O Governo de
Goiás, através da Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de
Serviços Públicos (AGR), multou a Distribuidora de Energia Enel Goiás em R$
62.115.208,17, a maior multa já aplicada à empresa, em função da prestação
inadequada de serviços aos cidadãos goianos.
De acordo
com a fiscalização realizada pelos técnicos da Agência, a Enel deixa a desejar
quanto à qualidade do atendimento comercial especificamente sobre os temas
alteração de titularidade, atendimento ao consumidor, faturamento de energia
elétrica, devolução de valores por antecipação de obras e cumprimento dos
prazos de pedidos de ligações prestados pela empresa.
O auto de
infração número 0004/2019-AGR/SFE, emitido no último dia 15 de novembro, foi
entregue na tarde de ontem (18/11) à diretoria da Enel Goiás, em Goiânia.
Apenas este ano, a Distribuidora já recebeu duas outras multas, que somadas
totalizam o valor de R$ 13.469.145,34.
A empresa
tem o prazo de 10 dias para recorrer do auto de infração, que será julgado pelo
Conselho da AGR, e em última instância, pela diretoria da Aneel, que, se for o
caso, definirá o prazo final de quitação da multa. Os recursos das multas são revertidos para a
Conta de Desenvolvimento Energético e são aplicados em programas do Governo
Federal, dentro do Sistema Elétrico.
A ação
fiscalizadora da qualidade do atendimento comercial, assim como a ação
fiscalizadora qualidade técnica, em fase de análise de dados para emissão do
relatório de fiscalização, da Enel Goiás foram determinadas pela diretoria da
Aneel após o encerramento antecipado do segundo ciclo do Plano de Resultados da
Distribuidora (2017-2019), que encerraria em agosto de 2019, devido à conclusão
de que o mesmo não alcançaria as metas nele estabelecidas.
Devido a
grave crise na prestação dos serviços pela Enel Goiás e o encerramento precoce
do Plano de Resultados, a Aneel determinou a elaboração de um Plano Emergencial
de Resgate da Qualidade do serviço prestado no Estado de Goiás, que está em
curso, contemplando ações prioritárias para melhoria dos indicadores de
continuidade de Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora
(DEC) e da Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC),
redução do passivo de ligações rurais, redução da demanda reprimida de novos
pedidos de ligação e ações que visem a melhoria do atendimento e a consequente
redução de reclamações dos consumidores da Distribuidora.
Conforme
definido pela Aneel, o Plano Emergencial da Enel passará por duas avaliações,
uma em dezembro de 2019 e a última em agosto de 2020. A análise a ser
realizada, pela Agência Nacional do cumprimento do Plano Emergencial poderá
resultar, em caso de descumprimento dos termos estabelecidos, na instauração de
processos previstos na Resolução Normativa nº 63, de 12 de maio de 2004, que
poderá, em caso extremo, culminar com a perda da concessão.
Este ano, a
Ouvidoria da AGR contabiliza 133.110 contatos de consumidores da Enel Goiás.
Esse número representa 14,48% do total de 919.047 contatos dos consumidores de
energia elétrica no Brasil. Apenas duas distribuidoras de energia já
ultrapassam o número de cem mil reclamações: a Enel São Paulo e a Enel Goiás. A
maioria das queixas dos goianos, registradas na Ouvidoria da AGR e na Aneel,
refere-se a falta de energia (29,41%), devolução de valores por antecipação de
obras (18,76%), variação de consumo/consumo elevado/erro de leitura (11,87%),
ligação (5,47%) e qualidade de serviços (4,42%).
Prazo
O governador
Ronaldo Caiado voltou, mais uma vez, a criticar a qualidade do serviço prestado
pela Enel, que não cumpre o plano de medidas que foi acordado para atender os
consumidores goianos e tem causado prejuízos em todo o Estado por conta da
falta de energia. O governador destacou que vai “enfrentar o problema de
frente”. “Vocês podem ter certeza, nós estamos aqui é para defender o Estado de
Goiás", afirmou. As queixas também partiram de deputados estaduais na
Assembleia Legislativa, que compararam a empresa a um câncer.
