O governo de
Goiás pavimenta o trecho de uma estrada, a um custo de R$ 65,8 milhões, que
corta uma fazenda de propriedade do vice-governador do estado, José Eliton
(PSDB), pré-candidato a governador em 2018. O trecho das obras tem quase 30
quilômetros, dos quais "de 2 a 3 quilômetros" passam no meio e ao
lado da propriedade rural, segundo o próprio vice-governador.
O Ministério
Público (MP) de Goiás instaurou um inquérito civil público para investigar a
obra e um suposto benefício ao vice de Marconi Perillo (PSDB). Em recomendação
expedida nesta quinta-feira, o MP pediu a imediata suspensão do convênio que garante
o asfaltamento da rodovia, por entender que "resta clara a inexistência de
melhoria direta no acesso ao Parque Estadual de Terra Ronca". O acesso ao
parque é o objeto inicial do convênio, o que, na visão do MP, não está
contemplado na execução das obras.
O convênio
entrou em vigor nos últimos dias de 2016. O objetivo é a "terraplanagem,
pavimentação asfáltica, drenagem, obras de arte complementares, correntes e
especiais, ponte em concreto armado e sinalização na GO-453, trecho
Posse/Guarani", como consta na descrição do contrato. A parceria é entre a
Secretaria de Desenvolvimento Econômico e a Companhia de Desenvolvimento
Econômico de Goiás (Codego).
A estrada
passa pela cidade de Posse, pelo povoado de Marmelada, pelo município de
Iaciara, povoado de Claretiana e, então, cidade de Guarani. A fazenda de José
Eliton está entre Marmelada e Claretiana. Tem 230 alqueires, segundo o
vice-governador, e as terras são usadas na produção pecuária. Ele reconhece que
o asfaltamento da estrada que corta sua fazenda vai beneficiar a produção de
gado na área.
O objetivo
também é econômico, para a agropecuária. Mas o foco central é no turismo –
disse o vice-governador de Goiás.
"Embora
a placa informativa da obra faça menção expressa ao termo 'GO-453 Estrada
Parque Terra Ronca', o asfaltamento não alcançará diretamente o parque, que
possui como forma de acesso a já asfaltada rodovia GO-108", afirma o
promotor de Justiça Fernando Krebs na recomendação de suspensão do convênio. O
acesso à área turística de Terra Ronca exige percorrer ainda 40 quilômetros de
estrada de chão, segundo o promotor.
O MP
sustentou ainda que a pavimentação da rodovia não é urgente e beneficia
"diretamente" a fazenda de José Eliton. O promotor afirmou que o
inquérito aberto permitirá uma "investigação minuciosa dos fatos",
para saber se o vice-governador cometeu ato de improbidade administrativa.
O
vice-governador diz que a estrada é um projeto que surgiu ainda na década de
70, que na década de 80 já foram instaladas pontes de concreto e que só comprou
a fazenda em 2008. O projeto executivo de pavimentação, no entanto, foi
concluído em 2016, segundo ele. A licitação e o convênio saíram no mesmo ano.
Comprei a fazenda antes de ser político. Essa
discussão é surreal – afirma José Eliton.
Segundo o
tucano, o governo constrói 300 quilômetros de rodovias no nordeste goiano,
região onde está a estrada que corta sua fazenda. Esta rodovia passa pelo
Portal do Vale do Paranã e chega ao Portal do Parque de Terra Ronca, ambos
bastante turísticos, conforme o vice de Perillo.
A
pavimentação da estrada atende a população da região, incrementa o turismo. Não
fui eu que autorizei a fazer. Isso faz parte de um planejamento do governo para
região. São mais de 70 quilômetros. Este é o primeiro trecho. Depois, os outros
40 quilômetros terminam na gruta de Terra Ronca. São milhares de pessoas
beneficiadas. Os prefeitos da região pedem por essa rodovia. O fato de eu ter
uma propriedade rural deveria impedir a pavimentação? – questiona o
vice-governador.
A segunda
etapa da pavimentação consiste em quase 40 quilômetros entre Guarani e o
parque. A licitação está prevista para janeiro de 2018 e a conclusão da obra,
para novembro do mesmo ano.
Fonte: O
Globo
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