O bispo de
Formosa, dom José Ronaldo Ribeiro, continua impedido de deixar o país, sem
autorização judicial, obrigado a comparecer aos encontros na Justiça e a
obedecer ao toque de recolher às 22h. O Superior Tribunal de Justiça (STJ)
negou pedido de cancelamento das medidas cautelares impostas pelo Tribunal de
Justiça do Estado de Goiás (TJGO) ao sacerdote, um dos réus investigados pela
Operação Caifás.
Deflagrada
em 19 de março, a ação do Ministério Público de Goiás (MPGO) resultou na prisão
de oito pessoas supostamente envolvidas em desvios de mais de R$ 2 milhões de
paróquias ligadas a Diocese de Formosa.
O novo
pedido de habeas corpus, impetrado no STJ em 8 de junho, foi negado pelo
ministro Felix Fischer nessa segunda-feira (18/6). A solicitação tinha o
objetivo de questionar algumas medidas cautelares estabelecidas pelo TJGO, como
proibição de ausentar-se da Comarca e do País sem autorização judicial,
comparecimento mensal a juízo de origem, para informar e justificar as próprias
atividades, obrigação de comparecer a todos os atos judiciais para os quais for
intimidado no processo principal e recolhimento domiciliar no período noturno,
a partir das 22h.
Dom José foi
preso em 19 e março e teve a liberdade concedida pelo Tribunal de Justiça do
Estado de Goiás (TJGO), em 17 de abril.Durante o período em que permaneceu na
prisão, quase 30 dias, o bispo teve três pedidos de liberdade negados pelo
TJGO, Superior Tribunal Federal (STF) e STJ. De acordo com o advogado do bispo,
Lucas Rivas, a nova solicitação é de garantia, para resguardar a regularidade
do processo.
Audiências
O TJGO
marcou para 9 de agosto a primeira audiência de instrução e julgamento dos réus
investigados pela Operação Caifás. O órgão informa que essa primeira etapa será
realizada em Formosa e servirá para o juiz instruir o processo, reunindo
informações que contribuam para o convencimento do caso. Segundo a acusação do
MPGO, desde 2015, os sacerdotes adquiriram propriedades, joias e veículos. A
suspeita é de que eles desviavam dinheiro de arrecada em casamentos, batizados
e eventos realizados pela Igreja Católica.
Nessa primeira
etapa, a Justiça receberá todos os onze réus acusados de participar do esquema.
Serão escutados: Waldson José de Melo,
Pároco da Paróquia Sagrada Família, em Posse, Guilherme Frederico Magallhães,
secretário da Cúria de Formosa, Darcivan da Conceição Serracena, funcionário da
Diocese de Formosa, Edmundo da Silva Borges Junior, advogado da Diocese de
Formosa, Pedro Henrique Costa Augusto e Antônio Rubens Ferreira, empresários
apontados como laranjas do esquema, Tiago Wenceslau de Barros Barbosa Junior,
juiz eclesiástico, Mario Vieira de Brito, pároco da Paróquia São José Operário,
em Formosa, Moacyr Santana, pároco da Catedral Nossa Senhora da Imaculada
Conceição, em Formosa, Epitácio Cardozo Pereira, vigário-geral e José Ronaldo
Ribeiro, bispo de Formosa.
Investigação
Os
investigadores à frente do caso ainda não analisaram todo material apreendido
durante a operação. De acordo com o promotor do MPGO, Douglas Chegury, os mais
de 52 equipamentos eletrônicos, entre computadores, pendrives e outros dispositivos
de armazenamento estão sendo avaliados pela perícia em Goiânia. A previsão é de
a análise fique pronta nos próximos dias.
Em 28 de
março, os agentes encontraram mais irregularidades vinculadas à Diocese de
Formosa. Um documento comprova que há mais de 160 veículos registrados no nome
da Cúria da Região. Os promotores tentam identificar se os automóveis foram
vendidos, quem os comprou e para onde foi o dinheiro.
