O livro de Lucas Pires teve mais de 40 mil downloads na Amazon, apenas nos primeiros meses de lançamento |
Nascido e criado em Morada Nova, bairro da cidade de Campos Belos, no nordeste goiano, Lucas Pires é mais um jovem negro a lutar e vencer as estatísticas. Aos 20 anos, o goiano radicado em Brasília é hoje um dos autores independentes mais vendidos da Amazon com o livro Metafísica dos Clichês: Para Jovens que se Tornaram Adultos Cedo Demais, além de dar voz às minorias em palestras já assistidas por mais de 12 mil pessoas.
Filho de pai
mecânico e mãe merendeira, e caçula de sete irmãos, o autor conta em seu texto
como conseguiu driblar as dificuldades de uma infância sem privilégios,
ingressar no curso de Direito em uma conceituada universidade do Centro-Oeste,
o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), até o
primeiro emprego no Palácio do Itamaraty. “Se eu consegui, por que não deixar
um rastro, um passo-a-passo, para que as outras pessoas que, assim como eu,
estavam perdidas e desacreditadas, consigam também?”, diz Lucas sobre a
motivação para escrever o livro.
A obra
aborda as injustiças sociais que se impõem a Lucas e seus antepassados no
Brasil há mais de 500 anos, como a falta de acesso à educação de qualidade,
assistência às minorias e desestrutura familiar.
Os temas
podem ser complexos para quem tem tão pouca idade, mas não para quem sente na
pele o peso da discriminação e, mesmo assim, venceu um a um cada obstáculo.
De Dona
Nelcilia a Fernando Pessoa
Lucas Pires
lembra que o gosto pela leitura lhe acompanha desde a infância. Aprendeu a ler
com 3 anos e, aos 5, foi o orador da turma do primário. A maior incentivadora
foi a avó Dona Nelcilia. Semianalfabeta, todas as tardes, a matriarca pedia ao
neto para ler o Jornal dos Vicentinos para ela.
“Era engraçado
porque nas duas últimas páginas deste jornal sempre havia uma poesia e uma
anedota. Minha avó pedia para eu pular a poesia e ir direto para a anedota, mas
meus olhos sempre corriam primeiro pela poesia”, conta. E, numa dessas passadas
de olhos, conheceu os versos de Fernando Pessoa que, segundo ele, se tornariam
o mantra de sua vida. “Não sou nada/ Não posso querer ser nada/ Nunca serei
nada/ A parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”.
Quando fez
18 anos, Lucas Pires veio a Brasília, sozinho, pela primeira vez, para prestar
vestibular no IDP, e passou. Sem dinheiro para custear os estudos, precisou
buscar auxílio no Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES)
e conseguiu. Assim, despediu-se da família e veio ao DF lutar por uma vida
melhor.
O escritor
ressalta as dores de ser um dos poucos estudantes pretos do curso. “É
desconfortável, não me sinto representado. Somos poucos no ambiente acadêmico,
mas a maioria entre os bolsistas. Também temos mais dificuldades para arrumar
estágio. Só somos procurados no mês da Consciência Negra para mostrarem que há
diversidade. Exibir o negro na vitrine está na moda, mas eles não nos têm em
estoque”, considera.
Oportunidade
Escrever o
livro, de forma totalmente independente e sem grandes pretensões, fez com que
Lucas se surpreendesse com a repercussão. “Não há editora por trás do
marketing, da diagramação… eu simplesmente meti a cara, sem entender dos
desafios do mercado literário brasileiro”, salienta. O sucesso e visibilidade
advindos da publicação abriram portas. “As oportunidades foram surgindo
naturalmente, me deu lugar e espaço de fala. Querendo ou não, minha história é
inspiradora e abrange campos diversos como superação, perseverança e
empreendedorismo”, explica Lucas.
Desde que
lançou Metafísica dos Clichês, Lucas Pires já esteve presente em eventos
importantes como a Feira do Estudante e o Congresso Nacional da Juventude,
ambos em Brasília. Também falou para todo o estado de Goiás no evento on-line,
além de inúmeras visitas em escolas públicas do ensino médio do DF e Paraíba.
“Tento passar que tudo bem ter dificuldades, não conseguir enxergar os caminhos
e desistir às vezes. Mas o que você faz a partir disso? É sobre tomar uma
rasteira, se levantar e bater de volta, correr, pular, voar…Fazer diferente”,
sugere.
Lucas Pires
ensina os jovens do novo milênio que, independente da cor e classe social, é um
direito de todos sonhar grande e voar alto:
“A minha
meta pessoal é ser eleito pela Forbes um dos jovens que podem mudar o mundo
antes dos trinta anos, também quero publicar a versão física do meu livro pela
Harper Collins, uma das maiores editoras do mundo com um grande com mais poder
de impacto. Além disso, estou trabalhando muito duro para sentir os palcos do
TEDx e viajar o Brasil e o mundo falando sobre as soluções para problemas tão
presentes. Em resumo, estou caminhando para ser o Lucas Pires dos meus sonhos”,
conclui.
Fonte: Metrópoles
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