Contratos de 5,5 milhões da Agetop estão sob suspeita. O relatório aponta irregularidades na construção do aeroporto de Mambaí/GO
A Polícia
Civil investiga uma série de contratos celebrados entre 2011 e 2018 pela
Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), atual Agência Goiana de
Infraestrutura e Transportes (Goinfra). A ação é resultado de um relatório
elaborado por uma força-tarefa da Procuradoria Geral do Estado, que após quatro
meses de análise de documentação apontou suspeitas de fraudes, com pagamentos
indevidos e dano ao tesouro do Estado.
Um
levantamento parcial da análise da PGE, enviado com exclusividade ao POPULAR,
aponta a abertura de 40 sindicâncias e processos disciplinares para apurar a
conduta de servidores da agência e fiscais de obras. Também foram levantadas
suspeitas de fraude em licitação de câmeras de videomonitoramento e
superfaturamento na construção de um aeroporto.
Entre os
principais casos apontados está um contrato de 2018 que previa a instalação de
câmeras de videomonitoramento em três rodovias goianas. Já outra obra mais
antiga, de 2014, levanta suspeita de diversas irregularidades no projeto de
construção do aeroporto do município de Mambaí, na Região Nordeste de Goiás.
Os
documentos foram analisados no começo do ano, após a troca da gestão estadual.
Os processos em relação aos funcionários seguem em andamento e quando
concluídos serão julgados pelo presidente da pasta, Pedro Sales, com aplicação
de penas que podem resultar em multa, suspensão e até demissão, segundo nota da
agência. “Tudo começou no dia 1º de janeiro, na gestão do Ênio (Caiado)e agora
daremos continuidade para apurar as possíveis irregularidades”, afirma o
titular do órgão. Participam também da apuração a Controladoria Geral do Estado
e Polícia Civil.
Um dos cinco
procuradores do Estado que analisaram os contratos, Tomaz Aquino conta que
foram identificadas muitas ações questionáveis. “Verificamos situações em que
os servidores eram pagos antes mesmo da execução da obra”, diz.
Aquino
relata que também foram identificados trechos deteriorados e, por isso, mais de
100 notificações foram expedidas para as empreiteiras responsáveis retornarem
as vias e corrigirem os defeitos. As obras, segundo contrato, possuem garantia
quinquenal, ou seja, de cinco anos. Como o prazo não expirou, as empreiteiras
são obrigadas a corrigir os problemas identificados. “Estão causando prejuízo
aos cofres públicos e à sociedade”, afirma.
No
relatório, segundo ele, é apontado que, no caso dos defeitos não serem
corrigidos, é preciso aplicar medidas contratuais e judiciais cabíveis, como
sanções e ressarcimento aos cofres públicos. Ele exemplifica as praças de
pesagem. “Todas apresentaram defeitos precocemente”, relata o procurador.
Outra ação
em andamento é a abertura de quase 30 processos de Tomada de Contas Especial
(TCE), que são processos administrativos para apuração de dano ao tesouro. Caso
comprovado crime, deverá ser exigido ressarcimento aos cofres públicos de
empresas e pessoas físicas suspeitas de terem causado prejuízo ao Estado.
“Foram encontradas obras executadas em lugares diferentes, outras sem licença
ambiental, ou cobertura contratual”, exemplifica .
A polícia
Civil diz que não irá se manifestar sobre o caso até a conclusão da
investigação. Já o Ministério Público de Goiás, que também recebeu o material
segundo Sales, não soube responder sobre o andamento devido a falta do número
do processo.
O titular da
pasta do governo anterior, Jayme Rincón, questionado em relação aos processos,
nega qualquer envolvimento em fraude durante sua gestão na Agetop. “Estão há
nove meses buscando qualquer tipo de irregularidade e não acharam absolutamente
nada e nem encontrarão”, afirma. Ele acusa por sua vez a Goinfra de lentidão na
execução de projetos em 2019. “Querem mudar o foco, para não repararmos que
trouxeram prejuízo enorme ao Estado com a deterioração da malha viária. Vidas
foram perdidas por isso.”
Já o atual
presidente da Goinfra rebate e diz que o atraso para a execução de obras em
Goiás ocorreu devido ao tempo gasto para apurar quais delas não poderiam ter
continuidade por possíveis irregularidades. Pedro Sales afirma que os cargos
dentro da agência neste ano ficaram vagos mais tempo do que gostariam, mas
destaca que as negociações com fornecedores foram retomadas.
Pregões presenciais sob suspeita
A modalidade
dos pregões para licitação realizados pela antiga Agência Goiana de Transportes
e Obras (Agetop) é um dos questionamentos do relatório da Procuradoria Geral do
Estado (PGE). Os procuradores questionam o fato da antiga administração
realizar a escolha na maioria das vezes pessoalmente, o que na interpretação da
força-tarefa vai contra a lei. Segundo o grupo, para permitir a ampla
participação de interessados e assegurar a obtenção de melhores preços para a
Administração Pública é obrigatória a utilização do pregão eletrônico “sempre
que possível”.
O
ex-presidente da Agetop, Jayme Rincón, no entanto, diz que sempre agiu dessa
forma porque entende ser algo preferencial. “Gosto de ter contato direto com as
empresas, não vejo erro nenhum”.
Para o
Procurador do Estado, Tomaz Aquino, que analisou contratos da pasta, a conduta
que deveria ser exceção se tornou regra, o que levantou suspeita. “Há exceção
apenas em casos raros em que haja uma justificativa robusta, o que não foi o
caso”, afirma.
Ele explica
que fazer a competição das empresas que podem ser responsáveis por uma obra de
forma virtual é fundamental porque abre livre concorrência para todo País. A
escolha da forma presencial, segundo ele, limitou a competição e a participação
das empresas do ramo de instalação de câmeras em três rodovias goianas, no qual
somente duas participaram da licitação onde a Sampa Segurança Eletrônica foi a
ganhadora do contrato no valor de R$ 5,5 milhões. Devido as suspeitas, ele
explica que até hoje o projeto não foi executado.
Em análise
pela Procuradoria Geral do Estado nos contratos licitatórios da extinta Agetop,
o contrato de 2018 previa a instalação de videomonitoramento. São elas a
GO-020, entre o autódromo e entroncamento da GO-147; a GO-070, no km44, entre
Goiânia e saída Inhumas e a GO-080 que liga Goiânia e Nerópolis até a GO- 222.
O relatório
também destaca o caso da construção do aeroporto de Mambaí, há cerca de 500 km
de Goiânia. Entre as irregularidades apontadas está a alteração do local da
obra sem aviso prévio no projeto, pagamento indevidos à empresa contratada e
construção em área de preservação ambiental, sem licença para desmatamento.
O relatório
enviado pela Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) aponta
que existem graves indícios de prejuízo milionário ao Estado. Para solucionar o
caso, foram abertos os processos e enviados para apuração. Todos os casos
seguem sob investigação na Policia Civil.
O
ex-presidente Jayme Rincón, garante que não houve nenhum tipo de crime. “No
caso do aeroporto tínhamos encontrado algumas irregularidades na minha gestão,
mas foi solucionado na época”, afirma. “Um aeroporto é insignificante perto de
tudo que fiz, tornando Goiás a maior malha viária do País.”
Fonte: O
Popular
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