Cerca de 100
crianças de seis comunidades Kalungas ainda esperam, ansiosas, para terem a
primeira aula de ensino fundamental do ano letivo, em Monte Alegre de Goiás,
região da Chapada dos Veadeiros, no nordeste do estado.
A demora na
contratação de professores gerou revolta de pais contra a prefeitura, que
admitiu o longo atraso para o início das atividades escolares.
Em
entrevista na nesta sexta-feira (7/5), o prefeito da cidade, Felipi Campos
(DEM), reconheceu que a demora no início do ano letivo prejudica a população.
“Confesso que atrasou. Houve um erro por não entregar material logo para fazer
coordenação e força-tarefa para começar as aulas”, disse o democrata.
Gravado pela
comunidade, um vídeo (assista o vídeo acima) mostra a situação de abandono da
Escola Municipal Tinguizal, uma das quatro unidades do município onde estudam
as crianças de seis comunidades. As imagens mostram salas de aulas totalmente
vazias, com carteiras viradas em cima das mesas.
No vídeo, o
representante da comunidade Tinguizal, Valdenir Rodrigues, de 44 anos,
ressaltou que já está quase na metade do ano, mas, segundo ele, até hoje não
recebeu qualquer tipo de resposta por parte da Secretaria Municipal de Educação
(SME) sobre o início das aulas.
“Essa
situação é péssima. Ainda não teve aula nem presencial nem a distância”,
reclamou ele, em entrevista realizada por meio do WhatsApp. A comunidade não
tem internet de qualidade, e as ligações telefônicas não são possíveis.
Mãe de uma
criança que estuda na escola, Luciene Kalunga também criticou a demora e o descaso
da prefeitura.
“Estamos
reivindicando o direito à educação de nossos filhos, dessas crianças que estão
aqui, sem estudar, desde o início de 2021. Primeiramente, entrei em contato com
o diretor para saber quando estariam começando as aulas, porém, não tivemos
respostas concretas”, disse ela.
Por
telefone, a reportagem questionou o diretor Rodrigo Kalunga, que também admitiu
a falta de aula nas escolas, disse que estava fazendo planejamento das
atividades escolares e, em seguida, desligou.
Quadro de
pessoal defasado
Apesar de
ter admitido o problema, o prefeito jogou a culpa na gestão anterior. “A gente
pegou o município totalmente defasado em questão de funcionários”, afirmou ele,
que assumiu o mandato em janeiro deste ano.
De acordo
com Campos, o município tem que abrir processo seletivo para selecionar
professores da comunidade Kalunga toda vez que começa o ano letivo. Ele diz que
ficou sem saber se deveria contratar educadores kalungas ou se lançaria
processo seletivo para o público em geral participar.
A grande
questão é que os povos tradicionais reivindicam a contratação de profissionais
dos quilombos, para preservar a história e a cultura deles, mantendo viva a
ancestralidade e o significado do território.
Promessa
Em meio a
esse imbróglio, o prefeito informou que o município vai fazer contratação
emergencial de professores, sem processo seletivo formal, em razão da urgência.
Ainda não há data específica, mas, segundo ele, será nos próximos dias.
Segundo o
prefeito, o material escolar já começou a ser distribuído nas comunidades, e,
conforme acrescentou, “o município vai fazer uma força-tarefa ao longo deste
ano para recuperar o tempo perdido”.
O prefeito
disse que o município consultou o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO)
e o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) sobre a possibilidade de contratar
apenas professores quilombolas ou realizar seleção para o público em geral. No
entanto, ele afirmou que ainda não houve resposta.
Em resposta,
o MPGO informou que a Promotoria de Campos Belos ainda não recebeu qualquer
informação sobre crianças kalungas sem aulas. O portal não obteve retorno do
TCM.
Fonte: Metrópoles

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