Um ano
depois de deflagrada a Operação Caifás, que apontou desvio de dinheiro de
igrejas da Diocese de Formosa, foram marcados para dia 29 de março os
interrogatórios dos acusados na Justiça. Até agora, apenas testemunhas deram
suas versões sobre os fatos.
Ainda não há
prazo para conclusão do julgamento dos 11 listados no processo, entre eles o
bispo Dom José Ronaldo Ribeiro, que até setembro do ano passado era o
responsável por 33 igrejas católicas em 22 municípios na região. Ele renunciou
ao cargo depois de ter o nome envolvido no esquema que desviou pelo menos R$ 2
milhões dos cofres da Diocese.
A defesa de
um dos acusados, o advogado que atuava pela Diocese de Formosa, Edmundo da
Silva Borges Júnior, apresentou um habeas corpus alegando incompetência da
justiça goiana já que a vítima, a Igreja Católica, levaria o caso automaticamente
para ser apreciado pela Justiça Federal. O Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO)
não reconheceu o pedido, que foi levado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Por sua vez, o STJ determinou que o TJ-GO é quem deve julgar esta arguição de
competência, mas este julgamento ainda está pendente.
Entretanto,
este recurso da defesa não impede que os interrogatórios tenham início na
sexta-feira da próxima semana (29). Na data, os primeiros depoimentos deverão
ser iniciados, mas ainda não há previsão para conclusão deste processo. Um dos
promotores que apresentaram a denúncia, Douglas Chegury diz que, mesmo que os
11 acusados não sejam condenados, ele já percebe um ganho social muito grande.
“Essas pessoas que realizavam estes desvios, que lesavam os cofres e a fé
destas pessoas, já foram afastadas da igreja, que já tem novos representantes e
gestores”, reforça.
Desde a
prisão dos acusados, dezenas de pessoas foram ouvidas como testemunhas de
acusação e de defesa, algumas pessoalmente no Fórum de Formosa e outras por
carta precatória. A partir de agora, os interrogados serão o pároco afastado da
Paróquia Sagrada Família, em Posse, Waldson José de Melo; o ex-secretário da
Cúria de Formosa, Guilherme Frederico Magalhães e o ex-funcionário da Diocese,
Darcivan da Conceição Serracena. Também serão ouvidos o advogado Edmundo da
Silva Borges Júnior e o juiz eclesiástico Tiago Wenceslau de Barros Barbosa
Junior.
Ainda na
lista para serem ouvidos aparecem os empresários apontados como laranjas no
esquema de lavagem de dinheiro, Pedro Henrique Costa Augusto e Antônio Rubens
Ferreira. O Ministério Público já possui o contrato de gaveta que confirma que
o proprietário da casa lotérica em Posse, que era administrada pelos dois
empresários, é o padre Moacyr Santana, que era pároco da Catedral Nossa Senhora
da Imaculada Conceição, em Formosa. Em documento encaminhado pelos promotores à
Justiça está claro que o comprador da casa lotérica é o padre.
Ainda serão
ouvidos o padre Mario Vieira de Brito, que era da Paróquia São José Operário,
em Formosa; Epitácio Cardozo Pereira, que na antiga gestão da Diocese atuava
como vigário-geral; e o bispo José Ronaldo Ribeiro, que apresentou carta de
renúncia ao Papa Francisco em setembro do ano passado.
Novo bispo indicado pelo Papa toma
posse em junho
O novo bispo
da Diocese de Formosa, Dom Adair José Guimarães tomará posse do cargo no dia 1º
de junho em cerimônia marcada para ocorrer na catedral da cidade. Ele foi
nomeado em fevereiro pelo Papa Francisco. Nascido em Mara Rosa (GO), Dom Adair
estava como responsável pela Diocese de Rubiataba-Mozarlândia desde maio de
2008. Ele também já foi juiz presidente do Tribunal Eclesiástico da
arquidiocese de Goiânia, pároco em Uruaçu e Mara Rosa, entre outras cidades.
Ele assume
em definitivo no lugar de Dom Paulo Mendes Peixoto, que é bispo em Minas
Gerais, mas que estava como administrador apostólico interino em Goiás desde
que o escândalo envolvendo os religiosos em Formosa veio à tona. Dom Paulo
agradeceu o acolhimento recebido na cidade desde que precisou assumir a gestão
e informou que, desde o mês passado, tem ido à cidade apenas uma vez por mês e
ficado pelo período de uma semana. Ele diz confiar na atual equipe que colabora
com sua intervenção na cidade.
Assim que
foi nomeado, Dom Adair José divulgou uma nota dizendo que está à disposição dos
fiéis como “operário” e que chega para somar e levar almas a Deus. Ele também
diz que seu ministério segue a Cristo, que é casto, pobre e obediente.
A Santa Sé
também apura a conduta do bispo Dom José Ronaldo Ribeiro, que está afastado da
Diocese, mas este processo não tem data para ser concluído. Apesar do
afastamento, José Ronaldo se mantém com o título de bispo, mas não pode
celebrar missas. Desde que renunciou ele se mudou de Formosa com a autorização
da Justiça para Sobradinho (DF), onde mora sua família.
Fraude envolvia dinheiro de taxas e
ofertas de igrejas católicas
A operação
Caifás foi deflagrada em 19 de março de 2018 depois de três meses de apuração
do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), que teve início depois de
reportagem publicada pelo POPULAR em dezembro de 2017.
Na
investigação, os promotores do caso verificaram que o grupo composto por 11
pessoas já teria desviado, pelo menos, R$ 2 milhões dos cofres das igrejas da
Diocese de Formosa. Estes valores eram arrecadados em taxas de batismos e
casamentos, por exemplo, além de dízimos e ofertas.
Os acusados
adquiriram, conforme a apuração do MP-GO, veículos de luxo, propriedades rurais
e até uma casa lotérica em nome de um dos religiosos, onde parte do dinheiro
era lavado.
Nove dos 11
acusados foram ouvidos e continuaram presos por 29 dias, quando, na terceira
tentativa da defesa, foram soltos por força de habeas corpus. Na saída da
cadeia, eles foram recebidos por alguns fiéis que os esperavam cantando. Os
outros dois acusados não chegaram a ficar detidos.
Na operação,
com os acusados, foram encontrados valores em espécie escondidos nas casas dos
religiosos. Na residência de um dos padres, R$ 75 mil estavam escondidos em um
fundo falso dentro de um guarda-roupa. Também foram recolhidas moedas
estrangeiras e equipamentos eletrônicos.
O grupo
responde por apropriação indébita, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
A reportagem entrou em contato com advogados de defesa que atuam no processo e
eles preferiram não comentar o assunto. Disseram que vão se pronunciar apenas
nos autos.
Fonte: O
Popular
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