É consenso
que estamos vivendo um dos períodos de mais intensa polarização política na
história recente do Brasil e do mundo: movimentos extremos ganham voz e
mobilizam seguidores em diversos países.
A política
como instrumento de busca e formação de um ponto de equilíbrio, onde os
diversos grupos sociais se sintam representados e não haja um sentimento de
derrota de alguns, parece ter perdido força.
Assistimos o
desentranhamento de um novo uso para a política: uma ferramenta para impor um
lado através da destruição das ideias do oponente. Deixa-se de ter adversários
e passa-se a ter inimigos.
Essa visão
da política como terreno de confronto parte do pressuposto que é possível uma
vitória total, como se fosse possível "aniquilar" o oponente e
implanta apenas um lado da agenda. A realidade é que não existe força política
no Brasil capaz de tal façanha e na democracia as vitórias são sempre parciais.
Ainda bem que é assim.
Nesse
contexto, um dos pontos de maior debate é o papel das redes sociais, em seus
vários formatos, no engajamento cívico e político dos cidadãos. A primeira
questão que se coloca é a dúvida quanto aos pesos dos aspectos negativos e positivos
que a nova tecnologia impulsiona: em que medida essas novas ferramentas estão
criando um distanciamento e fricção entre os cidadãos e seus representantes e a
política, ao exigir um comportamento "purista" e sem concessões dos
mesmos.
A outra hipótese
seria a proximidade que a tecnologia permite emular gerar um fortalecimento do
exercício da cidadania e, gerar dessa forma, uma aproximação entre o cidadão e
as instituições que os representam. Essa aproximação pode permitir a melhor
compreensão da dimensão dos desafios que precisam ser enfrentados e as escolhas
associados a eles.
Os que
acreditam na política como uma ferramenta de formação de um "terreno do
entendimento" têm a responsabilidade e obrigação de trabalhar para que as
tecnologias sejam um instrumento que também aproxime e engaje o cidadão com os
seus representantes, que ajude no entendimento de que compromissos e concessões
precisam ser firmados para que o processo político avance objetivamente para
impactar nossas vidas.
Não
significa que iniciativas que buscam influenciar e legitimamente pressionar
para atender a sua agenda não sejam importantes, mas precisamos cuidar para que
o espaço da tecnologia não seja preenchido apenas com essa narrativa de
confrontamento, que de certa forma impede o exercício da busca dos consensos
necessários ao mínimo funcionamento das instituições.
Se cairmos
na tentação do uso da tecnologia apenas como ferramenta de "marcação"
de posições estaremos matando esse espaço da construção do consenso e vamos
regredir para a era das pelejas tribais só que na velocidade digital.
Por Paulo
Dalla Nora, ele é cofundador do Poder do Voto, aplicativo que tem como objetivo
proporcionar ao eleitor brasileiro maior clareza da representação política e
auxiliar na construção do debate político saudável e do acompanhamento voto a
voto dos parlamentares.
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