de necessária,
não deixa de ser uma ruptura considerável no costume das pessoas, é nessa hora
que entra as adaptações que tanto falamos.
No dia 26 de
Julho levanta-se o mastro dando inicio a festa,
e no dia 03 de Agosto mantém a tradição de circular o mastro em
procissão com cera ou velas acesas, o sanfoneiro tocando, o capitão do mastro à
frente, fogos de artifícios e vivas ao padroeiro. É festa, é celebração que
também evangeliza.
Matinê – A
tradição consta das badaladas do sino da Igreja ao meio dia acompanhado de
fogos de artifício. Seria interessante retomar esse costume dos matines. Não é
difícil de fazer, simboliza a alegria do ambiente festivo em que a comunidade
se encontra. É como um aviso ou um despertar dos festeiros para a comunidade
dizendo: a festa ainda não acabou, vamos lá, animem-se.
Missa de
encerramento- Nas minhas pesquisas, algumas pessoas gostariam que a missa do
dia 04 de Agosto devesse ser realizada logo de manhã. Para eles, isso iria
facilitar a participação das pessoas da zona rural que teriam o restante do dia
para retornar às suas casas. De qualquer forma vale a pena fazer uma
experiência realizando a missa de encerramento na parte da manhã. Acredito que
a celebração dos batizados, no dia 04 de Agosto na parte da manhã é um gesto
que de certa forma resguarda a tradição dos fieis de devoção ao Padroeiro
Senhor São Domingos.
A data da
Festa- O Frei Filipe, O. P. do Convento São Domingos, me informou o seguinte
via imail:
Caríssimos
irmãos,
“Normalmente celebram-se os santos nos dias da
sua morte. São Domingos morreu no dia 6 de Agosto. Neste dia a Igreja celebrava
e celebra a festa da Transfiguração do Senhor. Por este motivo escolheu o dia
mais próximo da sua morte. O dia que estava livre era o 4 de Agosto, que se
celebrou até a reforma do Concílio
Vaticano II (1962).
Com a
reforma do Concílio e a revisão do Calendário litúrgico da Igreja, a festa de
São Domingos de Gusmão mudou para o dia 8, que é o que celebramos
atualmente. Na Ordem Dominicana temos duas datas para celebrar São Domingos: o
dia 8 de Agosto e o dia 24 de Maio, quando celebramos a festa da trasladação do
corpo de São Domingos com o seu processo de canonização. Com os melhores
cumprimentos. Fr. Filipe, op
A Paróquia
São Domingos mantém a mesma data do padroeiro em função da Festa do Bom Jesus
da Lapa de Terra Ronca dia 06 de Agosto. Várias paróquias por todo o Brasil
ainda mantém sua festa celebrada também no dia 04 de Agosto.
Uma só festa
- Para “juntar” novamente a festa em um só espaço é preciso um esforço de
entendimento. O ideal seria adaptar o terreno da Praça Matriz para receber os
ambulantes em uma quantidade que caiba no espaço pré-definido. Estabeleceria a
distância mínima do mastro da festa para instalações das barracas e respeitar o
silêncio nos horários das cerimônias religiosas. Com isso, a festa tornaria uma
verdadeira simbiose de valorização do aspecto cultural e religioso.
(por Dalvan Gomes)
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