O sentimento
de má prestação de serviço da Enel é geral. Até outubro de 2019, o Procon Goiás
registrou aumento de quase 50% no número de reclamações contra a empresa. De
acordo com Caiado, todos estão sofrendo com o problema. “É o produtor rural, o
cidadão urbano, empresas pequenas, de médio e grande porte. Todo mundo está
sofrendo duramente”, lembrou o governador. “A falta de energia é generalizada.
Todo mundo está jogando mercadoria fora”, completou
Por conta
dessa situação, o chefe do Executivo disse que pediu ajuda ao presidente Jair
Bolsonaro, já que o setor elétrico é regulado pela Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel). “Já esgotou todo e qualquer tipo de negociação do Estado com
a Enel. Não tem mais como mantermos essa situação. Eles assinaram um documento
conosco, com a presença do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e do
presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Todos os diretores de alto escalão da
América Latina falando pela empresa e depois nada acontece. O processo agravou
ainda mais do que era”, protestou.
O governador
se refere ao plano de investimento e acordo que foi assinado em agosto deste
ano, em que Enel se comprometeu a ampliar a capacidade da rede e distribuição
de energia. Uma das principais ações da Enel, de curto prazo, previa a
liberação de carga e possibilidade de novas ligações sem a troca de
transformadores. Além disso, o documento estabeleceu a construção e ampliação de
várias subestações de energia por todo o Estado. Mas, até agora o que se vê são
reclamações de todos os lados. A falta de energia em alguns casos ultrapassa o
prazo de uma semana, provocado prejuízo para produtores, consumidores em geral
e empresários.
Um dos danos
que podem ocorrer por conta da inércia da Enel, ressaltou Caiado, é com relação
a vacinação contra a febre aftosa. Isso porque se as doses não forem mantidas
em temperatura ideal, a imunização do rebanho não surte efeito, por conta da
qualidade da vacina. “Veja bem o risco que corremos, a maneira irresponsável
com que a energia elétrica está sendo tratada. Nós vamos enfrentar esse
problema de frente. Vocês podem ter certeza: nós estamos aqui é para defender o
Estado de Goiás”, sublinhou Ronaldo Caiado.
Repercussão
As queixas
da Enel também vêm de representantes na Assembleia Legislativa. O deputado
Amauri Ribeiro disse que produtores rurais de Piracanjuba, Caçu e Palminópolis,
sem energia, estão tendo prejuízos. “Tem gente que chega a ficar 11 dias sem
energia. São perdas diversas na produção de carnes, verduras, leites e outros
produtos apodrecendo. Empresários e produtores rurais querem investir, gerar
emprego e renda, mas não recebem a energia elétrica”, afirmou.
O deputado
Alysson Lima disse que a “Enel é um câncer que tem que ser extirpado de Goiás.
Chegamos ao ponto que não dá mais para conversar”. O parlamentar afirmou que representantes da
Enel tentaram se reunir a portas fechadas na Alego, mas ele não recebeu
ninguém. “A Enel vai perder espaço em Goiás”, prevê.
Humberto
Aidar comparou a atuação da Enel em Goiás como um matrimônio malsucedido. “É um
casamento que já se tentou de tudo, mas não dá certo. Não vejo outro caminho a
não ser a intervenção. Romper esse contrato e buscar outra companhia”, afirmou
o deputado, ressaltando que a empresa não cumpre o contratado e não tem
seriedade.
O
parlamentar Henrique Arantes disse que a Enel cobra taxas abusivas e prejudica
os produtores rurais. Ele também criticou o programa Luz Solidária, da empresa,
que permite aos interessados trocar equipamentos antigos por modelos novos, com
o objetivo de economizar energia elétrica.
“Eles inflacionam o preço do novo, então, no fim, não tem economia
nenhuma. O que a Enel faz é uma fraude com o consumidor goiano, ela vende tudo
pela metade do dobro”, destacou.
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