Duas frases
ditas no fim do ano passado, em entrevista ao jornal produzido por alunos da
Escola Municipal do povoado de São Jorge, revelam o modo como Claro Alves
Machado levava a vida: "Aqui nada me deixa triste, só me dá
felicidade". "Nunca tive inimigo. Nunca briguei com ninguém".
Por meio das
afirmações também fica fácil saber por que o comerciante tornou-se uma das
figuras mais conhecidas e queridas da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e dá
para ter uma dimensão da falta que ele fará.
Seu Claro
morreu na madrugada desta quinta-feira (1º/3), aos 90 anos, no Hospital
Regional da Asa Norte (Hran), após sofrer um acidente com o carro na garagem de
casa, na última semana, em São Jorge.
A notícia
foi recebida com surpresa e enorme pesar por todos que conheciam o comerciante.
"Era uma pessoa muito querida por moradores e turistas. Um ícone da
Chapada, que deixará um legado de conhecimento, história e perseverança",
define João Lino, gerente de Projetos e Produtos Turísticos da Agência Estadual
de Turismo, a Goiás Turismo.
Nascido em
16 de janeiro de 1928, em uma região que hoje pertence ao município de Mambaí
(GO), Seu Claro rodou por algumas cidades mineiras e goianas antes de fixar
residência em São Jorge, em 1952, atraído pela oportunidade de trabalhar em um
garimpo de cristais. "Seu Claro contribuiu com tudo. Ajudou a fazer a
escola e a igreja do povoado, nas décadas de 60 e 70. Ele também foi um 'Banco
Central' quando o garimpo acabou. Como ninguém tinha dinheiro, ele aceitava
trocar lasca de cristal por comida e outros mantimentos", lembra Paulo
José, gestor de Patrimônio Cultural e amigo de claro desde 1987.
Com o fim do
garimpo, em meados da década de 80, Seu Claro abriu a mercearia pela qual
ficaria conhecido o resto da vida. Sempre rodeada de clientes, a loja era
famosa pelo Gergeliko, um biscoito feito com gergelim e água, que conseguia ser
nutritivo e barato. "Ele era muito brincalhão e estava sempre de bom
humor. Ficava deitado em uma rede dentro do armazém. Era bacana chegar lá e ter
que tirar o Seu Claro da rede. Mas ele sempre levantava com a maior boa
vontade. Queria vender e bater papo", afirma o guia turístico Rafael
Teixeira.
Todos que
conviveram com Seu Claro falaram do seu jeito divertido, da boa convivência e,
acima de tudo, do conhecimento histórico que o comerciante possuía sobre a
Chapada. A certeza é de que Seu Claro se foi e levou com ele um pedaço de São
Jorge.
Fonte:
Correio Web
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