A Gerência
de Auditoria (GA) do Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do Estado
de Goiás (Ipasgo) possuiu entre seus profissionais cadastrados, um auditor
médico que não existe. O auditor “fantasma”, usado para praticar fraudes, está
no sistema do plano de saúde há mais de três anos, pelo menos.
A Operação
Morfina, deflagrada pela Polícia Civil na semana passada, identificou que,
entre agosto de 2015 e novembro de 2018, esse falso profissional autorizou 404
alterações indevidas no sistema do Ipasgo que beneficiaram 16 empresas da área
da Saúde, entre clínicas e laboratórios.
Duas provas
reveladas pelos investigadores permitiram que o esquema fosse descoberto: uma
coincidência e uma confissão. A coincidência aconteceu em fevereiro deste ano,
quando um médico foi até a Gerência de Credenciamento (Gecred) do Ipasgo para
adicionar o endereço de uma clínica em seu cadastro de profissional que presta
serviço ao plano de saúde.
Ao puxar o
credenciamento deste médico no sistema, os servidores do Gecred perceberam que
o auditor, que permitiu seu credenciamento, não tinha qualquer vínculo
trabalhista com o Ipasgo, nem mesmo registro por meio da impressão digital. Ou
seja, o profissional não existia. Ele foi bloqueado do sistema em maio.
Já a
confissão foi dada em depoimento no início do inquérito, aberto pela Delegacia
Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Dercap), há
cerca de um mês. O depoente foi um funcionário da Hominus Gestão e Tecnologia
Ltda, conhecida como GT1, empresa terceirizada responsável pelo sistema de
informática do Ipasgo. Ele confirmou a existência de um auditor “fantasma” e desenhou
a forma como o grupo criminoso se organizava.
O
funcionário também confessou que recebia entre R$ 600 e R$ 800 para realizar
alterações indevidas no sistema. Essas alterações eram de vários tipos: o
credenciamento de médicos e empresas para prestar serviço para o Ipasgo, a
inserção de planos de cobertura e a emissão de faturas de serviços supostamente
prestados, isso tudo sem passar pelos critérios exigidos. O valor total das
alterações indevidas ainda não foi calculado, mas chega à casa dos milhões.
Na semana
passada, foram ouvidos na Dercap oito funcionários da GT1, um servidor
concursado do Ipasgo e um faturista, que seria uma espécie de lobista, que
fazia a ponte entre as empresas e o sistema do plano de saúde. Todos
confirmaram saber da existência de algum esquema de corrupção no instituto, mas
nenhum confessou participação nele. Pelo menos seis funcionários fizeram
alterações indevidas diretas no sistema utilizando o auditor “fantasma”,
segundo a apuração.
Meio
Os
investigadores suspeitam que esta fraude no sistema, revelada nesta primeira
fase da Operação Morfina, possibilitou uma série de outras irregularidades
dentro do Ipasgo que ainda serão investigadas. Uma auditoria realizada pela
nova gestão do plano de saúde, desde janeiro, aponta várias suspeitas que
passam por superfaturamento, serviços pagos que não foram prestados e até
usuários irregulares que são atendidos pelo Ipasgo. (Veja o quadro).
“É cedo para
falar em número, mas tem material para diversos inquéritos”, declara o delegado
Rhaniel Almeida, da Dercap, responsável pela investigação. No entanto, Almeida
pondera que muitas destas suspeitas ainda não estão descritas no inquérito e
que ainda serão apuradas. As investigações também foram realizadas pela
Superintendência Estadual de Prevenção e Combate à Corrupção.
A Operação
Morfina foi deflagrada na última segunda-feira. Foram cumpridos quatro mandados
de busca e apreensão, além de oito suspensões do exercício de função pública.
Também foram realizadas seis intimações simultâneas de suspeitos para prestar
depoimento.
Segundo os
investigadores, esta primeira fase foi necessária para “estancar a sangria” e
impedir a continuidade do esquema. Questionado se a publicização da operação
não permitiria que empresas e pessoas envolvidas atrapalhem as investigações, o
delegado Rhaniel Almeida respondeu que não. “Quem fez fraude não tem como
apagar o rastro (do sistema)”, garantiu.
A GT1 tem
argumentado que a responsabilidade de fiscalizar os funcionários cabe ao
Ipasgo.
Fonte: O
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