Quando o
Ministério Público deflagrou a operação, os investigadores encontraram na casa
do monsenhor Epitácio um fundo falso com dinheiro. Os agentes apreenderam R$
156 mil em espécie, sendo R$ 8 mil em moeda estrangeira. Ainda no imóvel, os
policiais recolheram aparelhos eletrônicos e uma coleção de relógios de grife.
Os
promotores dizem ainda ter encontrado notas promissórias no nome do padre
Moacyr Santana, que o ligariam à
lotérica de Posse, avaliada em R$ 500 mil. O estabelecimento estava no nome de
dois laranjas, Pedro Henrique Costa Augusto e Antônio Rubens Ribeiro, mas a
documentação estava no nome do padre, segundo o MPGO. Os promotores também
encontraram um relatório contábil de 2015. O livro contábil fechou com deficit
de R$ 200 mil.
Saiba quem é
quem entre os indiciados na Operação Caifás:
Dom José Ronaldo Ribeiro, bispo de
Formosa
Apontado
como líder da quadrilha e preso desde 19 de março, responde por 10 acusações de
apropriação indébita qualificada (por estar no exercício do ofício enquanto
cometia os crimes); por falsidade ideológica; e por associação criminosa
(antiga formação de quadrilha).
Epitácio Cardozo Pereira,
vigário-geral
Segundo na
hierarquia da diocese de Formosa, também preso na Operação Caifás, responde por
apropriação indébita qualificada (falta tipificar o número de vezes que teria
cometido o crime) e associação criminosa. Na casa dele, a Polícia Civil de
Goiás apreendeu mais de R$ 70 mil em dinheiro, relógios de luxo e equipamentos
eletrônicos em um fundo falso no guarda roupas.
Moacyr Santana, padre
Pároco da
Catedral Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em Formosa, responde por
apropriação indébita qualificada pelo fato de cometer crime no exercício do
ofício, por lavagem de dinheiro e por associação criminosa. O MPGO encontrou o
nome do sacerdote em notas promissórias que o ligariam a uma casa lotérica em Posse (GO).
Mário Vieira de Brito, padre
O pároco da
Paróquia São José Operário, em Formosa, que também continua preso, responde por
apropriação indébita com a mesma qualificadora dos anteriores, além de ser
acusado de falsidade ideológica e associação para o crime. Ele foi flagrado em
escutas telefônicas comemorando, com Moacyr, a chegada de um juiz eclesiástico,
para intimidar sacerdotes contrários ao esquema, segundo o MPGO.
Waldson José de Melo, padre
Pároco da
Paróquia Sagrada Família, em Posse, responde duas vezes por apropriação
indébita qualificada, além de associação criminosa. Continua preso.
Thiago Wenceslau de Barros Barbosa
Júnior, padre
Juiz
eclesiástico, responde por falsidade ideológica e associação para o crime.
Ainda é suspeito de receber dinheiro para intimidar padres que denunciaram o
golpe e de participar da falsificação de
um documento que apresentava auditoria nas contas da diocese. Está preso de segunda-feira.
Antônio Rubens Ferreira,
empresário
Responde por
lavagem de dinheiro. Emprestaria o nome e documentos para a compra de bens
móveis e imóveis. É apontado como laranja de Moacyr.
Pedro Henrique Costa Augusto,
empresário
Responde por
lavagem de dinheiro. Emprestaria o nome e documentos para a compra de bens
móveis e imóveis. Também apontado como
laranja de Moacyr.
Guilherme Frederico Magalhães,
secretário da Cúria de Formosa
Responde por
apropriação indébita qualificada e associação criminosa.
Darcivan da Conceição Sarracena,
funcionário da diocese de Formosa
Responde por
falsidade ideológica e associação criminosa.
Edimundo da Silva Borges Júnior,
advogado da diocese
Pesam contra
ele as acusações de falsidade ideológica e associação criminosa.
Fonte: Correio Braziliense
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