A região
geomorfológica denominada Chapada dos Veadeiros é uma pérola da biodiversidade
do Cerrado. Todos os estudos com biodiversidade realizados na região apontam
para sua importância, sua singularidade e sua fragilidade.
Ocorre, nos
atuais limites da Chapada dos Veadeiros, ao menos 17 espécies de plantas
ameaçadas de extinção, além de algumas das últimas populações de animais
raríssimos no Cerrado, como o icônico pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), da
onça-pintada (Panthera onca), do socó-boi-rajado (Tigrissoma fasciatum), da
águia-cinzenta (Urubitinga coronata), da codorna-mineira (Nothura minor), do
tico-tico-mascarado (Coryphaspiza melanotis) e de tantas outras espécies que
estão desaparecendo junto com o bioma.
A Chapada dos
Veadeiros também é muito importante do ponto de vista evolutivo. Diversas
espécies de vertebrados, notadamente de anfíbios, ocorrem exclusivamente lá e
apenas lá, podendo ser considerada um “ninho” para a formação de espécies ao
longo da evolução. Por conta disso, é corriqueiro o registro de novas espécies,
ainda não formalmente descritas em periódicos científicos especializados, como
anfíbios, lagartos, roedores, peixes, dentre outros.
A Chapada
dos Veadeiros parece guardar seus segredos com cuidado, revelando-os apenas
àqueles que buscam o conhecimento com dedicação.
A beleza
cênica da região é singular e espetacular, sendo o principal motor do
ecoturismo. As vastas paisagens, as centenas de cachoeiras e os diversos
momentos de contato com a natureza, em suas diferentes dimensões e
possibilidades, foram a força responsável por grande parte do crescimento
econômico observado nos municípios da região nos últimos 30 ou 20 anos.
Foi a força
dessa natureza que colocou o norte de Goiás no mapa do mundo e colocou o mundo
no norte de Goiás. Em 2016, apenas o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
recebeu aproximadamente 60 mil visitantes. É bem plausível que outro tanto
tenha visitado a região sem ter visitado o parque, deixando recursos
financeiros e levando saudades.
Se por um
lado a visibilidade da Chapada dos Veadeiros tem movimentado economicamente e
socialmente a região, por outro lado também está ameaçando a manutenção
adequada dos valores ecológicos, evolutivos e sociais da região.
A ampliação
da Chapada dos Veadeiros não é uma birra de ambientalistas românticos e
loquazes. É, acima de tudo, o reconhecimento, baseado em diversos estudos, de
que o atual limite do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros é insuficiente
para proteger adequadamente os atributos da Chapada dos Veadeiros.
Essa demanda
visa ampliar a proteção sobre ecossistemas frágeis e raros (e as espécies aí
presentes), permitir a viabilidade ecológica de predadores de topo de cadeia
(as quais precisam de paisagens amplas e bem conservadas para que suas
necessidades ecológicas e demográficas), para garantir a conservação dos
processos ecológicos e evolutivos que garantem o provimento dos serviços
ecossistêmicos (incluindo aí o sequestro de carbono e o tamponamento dos
efeitos das mudanças climáticas), a manutenção da diversidade biológica
regional, proteger nascentes (466 segundo dados do ICMBio) e garantir a
qualidade do meio ambiente às populações humanas.
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