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Risco de colapso coloca lockdown na pauta em Goiás



Está em discussão entre representantes de órgãos da Saúde pública e privada e do Ministério Público a possibilidade de “fechamento global” por uma semana das atividades econômicas em Goiás como forma de forçar o aumento do índice de isolamento social até o patamar de 50% e evitar, assim, um colapso no sistema de saúde por excesso de internações por Covid-19. Ou isso ou então um sistema de bandeiras e cores similar ao aplicado no Rio Grande do Sul, que separe o Estado por regiões em que cada uma vai ter uma série de regras a seguir de acordo com a evolução da epidemia.

A possibilidade de um lockdown temporário de um sistema de bandeiras foi debatida durante uma reunião na tarde desta sexta-feira (26) envolvendo Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Associação dos Hospitais de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) e do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO).

A velocidade com que tem crescido o número de novas internações em leitos de UTI por Covid-19 tem preocupado as autoridades e diretores de hospitais, tanto na rede pública como particular. Em Goiânia, mesmo com a SMS conseguindo praticamente mais do que dobrar o número de vagas para casos mais críticos, o volume de novos pacientes tem feito com que a taxa de ocupação sempre próximo ou acima de 90%.

Na rede estadual, a situação também preocupa. O Hospital de Campanha (HCamp) de Goiânia tem mantido uma taxa de ocupação acima de 80%, o de Urgências de Trindade (Hutrin) está com os leitos de UTI para Covid-19 lotados desde o começo da semana e o de Urgências de Anápolis (Huana), apesar de mais variações, também tem ficado lotado por longos períodos ao longo da semana. Reportagem publicada pelo POPULAR na quinta-feira (25) já mostrava que a taxa de ocupação das UTIs nas principais cidades com mais casos confirmados da doença também tem aumentado.

O principal motivo para o aumento no número de internações está relacionado, segundo especialistas da área, estudos divulgados pela Universidade Federal de Goiás (UFG), autoridades sanitárias e profissionais da saúde, ao baixo índice de isolamento. Desde o dia 11 de maio, quando o governador Ronaldo Caiado (DEM) sugeriu restringir drasticamente as atividades econômicas tal qual na segunda quinzena de março, esse índice caiu de uma média semanal de 37% para em torno de 35%. Deveria subir para 50% ou mais.

Nos municípios que registram mais casos, a situação é ainda pior, como mostra gráfico nesta reportagem. Até mesmo Rio Verde, que após a confirmação de milhares de casos de contaminação no começo do mês fez uma mobilização bem sucedida para aumentar o isolamento, voltou a ficar com taxas abaixo de 40% nesta semana. Lá, a ocupação dos leitos de UTI subiu de 27,6% para 41,5%.

Conforme a reportagem apurou, as duas propostas foram apenas apresentadas na reunião. Os promotores do MP-GO pressionaram as autoridades para que haja uma resposta rápida por parte do governo estadual, com um plano de ação para evitar que os leitos de UTI lotem e pacientes em estado grave não consigam atendimento. Foram levantadas a possibilidade de o MP-GO providenciar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) ou mesmo uma ação civil pública cobrando providências do poder público.

Procurado, o titular da SES-GO, Ismael Alexandrino, disse que o governo está muito preocupado com a situação dos leitos de UTI, que estão perto de 90% de ocupação, e que existe uma pressão muito forte no sistema de saúde atualmente por causa do aumento da demanda por internações. “Com o número crescente de casos, se o sistema estiver absolutamente saturado, pessoas podem ficar sem a possibilidade de serem internadas, e aí representa desassistência que neste caso pode levar a óbito. Então é uma pressão muito forte que o sistema está sentindo neste momento”, disse.

Questionado sobre a possibilidade de lockdown, Ismael disse que “do ponto de vista estritamente da saúde, sem outras ponderações sociais e econômicas” a SES-GO considera a medida positiva.

Chamando a medida como um “breve fechamento global”, o secretário diz que isso teria impacto para evitar o colapso no sistema previsto para segunda quinzena de julho, já que as ações deste tipo têm reflexo após 15 dias. “Do ponto de vista estritamente da saúde, quanto menos gente fora da rua, melhor é. Isso não mudou. Mas fechar ou deixar de fechar não depende só de aspectos da saúde, mas também de outras pastas e sobretudo dos municípios.”

Na segunda-feira (29), o governador Ronaldo Caiado (DEM) terá uma reunião com prefeitos goianos para discutir a situação da epidemia. Na pauta, a assessoria destacou como principal ponto a busca pelo “equilíbrio do número de casos de coronavírus com a capacidade de atendimento hospitalar”. Na primeira vez que sugeriu voltar com as restrições, o governador não teve apoio. Desde então, o número de casos aumentou 1.800% e o de mortes, 724%.

Controle por meio de bandeiras

Uma das possíveis soluções apresentadas na reunião entre gestores de saúde e Ministério Público Estadual (MP-GO) é a estratégia das bandeiras, modelo de distanciamento social controlado semelhante ao adotado no Rio Grande do Sul, que divide as medidas de restrição por regiões. No caso de Goiás, essa divisão seria entre as 18 regionais de saúde. O modelo prevê quatro estágios de controle, simbolizados por bandeiras de diferentes cores: amarela, laranja, vermelha e preta. As medidas mais flexíveis iniciam na faixa amarela, com graus de restrições que avançam até chegar na bandeira preta.

Segundo o secretário de Estado da Saúde, Ismael Alexandrino, vários seriam os critérios para definir a cor da bandeira de uma região, entre eles casos confirmados de Covid-19, casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag), disponibilidade e taxa de ocupação de leitos. Ao todo seriam 10 indicadores relacionados à velocidade de progressão do contágio pelo novo coronavírus. (Gabriela Lima)

Fiocruz destaca situação de Goiás

Uma nova nota técnica divulgada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) coloca Goiás junto com outros nove Estados em situação mais crítica no momento e afirma que nenhuma região do Brasil apresenta “até o momento” sinais de redução da transmissão de Covid-19. O estudo também alerta para o risco de se adotar medidas de flexibilização do isolamento social em capitais e regiões metropolitanas em um momento no qual o novo coronavírus avança para regiões que são mais dependentes dos grandes centros.

“As medidas de relaxamento do isolamento social nas cidades maiores e nas capitais, sobretudo quando essas cidades apresentam comportamento ascendente das curvas de óbitos, representam um risco para o agravamento do impacto da epidemia, tanto devido ao aumento da possibilidade de difusão de casos para cidades do interior, quanto pela sobrecarga dos serviços de saúde que isso pode provocar nas capitais e cidades de maior porte” destaca a cartógrafa Mônica Magalhães, também participante do projeto, de acordo com nota divulgada pela fundação.

Levantamento feito pelo jornal O Popular que pode ser conferido no gráfico nesta reportagem mostra diversos indicadores de que a Covid-19 segue avançando em Goiás, tanto em número de casos e mortes como de internações, enquanto o isolamento social segue baixo.

Fonte: O Popular

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