Já reparou como é gostoso observar crianças brincando? Parece
que o tempo não existe para elas, não é mesmo? Seus gritinhos, a facilidade
como caem e levantam, a alegria com o simples abraço do coleguinha ou o encanto
de um som inusitado de um pássaro que voou perto delas.
Tudo isso nos fascina, pois, em nosso cérebro há a lembrança
deste tempo em que não medíamos a vida, simplesmente a vivíamos, em que não
éramos movidos por promoções ou popularidade e sim, pelo gosto por experimentar
a vida em suas cores e sabores.
Ao brincar, a criança exerce sua criatividade livremente. Ela
experimenta gostos, prazeres, sons, cria imagens e até com os aromas ela faz
experiências que a entretêm.
O exercício de brincar e criar, porém, não é um mero
passatempo. É um dos exercícios mais importantes que fazemos na vida. Por meio
destas atividades aparentemente simples, aprendemos a inovar, a encontrar
soluções, a viver novos papéis, a lidar com as frustrações, a formar laços e
com isso, áreas do nosso cérebro relacionadas à capacidade de tomar decisões, à
memória, ao raciocínio lógico, à antecipação de consequências e até aquelas
ligadas à empatia e à inteligência emocional são desenvolvidas.
Uma maneira de estimular estas atividades aparentemente
simples é promover a interação da criança com livros e brinquedos e/ou
brincadeiras. Não por acaso, grandes empresas entendem a importância e
estimulam essa ação. Um belo exemplo que concretizou estas ideias foi a
campanha “Ler e Brincar” realizada pela empresa McDonald’s, cujo objetivo é
estimular a criatividade e a imaginação das crianças.
Não seria um exagero dizer que o cérebro como um todo é
aprimorado com o brincar e o criar. Infelizmente, porém, diversos fatores têm
conduzido a uma redução nesta importante atividade humana. Um estudo baseado em
testes da NASA nos dá números chocantes: aos 5 anos de idade, 98% das crianças
se mostram criativas. Aos 10 anos esta porcentagem cai para 30%, acima dos 25
anos são apenas 2% das pessoas que demonstram criatividade[1].
Crianças que crescem em um ambiente que lhes permite e
estimula a serem criativas podem ter uma chance muito maior de obterem sucesso
e até felicidade. Isso, pois, quando chegarem na vida adolescente, em que terão
que criar projetos de vida nas diversas áreas da sua existência, contarão com a
percepção treinada e internalizada ao longo dos anos de que a distância entre
seus sonhos e suas conquistas depende em boa parte de sua própria atitude.
Na fase das paixões, das oscilações e dos impulsos, contar
com um cérebro aberto ao novo, com uma atitude leve e flexível diante da vida e
ter formado laços saudáveis com amigos dos mais diversos, pode ser a diferença
para uma transição bem sucedida da adolescência para a vida adulta, pois na
hora em que se deparar com as decepções, quando os planos infalíveis não derem
certo, ou no momento em que precisar ajustar seus desejos aos dados e fatos da
realidade, lá estará ela: a criatividade, que é a base essencial da resiliência
diante da vida.
Imagine agora em sua mente, enquanto lê estas palavras, a
imagem de pessoas empreendedoras, de gente que você admira, profissionais que
foram além, criaram algo novo ou se reinventaram. Pense agora nos aplicativos
que fazem a sua vida mais fácil, mais leve, melhor. Pense nas empresas, times e
equipes de sucesso. Em praticamente todos estes contextos você verá adultos que
têm muito daquela mesma atitude das criancinhas de que falamos no começo do
nosso artigo. Elas mediram passos, mas não seus sonhos. Elas pensaram fora da
caixa. Elas ousaram. Elas criaram, pois se permitiram brincar com as ideias e
recriar a realidade. De certo modo podemos dizer que o empreendedor é aquele
que “lê” a realidade por novos ângulos e “brinca” com as possibilidades gerando
prosperidade.
Quando é que você tem dedicado algum tempo para brincar e
criar com seus filhos, com seu cônjuge, consigo mesmo? Nós temos, na prática, a
idade que pulsa no coração. Quantos anos você tem, de verdade?
Por Leo Fraiman - psicoterapeuta
e orientador profissional
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