Alto Paraíso de Goiás: Mulher com doença rara depende de doações para tratamento após perder movimentos das pernas e ficar cega de um olho
A
pensionista Francisca das Chagas Sales, de 28 anos, luta para conter o avanço
de uma doença rara. Moradora de Goiânia, ela precisa tomar um medicamento
mensalmente, ao custo de R$ 20 mil. O valor era pago pelo plano de saúde até
agosto do ano passado por determinação judicial, mas a operadora recorreu e
conseguiu uma decisão que a livra da obrigação. Sem a dose do remédio, a jovem,
que já perdeu o movimento das pernas, teme uma piora em seu estado de saúde.
Fran, como é
conhecida, descobriu que sofre de neuromielite óptica, uma doença rara que
atinge os músculos e o sistema nervoso central, em novembro de 2017, depois de
sucessivas infecções urinárias. Antes, ela passou por vários médicos e até
recebeu um diagnóstico equivocado de esclerose múltipla.
O período
mais complicado ocorreu em janeiro do ano passado, quando a doença provocou a
cegueira do olho direito, além de uma tetraplegia – perda dos membros
inferiores e superiores.
"Descobri
um tratamento em São Paulo e conseguimos na Justiça que o plano arcasse com os
custos, de R$ 20 mil. De maio a agosto, fiz o tratamento e evoluí, já quase
caminhava sem a muleta. Mas, em setembro, o plano de saúde conseguiu na Justiça
decisão para não ter de pagar mais o valor", contou.
De lá para
cá, a situação de Fran só piorou. Como não fez mais a aplicação do remédio por
falta de condições financeiras, os problemas voltaram a aparecer.
"Já
fiquei internada porque tive crises. Hoje, estou sem o movimento das pernas,
andando em uma cadeira de rodas, os braços estão fracos e sinto muitas dores
musculares. Sem o medicamento, corro o risco de morrer", desabafa.
A mulher
tenta na Justiça garantir a continuidade do tratamento por meio da rede
pública, mas, enquanto não recebe resposta, depende de doações. Segundo a
Procuradoria-Geral do Estado de Goiás, ela chegou a conseguir uma liminar no
dia 10 que obriga a União a custear a medicação.
A defesa da
jovem afirmou à reportagem que a determinação ainda não foi cumprida.
A Advocacia
Geral da União (AGU) informou, por e-mail, que notificou o Ministério da Saúde
(MS) sobre a existência da liminar.
O órgão
disse ainda que recorreu da decisão da Justiça por discordar "da conclusão
da perícia que serviu de fundamento para a liminar; da pretensão da autora de
obter tratamento fora do oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS); do uso de
recursos do SUS para atender casos particulares por força de decisões
judiciais, em detrimento da política pública de saúde como um todo".
Outros custos e ajuda
O tratamento
da jovem ocorre em São Paulo. Além da medicação que precisa tomar na clínica,
Fran também necessita de cuidados especiais em casa. Ela vive com um salário
mínimo, de uma pensão por invalidez. O marido dela precisou deixar o trabalho
para cuidar dela.
Por isso,
eles contam com doações para bancar os R$ 4,8 mil mensais com outros
medicamentos de uso diário e a alimentação, que tem de ter produtos específicos
por causa do tratamento.
Natural de
Alto Paraíso de Goiás, no norte do estado, onde trabalhava como vendedora, Fran
se mudou para Goiânia para facilitar o tratamento. Reside em um imóvel alugado,
bancado por doações.
Outra forma
que ela encontrou de receber ajuda foi a criação da campanha "Fran Precisa
Viver", com perfis no Facebook e no Instagram. Lá, ela mostra um pouco de
sua rotina e organiza eventos para arrecadar recursos para o tratamento.
Enquanto não
tem um posicionamento da Justiça, ela segue sua luta diária pela sobrevivência.
"Eu
sonho em ter uma qualidade de vida melhor, ter certeza do acesso à medicação.
Meu tratamento é vitalício. Sem ele, não posso viver", lamenta.
Fonte: G1
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