A Associação
Quilombo Kalunga (AQK) deu em janeiro de 2019 um passo marcante nas ações do
projeto “Uso do Geoprocessamento na Gestão do Sítio Histórico e Patrimônio
Cultural Kalunga - SHPCK”, fomentado pelo Fundo de Parceria para Ecossistemas
Críticos (CEPF, da sigla em Inglês para Critical Ecosystem Partnership Fund).
O projeto
tem como objetivos conhecer com profundidade a realidade das comunidades
Kalunga, usar a tecnologia de geoprocessamento
para mapear detalhadamente o território, promover a ocupação do SHPCK de
uma forma mais sustentável e fazer com que os Kalunga sejam reconhecidos
internacionalmente como defensores da conservação da biodiversidade.
O projeto
foi aprovado e assinado pelo Fundo em junho do ano passado. O processo de georreferenciamento e a
caracterização ambiental do Sítio Histórico foram divididos em duas fases. Na
primeira foi feito um treinamento com 24 jovens Kalunga e a contratação de um
PhD em geoprocessamento.
Em janeiro
foram iniciados o levantamento e o cadastro socioeconômicos dos moradores do
Sítio, com a meta de participação de todas as 1,5 mil famílias quilombolas,
espalhadas no que é considerado o maior território de quilombo no Brasil, com
261.999,69 hectares. O objetivo é que, até julho de 2019, todos tenham sido entrevistados.
A segunda
etapa compreenderá a associação dos levantamentos de campo com a base
cartográfica e o mapeamento temático realizado por meio de geoprocessamento e
sensoriamento remoto. Será feito também o levantamento cadastral das atividades
de garimpo, retirada ilegal de madeira e pesca predatória, e dos atrativos
turísticos.
Conscientização ambiental
Durante a
aplicação das pesquisas, as famílias quilombolas também serão mobilizadas sobre
a importância da preservação da biodiversidade em todo o território. Para isso,
foram confeccionados 4 mil calendários, que serão entregues nas casas Kalunga,
além de pessoas e de locais estratégicos dos municípios de Alto Paraíso,
Cavalcante, Campos Belos, Monte Alegre de Goiás e Teresina de Goiás.
Os
calendários começaram a ser distribuídos para as comunidades envolvidas,
instituições públicas, proprietários de terra, representantes municipais,
acadêmicos, agentes de saúde e escolas em janeiro deste ano, para que todos
participem da gestão ambiental, de forma a contribuir com a preservação da
biodiversidade. Também foram confeccionados banners, que serão fixados em todas
as escolas municipais, estaduais e particulares nos cinco municípios.
De acordo
com o levantamento prévio feito pela Associação, há 19 espécies localmente
ameaçadas encontradas na região. As espécies-alvo de conservação foram
priorizadas de acordo com o critério de grau de ameaça, focado em espécies que
enfrentam risco extremamente elevado de extinção na natureza, exigindo ações
urgentes de conservação.
De acordo
com Vilmar Souza Costa, presidente da Associação Quilombo Kalunga desde 2014, a
experiência do povo Kalunga de convivência harmoniosa com o Cerrado por quase
três séculos é um exemplo a ser seguido, e a luta pela preservação deste bioma é
um dos principais objetivos da Associação.
“O relevante
impacto deste projeto será o de dotar nossas comunidades de informações
detalhadas sobre o território em que vivem, dados estes que serão incorporados
e integrados no planejamento e nas estratégias de conservação e desenvolvimento
sustentável das nossas terras, respeitando o conhecimento tradicional e a
cultura do povo Kalunga”.
O Fundo de
Parceria para Ecossistemas Críticos vem atuando desde o ano de 2.000 para
assegurar a participação e a contribuição da sociedade civil na conservação de
alguns dos ecossistemas mais ricos do mundo do ponto de vista biológico, porém
atualmente ameaçados.O CEPF é uma iniciativa
conjunta da Agência Francesa para o Desenvolvimento, Conservação
Internacional, União Europeia, Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), Governo
do Japão e Banco Mundial. Uma meta fundamental é garantir que a sociedade civil
esteja envolvida com a conservação da biodiversidade.
O Fundo
oferece financiamento para proteção de ecossistemas únicos e ameaçados –
conhecidos também como hotspots de biodiversidade. Atualmente, o Fundo conta
com aproximadamente 40 projetos, divididos em Grandes e Pequenos Apoios. O
projeto da Associação Quilombo Kalunga foi um dos 40 selecionados.
Por Karin
Villatore/ Sagres
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