Por Marcos Cipriano,
O que
esperar de um povo que não se comove, que se torna totalmente indiferente, com
uma montanha diária de 1.200 mortes? Uma sociedade que perdeu a capacidade para
olhar para as camadas mais humildes da população, as minorias, com sentimento
de solidariedade, empatia, e, acima de tudo, fraternidade.
Todos os
dias estamos perdendo quase dez Boeings 737-200 de brasileiros, numa
carnificina sem precedentes em nossa história.
A pergunta
é: quando vamos nos indignar? Pelo jeito, nunca. Já se passaram cem dias de uma
pandemia que, acima de tudo, evidenciou a falência no projeto de se construir
uma nação justa, solidária, equilibrada, ambientalmente sustentável e fraterna.
Assim que
este artigo for publicado, vão aparecer dondocas, conservadores de plantão,
negacionistas, a dizer que isso é coisa de comunista, de esquerdista, de
pessimista, derrotista e tudo quanto é ista.
No momento
em que paro para refletir sobre o mundo que estamos construindo, muitas vidas
foram ceifadas pela Covid-19 e vão ser apenas para a estatística da nossa
indiferença.
Perdemos a
capacidade de valorizar a vida. Estamos muito mais dispostos a falar asneiras,
do que ouvir verdades. Enquanto isso, religiosamente, nos restou apenas o
direito de contar friamente nossos mortos.
Muitos deles
eram corpos insepultos, porque tinham morrido muito antes da chegada da peste,
morrido para o estado, morrido para os poderosos, morrido para o vizinho.
Como diria
Carlos Drummond de Andrade, “Eta vida besta, meu Deus!”
Marcos Cipriano é jornalista e advogado
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