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Atropelamento da fauna silvestre ameaça biodiversidade na Chapada dos Veadeiros



Ao percorrer os 160 quilômetros da BR-010, entre a saída do Distrito Federal e a cidade de Alto Paraíso de Goiás, uma das principais portas de entrada para quem visita a Chapada dos Veadeiros, é comum avistar animais silvestres atropelados nos acostamentos da rodovia.

A paisagem fragmentada do entorno da rodovia, que cruza zonas urbanas, de pasto e plantações - principalmente de soja - não impedem que os atropelamentos sejam tão e até mais comuns nestes trechos quanto são no trecho da estrada que cruza as paisagens de Cerrado protegidas pelo Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO).

Ao longo de um ano (de maio de 2017 a abril de 2018), o biólogo Leonardo Fraga, da Universidade de Brasília (UnB), se dedicou a monitorar mensalmente um trecho de 34 quilômetros da BR-010 entre a entrada da Área de Proteção Ambiental (APA) de Pouso Alto e o início do perímetro urbano de Alto Paraíso de Goiás, um setor bem antropizado da rodovia. Apesar da forte presença humana nas margens da estrada, o biólogo registrou 172 animais atropelados. “A taxa indica que, todos os anos, somente nos 34 quilômetros monitorados da BR-010, quase 1.400 animais silvestres perdem a vida”, detalha Leonardo.

“Esses dados demonstram a importância da adoção de medidas protetivas para a fauna silvestre em todos os trechos de rodovias presentes na APA Pouso Alto e não somente naqueles localizados às margens do parque nacional”, pontua o pesquisador. De acordo com o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), estima-se que até 475 milhões de animais selvagens são atropelados anualmente no Brasil.

As principais espécies registradas durante o levantamento na Chapada foram o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), o tiziu (Volatinia jacarina) e o sapo-cururu (Rhinella schneideri). Também foram encontrados mamíferos ameaçados de extinção como a raposa-do-campo (Lycalopex vetulus) e o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Apesar dos animais de grande porte serem os que mais chamam atenção nos acostamentos, os pequenos vertebrados são as maiores vítimas do tráfego nas rodovias. Dos animais encontrados durante o estudo, 76 eram aves, 40 anfíbios, 38 mamíferos e 18 répteis.

O pesquisador destaca que, pelo fato da Chapada dos Veadeiros ser um Hotspot da Biodiversidade Mundial, seria possível adotar limites de velocidade menores e fiscalização eletrônica nas estradas da região. “Também seria importante identificar pontos específicos para instalação de passagens de fauna aéreas e subterrâneas para travessia dos animais ao longo da rodovia”, acrescenta.

Segundo o biólogo, a ideia da pesquisa foi inventariar a fauna silvestre atropelada para identificar pontos com maior incidência de atropelamentos “e também para pesquisar sobre o comportamento da fauna em ambientes degradados do entorno da rodovia. Pesquisas em trechos de rodovias mais distantes de unidades de conservação podem ampliar o conhecimento sobre a dispersão da fauna silvestre e sobre as relações estabelecidas pelos animais com áreas antropizadas. Isso é importante para conseguirmos elaborar estratégias mais assertivas para a conservação da fauna, a partir de paisagens protegidas mas, também, de paisagens antrópicas e fragmentadas”, explica o pesquisador.

Está em tramitação na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 466/2015, proposto pelo Deputado Federal Ricardo Izar, que dispõe sobre “a adoção de medidas que assegurem a circulação segura de animais silvestres no território nacional, com a redução de acidentes envolvendo pessoas e animais nas estradas, rodovias e ferrovias brasileiras”. Leonardo acredita que a lei é um avanço por destacar a problemática da fauna silvestre atropelada no país e propor medidas de segurança para pessoas e animais nas estradas. “A principal inovação do PL 466/2015 é a previsão de um Cadastro Nacional Público contendo informações sobre acidentes com animais silvestres, localização de passagens de fauna e  pesquisas sobre atropelamentos”, complementa.

Atualmente, um grupo formado por professores, alunos e servidores da UnB e da UnB Cerrado, além de analistas do ICMBio e moradores de Alto Paraíso de Goiás faz o monitoramento da fauna silvestre na região da Chapada dos Veadeiros e nas vias de acesso para Chapada. Em 2018, o grupo registrou o atropelamento de mamíferos como onça-parda (Puma concolor), lobo-guará, raposa-do-campo e tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla).

Fonte: oeco.org

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