Mais de 440
mil alunos da rede estadual devem voltar às aulas no próximo dia 21, mas as
incertezas ainda são muitas quanto ao funcionamento pleno da rede de ensino.
Não bastasse o salário dos servidores do Estado que estão em atraso e sem
previsão de pagamento, incluindo, claro, dos professores, a Secretaria de
Estado de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) enfrenta ainda as complicações
da falta de pagamento do transporte e da merenda escolar.
Só o
transporte acumula uma dívida de R$ 78,2 milhões. O último repasse feito pelo
governo do Estado para os municípios ocorreu em agosto do ano passado e, em
algumas cidades, prefeitos já enfrentam ameaças de paralisação e da não
continuidade do serviço a partir do dia 21.
A nova
secretária de Estado da Educação, Fátima Gavioli, chegou a pontuar em entrevista
que a questão do transporte escolar como um dos grandes desafios da Seduce. A
dívida se acumulou de maneira que o Estado não conseguiu quitá-la no final do
ano, como vinha ocorrendo em anos anteriores.
Os prefeitos
esperavam que o governo fosse honrar com o compromisso no mês de dezembro, o
que, segundo eles, chegou a ser prometido, mas o repasse não foi feito.
“Tínhamos perspectiva de receber até o final de dezembro. A prefeitura veio,
inclusive, ajudando com o combustível para o transporte não parar, mas não
houve a quitação”, conta o prefeito de Goianira, Carlos Alberto Oliveira
(PSDB).
Um grupo de
prefeitos chegou a se reunir com a secretária nesta semana para discutir a
questão. Na ocasião, Fátima ressaltou a necessidade de priorizar o assunto para
não comprometer o início do ano letivo. Estava previsto para esta quinta-feira
(10) um encontro com a secretária da Fazenda para expor a situação, que não
chegou a acontecer.
Os prefeitos
chamaram a atenção para a urgência do contexto, visto que em alguns locais,
como em Goianira, existem cinco parcelas em atraso e os transportadores já
afirmam que não vão retomar o serviço se não houver uma sinalização da Seduce.
Em nota, o
órgão alegou que o governo está fazendo um levamento minucioso da situação
econômica do Estado, buscando soluções para cada um dos impasses ou atrasos. A
preocupação é quitar ou pagar parte o quanto antes para que o início do ano
letivo não seja comprometido. A dívida só com o transporte escolar de Goianira,
calcula o prefeito, é de cerca de R$ 1 milhão. “Na reunião, a secretária disse
que não teria como falar nada, porque o pagamento não é mais centralizado na
secretaria. É feito via Secretaria da Fazenda (Sefaz)”, diz Carlos.
Jeitinho
O presidente
da Federação Goiana de Municípios (FGM), Haroldo Naves (MDB) conta que os
prefeitos já estão buscando meios para resolver a situação por conta própria.
Ele mesmo, que é prefeito de Campos Verdes, município que fica a 319
quilômetros de Goiânia, conta que precisou fazer sacrifícios na administração
da cidade para não deixar os transportadores de alunos sem receber e aguarda
agora o ressarcimento por parte do Estado. “Eu segurei o dinheiro de
investimentos que poderiam ser feitos na reforma da praça, em melhorias no meio
fio, na operação tapa buraco e recuperação de prédios públicos para manter o
transporte em dia”, relata.
Até o ano
passado, Campos Verdes possuía nove linhas de transporte de estudantes, sendo
duas mantidas com veículos do próprio município e sete terceirizadas. “A
situação é grave. Se o transporte para, o aluno fica sem estudar e o Ministério
Público entra com ação contra o prefeito da cidade, enquanto a responsabilidade
vem sendo comprometida por falta de pagamento por parte do Estado”, argumenta
Haroldo.
Segundo ele,
prefeitos de outros municípios estão pensando até em mandar projetos para a
Câmara, com o objetivo de aprovar o uso de lotes e propriedades públicas como
forma de pagamento dos transportadores.
A FGM, conta
Haroldo, levou ao Ministério Público de Goiás (MP-GO) a demanda de que bens do
Estado fossem bloqueados para garantir o pagamento. O prefeito explica que, não
bastasse o atraso, o valor repassado e equivalente a cada um dos alunos
transportados por mês é inferior ao custo real.
Um estudante
que precisa ser levado diariamente por transporte escolar, segundo ele, teria o
custo de cerca 400 reais por mês. O valor da parcela mensal transferida pelo
Ministério da Educação para o Estado e, por conseguinte, para os municípios,
oscila entre 156 e 187 reais por aluno.
“Gastamos
mais do que recebemos e, quando não há um repasse em dia, estrangula o
município. O custo alto e o atraso do pagamento inviabilizam a continuidade do
serviço”, expõe o presidente da FGM.
Dívida da merenda também se acumula
Sem
receberem desde setembro do ano passado, os fornecedores da merenda escolar em
Goiás também se desdobram para garantir a continuidade do fornecimento, mas a
incerteza, assim como no caso do transporte escolar, ronda o início do novo ano
letivo. A falta de repasses em dia já gerou um valor acumulado de mais de R$
10,9 milhões, cujo pagamento ainda permanece incerto, sem previsão por parte do
Estado. Um dos fornecedores, que pediu para não ser identificado, contou ao
POPULAR que tem cerca de R$ 300 mil para receber e que a falta do dinheiro
gerou atraso nos pagamentos de fim de ano dos próprios funcionários.
A licitação
do semestre passado venceu no dia 31 de dezembro. Uma nova foi feita para
selecionar os fornecedores para este semestre e a maioria dos anteriores se
inscreveu para continuar o serviço, como forma de garantir a relação contratual
e manter a cobrança pelo valor devido. “Fizemos uma reunião com o
superintendente de Finanças da secretaria e não nos foi dada uma posição
imediata. Ele ficou de dar uma resposta na segunda-feira. São muitas empresas
que tem dinheiro para receber e o posicionamento é de que, se não pagar o
atrasado, não vamos retomar o fornecimento”, diz o fornecedor que conversou com
a reportagem.
No ano
passado, O POPULAR chegou a repercutir esta situação em específico e houve uma
promessa da Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esporte (Seduce) de
efetivar o pagamento pelo menos da parcela de setembro, o que não chegou a
acontecer.
O quadro se
somou à situação de atraso do transporte escolar e, agora, também à dificuldade
de pagamento do salário de dezembro dos professores. Para completar o contexto,
o Ministério da Educação anunciou nesta quinta-feira a aprovação do reajuste do
piso salarial da categoria em 4,17%, cujo cumprimento é outra preocupação do
Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego).
O valor
correspondente ao vencimento inicial dos professores de educação básica, com
formação de nível médio e jornada de 40 horas semanais, no Brasil, passa a ser
de R$ 2.557,74. O valor é oficial, retroativo a 1º de janeiro e cabe agora aos
municípios e estados o adotarem como base. Questionado, o governo estadual
disse que preza pela valorização dos professores e que um estudo está sendo
realizado para definir como o reajuste será instituído em Goiás.
Fonte: O
Popular
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